Seguir uma dieta rica em gordura induz uma resposta inflamatória no hipotálamo, uma parte do cérebro localizada na base do encéfalo. Ele desempenha um papel importante na regulação de várias funções corporais cruciais, como a temperatura corporal, apetite, sono, sede, equilíbrio hormonal e comportamento sexual.
A inflamação acontece poucos dias após a ingestão excessiva de gordura e está ligada ao desenvolvimento de doenças metabólicas, como a obesidade. O estudo foi publicado na revista eLife, um tipo de célula imune residente no cérebro, chamada micróglia, desempenha uma função importante na resposta inflamatória.
“Neste trabalho, estudamos como o cérebro responde a uma alimentação rica em gorduras, típica das dietas modernas ocidentais, nas quais o consumo de fast-foods e ultraprocessados é bastante frequente”, diz Natália Ferreira Mendes, pesquisadora do Departamento de Medicina Translacional da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.
Foi descoberto que as micróglias não são as únicas células de defesa envolvidas no processo, pois outras células imunes, que vêm de fora do cérebro e expressam um receptor chamado CXCR3, também são recrutadas para o cérebro quando uma dieta rica em gorduras é consumida. A pesquisa indica que esse ‘reforço’ parece ter um papel benéfico, por ajudar as micróglias a atenuar o processo inflamatório e prevenindo o desenvolvimento da obesidade.
“Descobrimos esse potencial papel anti-inflamatório dessas células por meio de um experimento em que bloqueamos o recrutamento. As células imunes são atraídas por substâncias secretadas em locais distantes do corpo, onde ocorre a inflamação, e se dirigem rapidamente para lá. Em termos simples, é como se alguém acionasse um spray de perfume em um cômodo distante da sua casa e você fosse direcionado para lá pelo cheiro. O que fizemos foi impedir que esse ‘cheiro’ fosse percebido e, com isso, muitas células não conseguiram chegar ao local inflamado”, explica Natália.
O estudo tem como objetivo desenvolver fármacos para tratar a obesidade e comorbidades associadas, como a diabetes tipo 2. Mas ainda existem algumas questões a serem resolvidas: “Por exemplo, como essas células recrutadas se comunicam com as células residentes, como micróglias e neurônios, entre outras? Quais são os efeitos de longo prazo do recrutamento dessas células no cérebro? Qual o destino dessas células após atenuar o processo inflamatório? Existem estímulos hormonais/neurais periféricos que ajudam a direcioná-las para o cérebro? Essas questões precisam ser exploradas para que possamos entender completamente os mecanismos envolvidos e desenvolver abordagens terapêuticas mais eficazes”, lista a especialista.
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