Chega uma notícia de esperança para o avanço dos tratamentos contra cânceres: uma vacina contra tumor cerebral teve resultados promissores em humanos e cães.
O medicamento demonstrou um efeito satisfatório contra o glioblastoma, o mais agressivo e letal tumor maligno, que pode atingir o cérebro. A pesquisa, entretanto, ainda tem um longo caminho a percorrer.
O experimento foi realizado com quatro pessoas e agora é necessário analisar a vacina em um ensaio de fase um, com até 24 adultos e crianças diagnosticadas com glioblastoma.
Os resultados foram semelhantes aos analisados em uma pesquisa anterior, realizada com 10 cachorros também vítimas de câncer no cérebro. Veja também: Câncer no cérebro: vacina experimental dobra sobrevida de paciente
A vacina conta com a tecnologia mRNA e nanopartículas de lipídio, com ação no sistema imunológico do paciente, obrigando-o a combater o tumor. Ela é personalizada, já que é feita com as células malignas da própria pessoa a ser tratada.
“Em vez de injetarmos partículas individuais, estamos injetando aglomerados de partículas que se enrolam umas nas outras como cebolas, como uma sacola cheia de cebolas”, explicou o autor sênior Elias Sayour, oncologista pediátrico da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos.
O profissional prosseguiu: “A razão pela qual fizemos isso no contexto do câncer é que esses aglomerados alertam o sistema imunológico de uma maneira muito mais profunda do que partículas individuais”.
O produto é administrado por via intravenosa e a velocidade em que começou a fazer efeito impressionou os pesquisadores. “Em menos de 48 horas, pudemos observar esses tumores mudando do que chamamos de ‘frio’ (pouquíssimas células imunes, resposta imune muito silenciada), para ‘quente’, uma resposta imune muito ativa”, apontou Sayour.
Atualmente, o tratamento com o glioblastoma envolve cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Mesmo assim, o prognóstico dos pacientes é, em média, de apenas 15 meses de vida. Veja também: Tumor cerebral: o que é, sintomas, tipos, tratamento e possíveis sequelas.
Primeiro, foi feita a remoção do tumor cerebral dos quatro pacientes selecionados e, com isso, também aconteceu a extração do RNA das células malignas.
Na sequência, o RNA mensageiro (mRNA), responsável por passar informações do código genético, foi amplificado e envolvido em uma espécie de embalagem de nanopartículas lipídicas biocompatíveis.
O foco é fazer com que as células tumorais se assemelhem a um vírus perigoso quando reinjetadas na corrente sanguínea, fazendo com que o sistema imune reaja.
“A demonstração de que a fabricação de uma vacina contra o câncer de mRNA dessa forma gera respostas semelhantes e fortes em camundongos, cães de estimação que desenvolveram câncer espontaneamente e pacientes humanos com câncer cerebral é uma descoberta realmente importante, porque muitas vezes não sabemos o quão bem os estudos pré-clínicos em animais vão se traduzir em respostas semelhantes em pacientes”, esclareceu o coator do artigo, Duane Mitchell, diretor do Instituto de Ciência Clínica e Translacional da Universidade da Flórida e do Programa de Imunoterapia de Tumores Cerebrais da instituição.
Os estudos em torno do imunizante ocorrem há mais de sete anos. Os cães que receberam o tratamento viveram, em média, 139 dias, mais que o dobro dos animais diagnosticados com tumor cerebral (30 a 60 dias).
Se a conclusão da primeira fase for bem-sucedida, a equipe seguirá para a fase dois, com 25 crianças. “Estou esperançoso que isso possa ser um novo paradigma para como tratamos os pacientes, uma nova tecnologia de plataforma para como podemos modular o sistema imunológico”, conclui Sayour.
Conhela também a história do paciente que tratou câncer com terapia celular e continua em remissão: “Em direção à cura”.
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