O sobrepeso deixou de ser um problema exclusivamente estético e acabou se tornando um caso de saúde pública. Chegamos à metade da segunda década do século 21 com números assustadores relacionados à obesidade. Nada menos que 2,1 bilhões- ou 30%- da população mundial está acima do peso ideal.
Embora o problema pareça de fato ser multifatorial, já se sabe que um dos maiores vilões do sobrepeso é exatamente o consumo excessivo de açúcar. Enquanto 100 anos atrás consumíamos uma média de 2 kg do carboidrato refinado por ano, hoje ingerimos uma quantidade infinitamente maior.
É evidente portanto que precisamos ingerir menos açúcar, seja através de um menor consumo de alimentos industrializados (molho de tomate, pães, maionese), seja pela diminuição da quantidade que utilizamos para adoçar bebidas e preparar sobremesas.
Uma das maneiras mais eficazes para reduzir o consumo excessivo de açúcar de mesa tem sido o uso de adoçantes, substâncias que conferem um sabor adocicado mas que quase não contêm calorias.
Dentre uma série de tipos de adoçantes encontrados à venda, a sucralose têm recebido bastante atenção tanto pelo seu potencial adoçante- que é de cerca de 600 vezes maior que o do açúcar- quanto pela aparente segurança da substância.
Isso no entanto não a isenta de uma certa controvérsia, já que muitas pessoas ainda têm dúvida se o adoçante sucralose faz mal ou não. Seria ele uma alternativa menos perigosa para a saúde que os outros adoçantes de mesa?
Sucralose é um adoçante artificial obtido a partir do processamento do açúcar de mesa convencional (obtido da cana de açúcar ou beterraba). Ao contrário do açúcar, no entanto, a sucralose não é degradada pelo corpo e não serve como fonte de energia.
Através de uma série de etapas, três grupos de hidrogênio-oxigênio da sacarose são substituídos por três átomos de cloro, e o resultado é a sucralose, uma substância extremamente doce e que tem o sabor do açúcar, mas que praticamente não contém calorias.
Assim como uma série de outras grandes descobertas dos últimos tempos, a sucralose tornou-se conhecida quase que por acaso. Segundo relatos, em 1976 um estudante estrangeiro que auxiliava em pesquisas no King´s College de Londres confundiu uma ordem de seu então supervisor, o professor L. Hough.
Hough estava pesquisando sobre possíveis aplicações industriais para a sacarose, o açúcar extraído da cana de açúcar e da beterraba, e produziu alguns derivados do carboidrato em laboratório.
Um destes derivados obtidos a partir da sacarose era justamente a tricloro-sacarose, um tipo de sacarose formado a partir da adição de três átomos de cloro. Ao ouvir de seu instrutor que deveria testar (do inglês “test”) a substância, o jovem estudante confundiu-se com o idioma e entendeu que deveria experimentar (“taste”) a nova formulação.
O resto é história, já que a suposta confusão levou à descoberta de uma das substâncias mais doces conhecidas pelo homem.
Embora seja derivado do açúcar, o adoçante sucralose não é natural, pois possui uma estrutura química que não existe na natureza.
Alguns anos atrás, inclusive, os fabricantes do produto nos Estados Unidos foram processados por utilizarem o slogan “Feito a partir do açúcar, então tem gosto de açúcar”. A afirmação daria a entender que o produto é natural, o que não reflete a realidade.
O slogan foi eventualmente alterado para “É feito a partir do açúcar. Tem gosto de açúcar. Mas não é açúcar”.
É exatamente por não ser reconhecido pelo organismo que o adoçante sucralose não engorda, uma vez que o corpo não pode absorver aquilo que desconhece.
Isso torna a sucralose virtualmente ausente de calorias, já que a substância passa quase que intacta pelo sistema digestivo. Caso fosse absorvida, a sucralose passaria por um processo de metabolização e já não seria mais “zero calorias”.
O benefício mais evidente da sucralose é exatamente seu valor energético, o que a torna uma alternativa interessante para quem precisa reduzir o consumo de açúcar mas não consegue ficar sem o sabor adocicado.
Quando parte de um programa de reeducação alimentar, a sucralose ajuda a emagrecer e pode ser uma grande aliada no combate à obesidade.
Para efeito de comparação, uma lata de refrigerante contém, em média, 54 gramas de açúcar, ou o equivalente a 11(!) sachês. Como a mesma bebida adoçada com sucralose contém zero calorias, optar pela versão diet do refrigerante pode resultar em quase 20 kg (considerando-se o consumo de uma lata de refrigerante todos os dias do ano) a menos de açúcar para o corpo metabolizar.
Quando comparada a alguns dos principais tipos de adoçantes no mercado, a sucralose possui as seguintes vantagens:
Vamos analisar os dois lados da questão, levando em consideração estudos científicos desenvolvidos nos últimos 30 anos.
O primeiro ponto a ser notado na discussão de que adoçante sucralose faz mal ou não é o fato de que, como o nome já indica, todos os adoçantes artificiais são manipulados em laboratório, e portanto nenhum deles é exatamente natural.
Tendo isto em mente e considerando-se que as principais marcas surgiram nos Estados Unidos, sabemos que todos eles só podem ser comercializados mediante a aprovação da FDA, a agência reguladora norte-americana conhecida pelo seu alto rigor na análise de quaisquer novas substâncias.
Para ser liberado pela FDA para comercialização, os fabricantes da sucralose precisaram encaminhar para o órgão governamental mais de 100 estudos atestando a segurança da substância.
O que dizem esses estudos que garantiram a liberação da sucralose para uso comercial:
Atualmente o adoçante está liberado para uso em mais de 80 países, tendo sido também aprovado pelo comitê científico alimentar europeu (SCF) e pela Organização Mundial da Saúde. O uso da sucralose é também apoiado pela Associação Americana de Diabetes e pela Academia de Nutrição e Diabetes.
De fato, boa parte das pesquisas desenvolvidas ao longo das últimas décadas aponta para uma substância segura e que não traz maiores riscos à saúde ainda que utilizada regularmente.
Uma delas, publicada no periódico Food and Chemical Toxicology, afirma não ter encontrado indicação de quaisquer efeitos adversos sobre a saúde decorrentes do uso frequente ou em longo prazo de sucralose mesmo nas concentrações máximas recomendadas.
Outra revisão divulgada pelo SCF concluiu que o adoçante sucralose é seguro para consumo humano, e não causa infertilidade, câncer, danos ao sistema imune ou afeta as taxas de açúcar no sangue.
Mas, como veremos logo baixo, há pesquisadores que questionam algumas dessas afirmações, sobretudo pela natureza desses estudos.
O principal argumento contra a sucralose por parte da comunidade científica é que, à exceção de dois estudos que foram de fato desenvolvidos com seres humanos, o restante das mais de 100 pesquisas encomendadas pelos fabricantes de sucralose foi concebido com roedores em situações controladas.
Ou seja: boa parte do que se sabe sobre a sucralose foi pesquisado em ratos, e não em seres humanos expostos ao adoçante diariamente. E é exatamente neste ponto que começam algumas das controvérsias sobre a segurança da sucralose.
Todos os estudos projetados para analisar os possíveis efeitos colaterais da sucralose sobre a saúde foram feitos levando em consideração um curto período de tempo, portanto não se sabe qual é o efeito sobre a saúde do uso regular da sucralose após 10 ou 20 anos.
Confira alguns dos principais estudos questionando a segurança da sucralose:
Um dos estudos mais citados por quem afirma que o adoçante sucralose faz mal foi publicado em 2008 no Journal of Toxicology and Environmental Health. Também desenvolvido com ratos, a pesquisa encontrou sinais de que o uso frequente de sucralose pode contribuir para o surgimento da obesidade, dificultar a absorção de determinados medicamentos e ainda eliminar parte das “boas” bactérias do intestino.
Um dos estudos mais recentes a questionar a segurança da sucralose foi publicado em 2013 por pesquisadores italianos no Diabetes Care e concluiu que, ao contrário do propagado, o adoçante pode efetivamente causar alterações nas taxas de glicose sanguínea.
Na pesquisa desenvolvida com 17 pacientes obesos não diabéticos, cientistas analisaram a resposta dos voluntários a um teste de tolerância à glicose em duas situações. A primeira, logo após o consumo de sucralose, e segunda, após a ingestão de água pura.
Os resultados demonstraram que, enquanto a água não causou nenhuma alteração nas taxas de glicose, a ingestão de sucralose provocou um aumento na concentração tanto da glicose quanto da insulina no plasma sanguíneo.
Também da Itália veio um estudo animal liderado pelo Dr. Morando Soffritti do Instituto Ramazzini, e desta vez os resultados apontaram para uma associação entre o consumo de sucralose e o desenvolvimento de leucemia. Segundo o Dr. Soffritti, quanto maior o consumo do adoçante pelos animais, maiores eram os riscos de leucemia.
Vamos resumir as principais vantagens e desvantagens da sucralose de acordo com o que as evidências científicas nos permitem concluir até o momento:
A sacarose é uma das substâncias mais testadas em todo o mundo, já que é hoje um dos adoçantes mais consumidos ao redor do globo. Esse fato por si só já seria suficiente para despertar a atenção dos concorrentes, que seriam os primeiros a questionar a segurança da sucralose a fim de minimizar a perda de uma generosa fatia de mercado.
E isso de fato tem ocorrido, já que alguns dos estudos atentando para os riscos do adoçante sucralose para a saúde foram patrocinados por associações de produtores de açúcar. Pode-se argumentar no entanto que parte dos estudos que favorecem a sucralose também foram apoiados pelos fabricantes da substância.
Por outro lado, como vimos acima, o único estudo humano a relacionar mais diretamente a sucralose com riscos à saúde contou com a participação de apenas 17 pessoas, número estatisticamente insuficiente para maiores conclusões.
Além disso, a questão aqui não é apenas comparar a sucralose com nada, mas sim a sucralose com o açúcar. Se você tiver que optar, é claro que o ideal é tomar o chá ou café puros, mas entre adoçá-los com açúcar e adoçante, fique com a segunda opção.
Resumidamente: a sucralose é aparentemente mais segura que a sacarina e o aspartame, e pode ser utilizada como em substituição ao açúcar nas dietas para controlar a obesidade e o diabetes.
O fato de nenhum estudo ter até o presente momento conseguido provar conclusivamente que a sucralose faz mal realmente nos leva a inferir que o adoçante pode ser consumido regularmente.
Por outro lado, os estudos citados acima foram desenvolvidos por instituições sérias e não podem ser ignorados. A sugestão neste caso é pesar os prós e os contras do adoçante e consumir a sucralose com moderação.
Quem está fazendo uso de algum medicamento ou então está passando por algum tratamento saúde, a orientação é conversar com um especialista antes fazer uso regular da sucralose.
Não existe uma “dose ideal” de sucralose que você pode tomar todos os dias, mas a agência reguladora europeia indica um consumo diário de até 1,5 mg de sucralose por kg de peso corporal.
Ou seja, um adulto de 70 kg poderia consumir até 105 mg do adoçante sem colocar a saúde em risco.
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Gostei do artigo!
Sou diabético há 13 anos, evito os alimentos com açucares a todo preço, porém, encontrei no supermercado um doce de leite com coco, no qual e adoçado com sucralose,resolvi fazer um teste e não houve alteração na taxa de glicemia. foi onde resolvi fazer a pesquisa e cheguei a conclusão de que no momento não faz mal.
desde já agradeço a equipe de pesquisa!
"Sucralose é derivada do açúcar através de um processo patenteado de multipassos, que substitui seletivamente 3 átomos de cloro, pôr 3 grupos de hidrogênio-oxigênio na molécula do açúcar. Essa oportuna troca de átomos de cloro cria uma estrutura molecular que é excepcionalmente estável e aproximadamente 600 vezes mais doce que o açúcar." (http://www.diabete.com.br/sucralose-nosso-primeiro-artigo-no-site/).
Na natureza tudo que é criado evolui de forma lenta e estável. Se o homem cria uma nova molécula não há como os mecanismos naturais entenderem a "novidade", pelo menos a curto prazo. Logo, as bactérias do intestino não vão reconhecer a nova molécula, é ai que mora o perigo.
que perigo?
Pq a vantagem da sucralose é que como o corpo não reconhece essa molécula ele não a digere, não a absorve...e a sucralose não é absorvida...portannto não gera energia (caloria)..
daí vc falar que é "perigo", na realidade é só preconceito ou desinformação
Na realidade se eu tinha dúvida a respeito dos adoçantes se fazia mal ou não depois que eu li fiquei mais confusa ainda, não mim ajudou muito não.
Severina, há diversos tipos de adoçantes, dê uma lida nesse artigo para esclarecer melhor o assunto: https://www.mundoboaforma.com.br/qual-e-o-melhor-adocante-para-sua-dieta/