Por Que as Dicas de Alimentação Saudável Mudam Tanto?

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Quem gosta de estar sempre em boa forma certamente procura ficar bem informado em relação às últimas pesquisas sobre alimentação saudável e mundo fitness, para poder se apropriar das dicas que esses estudos indicam. Porém, é bem verdade que de vez em quando surgem trabalhos que contrariam outros, o que acaba deixando muita gente em dúvida sobre qual deles está realmente correto e deve ser seguido.

Por exemplo, se um dia a gordura foi a maior vilã da boa forma, hoje ela já não é vista de maneira tão negativa e o consumo das gorduras saudáveis é recomendado. Há ainda o caso do chocolate, a guloseima que em alguns casos atrapalha a manter o peso ideal e em outros faz bem à saúde, como acontece com o chocolate amargo.

Um tanto quanto confuso, não? Principalmente quando levamos em conta que nem todo mundo possui conhecimentos profundos a respeito da ciência nutricional e física e nem dispõe de tudo para analisar e comparar os estudos que surgem a respeito desses temas.

Mas por que será que isso acontece? Por que existem pesquisas sobre o mesmo assunto que indicam resultados diferentes? Uma das explicações é que nenhum estudo é considerado de maneira isolada. Um trabalho fornece conclusões e evidências para todo um campo de pesquisa e pode servir de base para a elaboração de novos estudos.

Por sua vez, essas novas pesquisas podem trazer resultados que demonstrem que algo já concretizado nos trabalhos anteriores na verdade não estava correto. E é assim que surgem as novas descobertas.

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A nutrição é um campo de estudo mais jovem do que outros

Por mais que a alimentação seja algo inerente à vida do ser humano desde que o mundo é mundo, não faz tanto tempo assim que a nutrição começou a ser estudada de maneira mais profunda pelos cientistas. Pesquisas nessa área começaram a ser realizadas no final do século XIX, há cerca de 160 anos.

Tendo em vista toda a variedade de alimentos que existem na Terra, dá para entender que esse tempo é bem curto para que os cientistas possam chegar a conclusões mais concretas sobre o tema. Para bater o martelo a respeito de um indício, é necessário que existam muitos estudos com várias evidências que apontem para tal conceito.

Não é tão simples assim desenvolver uma pesquisa na área de nutrição

Isso porque quando um estudo do tipo é realizado, os pesquisadores não podem levar em consideração apenas o alimento que foi avaliado. Eles têm em mente que um resultado obtido pode ter tido algo a ver exclusivamente com a comida estudada, como não pode, tendo em vista que a alimentação não é o único fator que influencia o peso, o metabolismo e o bem estar.

É justamente por isso que ao olhar um estudo é preciso entender que há uma diferença entre correlação – que indica que há uma relação entre um fato e um resultado, no caso o consumo de um alimento e o emagrecimento, por exemplo – e a causa – que quer dizer que algo foi totalmente responsável por determinado resultado, como afirmar que certa comida é a razão pela qual uma pessoa perdeu ou ganhou peso, por exemplo.

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Certas manchetes sensacionalizam ou minimizam os estudos

Ao ler uma reportagem sobre pesquisas científicas relacionadas à alimentação e boa forma é preciso considerar dois aspectos inerentes ao mundo dos meios de comunicação. O primeiro é que os jornais, revistas, programas de rádio e televisão desejam o consumo dos leitores, ouvintes, espectadores e internautas e, sendo assim, podem acabar usando de manchetes sensacionalistas e exageradas sobre determinado estudo somente para chamar a atenção e conquistar o consumidor.

E se alguém apenas lê, ouve ou vê rapidamente a chamada da matéria, corre o risco de não entender muito do que tal pesquisa se trata e ficar apenas com a mensagem exagerada que o título da reportagem passou.

Outro problema é a falta de tempo para produzir as notícias e de espaço para explicar o contexto com maior profundidade que algumas mídias possuem. Desse modo, o leitor/internauta/ouvinte/espectador fica propenso a não entender de maneira ampla do que realmente se trata a pesquisa abordada e tirar conclusões precipitadas sobre o tema.

Além disso, algo que pode passar despercebido em uma reportagem é o fato de que cada pessoa que consome aquela notícia possui peculiaridades: genética, problemas de saúde, hábitos alimentares, entre outros. Assim, o que pode acontecer é o meio de comunicação passar o resultado de uma pesquisa como regra para todas as pessoas, sendo que cada organismo pode se comportar de maneira diferente em relação a uma dieta ou treinamento, por exemplo.

Boas pesquisas custam caro e quem patrocina as pesquisas geralmente tem algo a ganhar com isso

Não acredite em tudo que ouve, vê ou lê. Uma pesquisa afirmando que refrigerante pode fazer bem à saúde? Um pouco estranho, não? Tente ver se consegue identificar quem arcou com as despesas do estudo. Se descobrir que foi uma empresa fabricante de refrigerantes, é bom desconfiar de que talvez esse trabalho não seja digno de tanta credibilidade assim.

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No que devo prestar atenção ao me deparar com o estudo?

Pensando em tudo o que discutimos até aqui, dá para concluir que não é uma atitude muito sábia confiar cegamente no que um estudo afirma. Entretanto, isso também não significa que você deva ignorar todas as pesquisas que surgem e tê-las como suspeitas. Basta prestar atenção a alguns aspectos antes de acreditar no que ela afirma:

Quem pagou pela pesquisa?

Como mencionado acima, é importante prestar atenção nos órgãos que arcaram com os custos das pesquisas. Enquanto as empresas podem ter interesses comerciais por trás, as universidades, órgãos do governo (no Brasil um deles é a Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior [Capes]) ou entidades filantrópicas sérias (como a Associação Americana do Coração, por exemplo) não representam esse risco.

Os resultados condizem com outros de pesquisas anteriores?

Se uma pesquisa apresentar um resultado muito diferente do que o seu campo de estudo já determinou em trabalhos anteriores, é bom ter cautela e esperar um pouco antes de ter aquilo como verdade.

Isso porque uma boa pesquisa surge a partir do conhecimento já estabelecido em sua área e devem existir outras pesquisas que sustentem o que o cientista afirma. Isso não quer dizer que o que foi definido no passado não possa ser mudado, mas que é preciso existir o embasamento em uma área científica em torno de seu objeto de estudo.

Assim, para ter certeza de que o que a pesquisa em questão mostra é realmente verdade, vale a pena esperar que outros estudos relacionados ao mesmo assunto apareçam, seja confirmando ou negando o que foi dito.

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Em que fonte o estudo foi divulgado?

Não acredite em tudo o que acha por aí. Tenha o cuidado de verificar a confiabilidade da fonte que você encontrou. Fontes de órgãos do governo, universidades e de entidades não-lucrativas com boa reputação são as mais confiáveis.

Quando se tratar de uma notícia propagada em meios de comunicação, fique atento se a matéria divulga onde a pesquisa foi realizada ou de onde a informação foi retirada. E desconfie das manchetes que aparentem ser simples demais – um estudo científico geralmente é algo mais complexo – ou sensacionalistas demais, que apresentem o resultado da pesquisa como uma coisa praticamente milagrosa ou boa demais para ser verdade.

Que resultado de alguma pesquisa que você viu recentemente mais achou estranho? Há algum alimento que você não compreende se faz bem ou não para a saúde? Comente abaixo!

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Sobre Dra. Patricia Leite

Dra. Patricia é Nutricionista - CRN-RJ 0510146-5. Ela é uma das mais conceituadas profissionais do país, sendo uma referência profissional em sua área e autora de artigos e vídeos de grande sucesso e reconhecimento. Tem pós-graduação em Nutrição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é especialista em Nutrição Esportiva pela Universidad Miguel de Cervantes (España) e é também membro da International Society of Sports Nutrition.

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