Antidepressivo engorda ou emagrece?

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Apesar do reconhecimento de que o tratamento medicamentoso da depressão seja importante e necessário, muitas pessoas têm medo de engordar por causa do antidepressivo, e tem dúvidas se o antidepressivo engorda ou se, por outro lado, pode provocar a perda de peso. 

Os antidepressivos são um tipo de medicamento utilizado para tratar  transtornos depressivos, além de outras condições de saúde, como transtornos de ansiedade, transtornos alimentares, dores crônicas, como fibromialgia e enxaqueca, e distúrbios do sono. 

Não é tão simples estabelecer uma relação direta do aumento de peso com o uso de antidepressivos. De fato, o ganho e, às vezes, a perda de peso ocorre após o tratamento. Mas evidências apontam que esses efeitos são mais influenciados pelo tempo de uso e dosagem do medicamento, do que unicamente pelo fármaco. 

Então, essa preocupação é válida e compreensível, uma vez que a depressão e os outros transtornos mencionados são condições crônicas de saúde, o que implica em tratamento prolongado e, algumas vezes, por toda a vida. 

Veja por que o uso de antidepressivo pode engordar ou emagrecer e o que fazer nessas situações. 

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Por que o antidepressivo pode engordar?

Antidepressivo
Alguns efeitos colaterais dos antidepressivos remetem a mudanças no peso

É possível afirmar que o antidepressivo engorda devido a um dos efeitos colaterais que o medicamento pode causar, que é o aumento do apetite. 

Este efeito pode ocorrer, porque alguns antidepressivos diminuem o neurotransmissor dopamina no hipotálamo, o que aumenta o apetite. Em condições normais, quando não há ação do medicamento, a dopamina participa do controle da fome. 

Outro possível efeito dos antidepressivos é a diminuição da estimulação do receptor de serotonina, que tem a função de regular o humor, a ansiedade, a fome e a libido. 

Um estudo realizado por meio da coleta de dados de aproximadamente 20 mil pacientes adultos sob tratamento com antidepressivos durante um ano, oriundos de um sistema de saúde da região de Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, constatou o aumento de peso influenciado por determinados tipos de antidepressivos, que modificam a forma de ação de neurotransmissores e receptores.  

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Citalopram

Os pesquisadores descobriram que os pacientes tratados com um medicamento chamado citalopram (Celexa), que é conhecido como um Inibidor Seletivo de Recaptação de Serotonina (ISRS), aumentaram o seu peso em mais de 1,2 kg.

Fluoxetina e sertralina

Por sua vez, os usuários do remédio fluoxetina (Prozac), que também funciona como um ISRS, engordaram aproximadamente 700 gramas, e aqueles que foram tratados com sertralina (Zoloft) aumentaram seu peso em cerca de 1 kg.

É fato que a prevalência de obesidade entre pessoas com transtornos psiquiátricos e que fazem tratamento medicamentoso com antidepressivos é 2 a 5 vezes maior do que na população geral. 

Uma outra forma pela qual os antidepressivos podem levar ao ganho de peso é pela diminuição da estimulação do receptor histaminérgico, que deixa a pessoa mais insensível à ação da leptina

Ela é um hormônio que regula a ingestão alimentar, provocando saciedade, e aumenta o gasto energético, ou seja, a queima de calorias. Com essa ação inibida, a pessoa sente mais fome e gasta menos calorias em repouso, o que a faz ganhar peso. 

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Por fim, o que os psiquiatras geralmente observam em suas práticas clínicas é que os antidepressivos serotoninérgicos (ISRS) provocam um emagrecimento inicial, causado pela diminuição do apetite no início do tratamento, mas após 6 semanas, se observa o oposto, ou seja, o ganho de peso, referente à fase de manutenção do tratamento. 

Agora, os antidepressivos tricíclicos parecem promover o aumento de peso desde a fase inicial do tratamento. 

Vale ressaltar que o ganho de peso também pode ser um efeito da melhora do estado depressivo da pessoa, que geralmente ocasiona a falta de apetite. Quando a pessoa tem uma melhora do seu estado de humor, pode voltar a se alimentar normalmente e, por isso, ganha peso. Nesse caso, não se trata de um efeito colateral do medicamento. 

O que fazer frente ao aumento de peso

Você sabe que tem problemas com depressão, procurou tratamento e está tomando o remédio prescrito pelo seu médico ou médica psiquiatra, mas percebeu que engordou após o tratamento. O que fazer? 

O primeiro passo é relatar à/ao psiquiatra sobre o aumento de peso e perguntar se existe alguma forma de contornar esse efeito do medicamento, por exemplo, com ajuste da dose ou mesmo a troca por algum outro fármaco, que tenha outro modo de ação no organismo.

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Apesar do peso corporal ser uma questão importante, não abandone o tratamento por causa deste efeito, sem antes conversar com seu médico ou médica sobre as alternativas. 

Muitas vezes, falta uma orientação adequada antes do tratamento, que inclui a conscientização de que o cuidado com a alimentação e a prática de exercícios físicos são partes fundamentais do tratamento, não só para a manutenção da boa forma, mas também para o alívio dos sintomas depressivos. 

Tenha em mente que cada corpo reage de uma forma ao tratamento, e a observação dos sintomas e possíveis efeitos colaterais fazem parte do processo de ajuste do tratamento, para que ele seja o mais específico possível para a sua necessidade. 

Caso sinta alguma insegurança em relação a/ao profissional que estiver te acompanhando, não há nada de errado em buscar uma segunda opinião confiável e tirar todas as dúvidas que eventualmente você possa ter. 

Só não interrompa o tratamento sem o devido acompanhamento médico, pois isso pode causar sintomas de abstinência e piora dos sintomas de ansiedade. É fundamental que haja um processo de desmame do medicamento acompanhado por um/uma psiquiatra.

Evite a automedicação

Também não tome remédios por conta própria com o objetivo de inibir o efeito de ganho de peso do antidepressivo. Quem não tem conhecimento de medicina, provavelmente não sabe escolher um remédio apropriado e nem verificar que prejuízos ele pode causar ao organismo. 

Se insistir nessa prática, em vez de solucionar um problema, você poderá acabar ganhando outro, pois alguns medicamentos para emagrecer agem no sistema nervoso, atrapalhando a ação do antidepressivo.

O poder da alimentação e dos exercícios físicos

O que está ao seu alcance e não trará malefícios à saúde é manter uma alimentação equilibrada, evitando alimentos calóricos e pouco, ou nada, nutritivos, como as guloseimas e comidas congeladas, dando preferência para os alimentos densos em nutrientes, como as carnes, os vegetais, os lacticínios e os cereais. 

Por último, mas de maneira alguma menos importante, tente praticar algum tipo de exercício físico. Além de fazer bem para a saúde, movimentar o corpo em atividades físicas ajuda a liberar a endorfina, uma substância produzida no cérebro, cuja função é inibir o estresse e promover a sensação de bem-estar. Uma partida de futebol ou vôlei com os vizinhos ou até uma caminhada podem ser suficientes para contribuir nesse sentido.

Algum antidepressivo emagrece?

Um dos possíveis efeitos colaterais do antidepressivo é o ganho de peso, mas existem alguns deles que podem causar justamente o contrário: o emagrecimento.

O antidepressivo Wellbutrin (bupropiona) é um antidepressivo de nova geração que pode provocar o emagrecimento em algumas pessoas, embora seja um efeito colateral incomum, de acordo com a bula do medicamento. 

Como a bupropiona aumenta a quantidade de dopamina e de noradrenalina no cérebro, a pessoa em tratamento apresenta uma maior sensação de bem-estar e recompensa, sem precisar recorrer a alimentos doces e calóricos, que promovem essa sensação. 

Dessa forma, o antidepressivo ajuda a pessoa a controlar melhor seus impulsos e a sentir menos fome, por conta da ação da noradrenalina. 

O mesmo estudo que constatou o efeito de aumento de peso nos antidepressivos citalopram, fluoxetina e sertralina, identificou que os pacientes de depressão tratados com o wellbutrin perderam aproximadamente um quilo após o uso do medicamento.

  • Veja os artigos que abordam a questão do peso corporal associada ao uso de fluoxetina e sertralina

É importante mencionar que o uso de antidepressivos para emagrecer não é recomendado. Se você tiver problemas com obesidade e precisar de medicamentos para emagrecer, seu médico ou médica provavelmente prescreverá outros medicamentos mais eficientes para esse fim, como a sibutramina ou o orlistat

Para a maioria dos casos, é possível emagrecer com saúde e sem medicamentos, controlando a alimentação e praticando atividade física. Caso você perceba sinais de compulsão alimentar, procure ajuda médica e psicológica, pois o tratamento pode demandar mais do que mudanças de hábitos, mas acompanhamento psicológico e tratamento medicamentoso. 

Outros possíveis efeitos colaterais dos antidepressivos

Antidepressivo
Fora mudanças no peso, existem outros efeitos colaterais destes medicamentos

Além da possível influência dos antidepressivos sobre o peso corporal, eles podem causar outros efeitos colaterais, como:

  • Náuseas
  • Fadiga
  • Sonolência
  • Insônia
  • Constipação
  • Boca seca
  • Visão borrada
  • Irritabilidade
  • Ansiedade
  • Agitação
  • Vertigem

Os antidepressivos também podem causar prejuízos à vida sexual do/da paciente, como a perda do desejo sexual (libido), disfunção erétil e diminuição do orgasmo.

Fontes e referências adicionais
  • Gafoor R, et al. Antidepressant utilisation and incidence of weight gain during 10 years’ follow-up: Population based cohort study. BMJ. 2018;361:k1951.
  • Hirsch M, et al. Selective serotonin reuptake inhibitors: Pharmacology, administration, and side effects.
  • Simon G. Unipolar major depression in adults: Choosing initial treatment.
  • Tarleton EK, et al. Primer for nutritionists: Managing the side effects of antidepressants. Clinical Nutrition ESPEN. 2016;15:126.
  • Preventing weight gain. Centers for Disease Control and Prevention.
  • Hall-Flavin DK (expert opinion). Mayo Clinic, Rochester, Minn. Oct. 22, 2018.
  • Lee SH, et al. Is increased antidepressant exposure a contributory factor to the obesity pandemic? Translational Psychiatry. 2016;6:e759.
  • Carvalho AF, et al. The safety, tolerability and risks associated with the use of newer generation antidepressant drugs: A critical review of the literature. Psychotherapy and Psychosomatics. 2016;85:270.
  • Himmerich H, et al. Weight gain and metabolic changes during treatment with antipsychotics and antidepressants. Endocrine, Metabolic and Immune Disorders — Drug Targets. 2015;15:252.
  • Arterburn D, et al. Long-term weight change after initiating second-generation antidepressants. Journal of Clinical Medicine. 2016;5:48.
  • Krieger CA (expert opinion). Mayo Clinic, Rochester, Minn. Oct. 17, 2018.

Você está em tratamento com algum antidepressivo? Qual medicamento seu médico ou médica receitou para você? Este antidepressivo influenciou em seu peso de alguma forma? Comente abaixo.

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Sobre Dra. Akemi Martins

Dra. Akemi Martins Higa é bióloga, formada pela Universidade Federal de São Carlos em 2011. Doutora na área de Medicina Tropical e Saúde Internacional, com ênfase em doenças neurodegenerativas, pela Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de nanotecnologia e imunologia aplicada ao diagnóstico de neuromielite óptica e esclerose múltipla. Para mais informações, entre em contato.

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2 comentários em “Antidepressivo engorda ou emagrece?”

  1. Estou usando citalopram a dois meses e emagreci muito. Eu tinha problema para perder peso mesmo com dieta e academia. Uso citalopram para tratar a ansiedade, estou amando.

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  2. Eu tomo a trinta dias o antidepressivo Citalopran HBR 10MG. Eu ao contrario de muitos perdi o apetite não sinto falta de comida ficando as vezes mais de 12 horas sem comer bebendo somente água ou chá de rosemary. Tomo Amlodipine para presão Pois devido o estado emocional afetou minha pressão. Recebi mensagem do meu médico se eu tiver . Secura na boca , sono, ardência no estômago e dificuldade de urinar e devido ao antidepressivo e recomenda que eu pare imediato e comuníqueme com ele . Cada organismo e único !

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