Letícia Mello, 41 anos, foi uma das vítimas de Marcelo Evandro dos Santos, indiciado por lesão corporal gravíssima. Ele realizou uma cirugia conhecia como “x-tudo” sem a permissão da paciente, que passou 75 dias internada.
Há oito meses, Letícia passou por vários procedimentos feitos simultaneamente. O primeiro encontro entre os dois aconteceu em janeiro, a princípio, apenas para trocar as próteses de silicone e uma lipoaspiração
“Digo que renasci, porque não era para eu estar viva. São poucas as pessoas que passam por situações como a minha e voltam para contar história. Hoje, sou uma voz: vivo para pedir justiça e para alertar outras mulheres que passaram ou podem vir a passar por isso. É o que me move”, declarou, em entrevista ao g1.
Mello encontrou o cirurgião pelas redes sociais. Ele se descrevia como “referência em mamas, abdômen e Lipo Ugraft” (procedimento que utiliza a ultrassom para inserir gordura nos músculos abdominais para defini-los) e tem cerca de 37 mil seguidores. A psicopedagoga diz ter sido induzida a fazer a cirurgia, que aconteceu em 29 de outubro.
“Caí na lábia dele. Era uma clínica muito bonita, com diversas certificações espalhadas pelas paredes, fui recebida com taça de champanhe e toda aquela atmosfera de sofisticação. Na sala dele, ele me botou à frente do espelho e apontou ‘defeitos’ que eu nem sabia que existiam, nunca havia reparado ‘gordurinhas’, na perna, na barriga, e ele me disse que poderia resolver tudo de uma vez, com o mesmo equipamento da lipo”, detalhou Letícia.
Após a análise, ela decidiu passar também por uma lipo HD, além da troca das próteses. No entanto, ela acordou apenas dez horas depois, após passar por 12 procedimentos.
Leticia ficou 11 dias na UTI. “Assim que acordei, já senti muita dor, mas imaginei ser normal. Estava fraca, com o lado direito do corpo paralisado, e descobri que ele havia retirado 7 kg de gordura do meu corpo. Além de ter precisado de transfusão, recebi três bolsas de sangue”, comentou.
“Num período de 20 dias, vivi os piores momentos da minha vida. Sentia meu corpo todo queimar, surgiram bolhas pela barriga, pernas, braços e seios e a pele começou a necrosar. O cirurgião dizia que também era especializado em tratamento de feridas e só permitia que ele e a mulher dele, que é enfermeira, mexessem nos meus curativos, mas eu não melhorava, só tive avanços quando minha família chamou outro médico”, lembrou.
Foi apenas nesse período que Mello ouviu falar pela primeira vez sobre o termo “cirurgia x-tudo”, técnica que não é recomendada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC). A entidade aponta que até é possível fazer mais de um procedimento ao mesmo tempo, contanto que sejam respeitados o tempo e extensão da cirurgia.
“Ele me passou segurança, em momento algum senti que era uma técnica perigosa. Só ouvi sobre isso quando cheguei na UTI e um enfermeiro sinalizou ‘ela é paciente de x-tudo'”, desabafou.
A volta por cima
Após os momentos de pavor, Letícia recebeu alta médica em maio e procurou acompanhamento psicológico imediatamente. Atualmente, ela busca por justiça.
“Recebi muitos relatos e depoimentos de mulheres com histórias muito difíceis. Minha missão a partir daqui é trazer visibilidade e voz para elas”, avaliou.
Marcelo Evandro dos Santos foi indiciado por lesão corporal gravíssima no caso de Letícia e ainda é investigado em outros oito inquéritos policiais abertos por outras mulheres que alegam também terem sido vítimas. Em 2021, ele indenizou a família de um homem que morreu durante uma lipoaspiração.