Algumas vezes, o corpo não mostra a idade que a certidão de nascimento registra. Até porque, a idade cronológica está associada ao número de anos desde o nascimento, enquanto a idade biológica representa a condição fisiológica real do corpo, baseada na saúde dos órgãos e tecidos e representando uma medida mais precisa de envelhecimento e risco de doenças.
Pensando em novas formas de definir a idade biológica, pesquisadores da Stanford University School of Medicine, nos Estados Unidos, desenvolveram um indicador sanguíneo da idade dos órgãos. A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Medicine.
“Com esse indicador, podemos avaliar a idade de um órgão hoje e prever as chances do paciente desenvolver uma doença associada a esse órgão 10 anos depois” destaca o coautor do artigo, Tony Wyss-Coray, professor de neurologia e ciências neurológicas da Stanford University School of Medicine, nos Estados Unidos, em comunicado.
Foram analisadas amostras de sangue de mais de 44 mil pessoas entre 40 e 70 anos provenientes do banco de dados UK Biobank – um estudo biomédico em larga escala do Reino Unido. Os participantes foram acompanhados por meio de exames por até 17 anos para verificar alterações em seu estado de saúde.
Utilizando uma tecnologia laboratorial avançada, os pesquisadores avaliaram cerca de três mil proteínas presentes no sangue dos voluntários. Quase 15% delas eram específicas de determinados órgãos, como cérebro, coração, rins e fígado.
Por meio desses dados, os pesquisadores criaram um algoritmo capaz de calculara idade biológica de 11 órgãos ou sistemas do corpo humano. A tecnologia compara os níveis de proteínas dos indivíduos com a média da mesma faixa etária. Um desvio padrão acima de 1,5 para mais ou para menos definia se o órgão estava “extremamente envelhecido” ou “extremamente jovem”.
As informações mostraram que um terço dos participantes tinham ao menos um órgão extremamente envelhecido ou jovem; uma a cada quatro pessoas tinha vários órgãos em estado de envelhecimento ou juvenil acelerado. . Um cérebro envelhecido foi observado em 6% a 7% dos voluntários, enquanto o mesmo percentual foi registrado em quem tinha cérebros jovens.
A idade biológica foi capaz de prever com precisão o risco de 15 doenças crônicas, como: Alzheimer, Parkinson, doenças cardíacas, pulmonares, diabetes tipo 2, doenças hepáticas e renais, artrite reumatoide, osteoartrite, entre outras.
Pessoas com o cérebro biologicamente envelhecido, o risco de desenvolver Alzheimer era 3,1 vezes maior. Já quem possuía o órgão mais jovem, tinha uma proteção quatro vezes maio em relação à doença.
Um cérebro velho também indicava chances maiores de mortalidade, com um risco 182% maior nos 15 anos seguintes, enquanto o órgão jovem estava associado a 40% menos risco de morte no mesmo período.
Existem alguns riscos de ter idade biológica mais alta, como o aumento no risco de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, e outros problemas de saúde; elevação no risco de problemas de ansiedade e depressão; e morte precoce. Alguns fatores como o estilo de vida, genética e exposição a ambientes prejudiciais á saúde podem influenciar na idade biológica.
A nova tecnologia tem o objetivo de permitir intervenções precoces em pessoas com órgãos que possuam idade biológica avançada, antes do aparecimento de sintomas graves. Dados como estilo de vida, dieta e medicamentos ajudam a entender melhor como esses fatores afetam o envelhecimento no organismo. A previsão é que a técnica possa estar no mercado nos próximos dois ou três anos.
“Este é o futuro da medicina. Hoje, você vai ao médico porque algo dói, e eles dão uma olhada para ver o que está quebrado. Estamos tentando migrar do atendimento a doentes para o atendimento à saúde e intervir antes que as pessoas contraiam doenças específicas de um órgão”, conclui Wyss-Coray.
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