Os alimentos ultraprocessados estão associados ao surgimento de muitos problemas de saúde, como doenças cardíacas e diabetes. Agora, um novo estudo publicado na revista científica Neurology faz uma ligação entre os produtos com os sintomas iniciais de Parkinson – condição neurodegenerativa progressiva e incurável marcada por tremores, rigidez muscular, entre outros sintomas.
Esse tipo de alimento – como embutidos, biscoitos e refrigerantes, por exemplo – passa por diferentes processos industriais e são ricos em aditivos químicos para torná-los mais duráveis e palatáveis. Nessa nova pesquisa, cientistas dos Estados Unidos e da China concluíram que pessoas que consumiam muitos alimentos ultraprocessados tinham maior probabilidade de desenvolver os primeiros sinais de Parkinson do que os que consumiam menos.
A descoberta é uma associação, ou seja, ainda não prova que os alimentos ultraprocessados causem a doença de Parkinson em si. No entanto, ainda assim, estudos como esse são fundamentais para encontrar ligações importantes entre o que comemos e o risco de doenças neurológicas, de acordo com Silke Appel Cresswell, neurologista do Centro de Pesquisa para Parkinson Pacific, da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, que não participou do estudo. Ainda não se sabe como os alimentos que colocamos no prato podem afetar na saúde do cérebro. “É por aí que precisamos começar”, destaca.
Para o estudo, os pesquisadores investigaram se havia uma associação entre o consumo desses alimentos e o desenvolvimento dos primeiros sintomas da doença de Parkinson. Essas manifestações incluíam constipação, encenar fisicamente os sonhos durante o sono, redução da capacidade de sentir cheiros, dificuldades de distinguir cores, depressão e sonolência diurna.
Foram analisados dados de questionários sobre dieta de quase 43 mil profissionais de saúde nos Estados Unidos, de meados da década de 1980 a meados da década de 2000. A cada dois ou quatro anos, os participantes – em sua maioria brancos – respondiam sobre os tipos e as quantidades de alimentos que normalmente consumiam. A partir de 2012, eles também relataram seus sintomas.
Os responsáveis pelo trabalho descobriram que os que mais consumiam alimentos ultraprocessados tinham aproximadamente 2,5 vezes mais probabilidade de apesentar pelo menos três sintomas iniciais da doença de Parkinson comparados com aqueles que consumiam menos.
Se uma pessoa começa a apresentar esses sintomas, não significa necessariamente que ela desenvolverá a doença, mas pode sinalizar alterações cerebrais que levem a um diagnóstico anos mais tarde, segundo Alberto Ascherio, professor de Epidemiologia e Nutrição da Harvard Escola de Saúde Pública T.H. Chan, da Universidade de Harvard, e um dos autores do estudo.
Em uma pesquisa anterior, Ascherio e seus colegas descobriram que homens mais velhos que apresentavam três desses sintomas iniciais de Parkinson – constipação, encenação de sonhos e redução da capacidade de sentir cheiros – tinham 23 vezes mais probabilidade de serem diagnosticados com a doença três anos depois.
Cresswell diz que o estudo é sólido devido ao seu tamanho, duração e uso de dados detalhados sobre a dieta coletados durante décadas. É importante investigar os primeiros sinais da doença de Parkinson, para ajudar a entender como as mudanças no estilo de vida podem retardar ou até mesmo prevenir a doença. Mesmo assim, o estudo tem algumas limitações.
A especialista também afirma que gostaria de ver dados sobre o consumo de alimentos ultraprocessados e diagnósticos reais da doença de Parkinson. Ascherio diz que ele e seus colegas estão investigando isso atualmente.
Appel também analisa que os dados da dieta, embora detalhados, foram relatados pelos próprios participantes, ou seja, podem não refletir exatamente o que e o quanto eles comeram. Ademais, outros fatores que não foram incluídos no estudo, como os hábitos de sono, também podem ter afetado o risco de sinais de Parkinson.
O motivo exato ainda não foi encontrado, mas os especialistas acreditam que certos aditivos usados ou produtos químicos em suas embalagens causem inflamação, danos às células ou alterações no microbioma que acabam prejudicando as células cerebrais.
Outra possibilidade é que as pessoas que consomem mais alimentos ultraprocessados estejam deixando de consumir itens mais saudáveis, como frutas, verduras e legumes, que são ricos em fibras, antioxidantes e compostos anti-inflamatórios, pontua Puja Agarwal, epidemiologista nutricional da Universidade Rush, que também não participou do estudo.
Outras pesquisas sugerem que seguir uma dieta que prioriza alimentos naturais, como a mediterrânea, está associado a um risco reduzido de doença de Parkinson.
Cresswell diz que são necessários testes clínicos com pessoas que apresentam sinais precoces da doença de Parkinson ou que já foram diagnosticadas com a doença, para verificar se uma intervenção com uma dieta mais saudável pode prevenir ou retardar a doença.
Considerando o que já se sabe, os especialistas confirmam que existem muitos benefícios em consumir menos alimentos ultraprocessados e mais alimentos integrais. “Se você está melhorando sua dieta, não é apenas para uma coisa. O que você come para o seu cérebro também é bom para o seu coração, também é bom para o seu bem-estar geral”, conclui Cresswell.
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