Um método vem ganhando popularidade e, consequentemente, causa preocupação entre profissionais da saúde. Muitas pessoas estão começando a integrar a comunidade ‘biohacking’, ou seja, buscam ‘hackear’ e aprimorar o próprio organismo com suplementos conhecidos como ‘smart drugs’.

Esses elementos são sintéticos, completamente diferente dos métodos naturais – como a ingestão bem controlada de cafeína pela manhã. As ‘smart drugs’ são combos de vitaminas e aminoácidos encontrados em plantas e alimentos, que são manipulados em farmácias com controle e regularidade administrados pela própria pessoa em busca do ‘hack perfeito’.
Alguns dos adeptos concordam que há um descompasso entre o organismo humano e a forma como vivemos após a revolução digital. “Se a máquina e a tecnologia evoluem, por que nosso corpo não evolui também? O celular passou de tijolo a um computador de bolso. A gente, em cinco anos, continua com o mesmo cérebro, o mesmo corpo, as mesmas 24 horas. O corpo humano não evolui na mesma velocidade que os softwares. Então, a gente precisa otimizar o que a gente tem”, explicou Renato Braga, que integra a comunidade ‘biohacking’, á revista GQ Brasil. Ele usa oito gostas do oxidante com mitocondrial para melhorar na cognição e concentração para o dia a dia.
Renato inaugurou uma plataforma própria de compostos para aprimoramento físico e biológico. Ele mandou manipular o fármaco Azul Metileto para consumo humano (a versão industrial é usada como corante), que azula a língua.
Ademais, Braga passou a usar um composto de colina, vitamina do complexo B que ajuda na liberação de acetilcolina. A proposta é auxiliar o pensamento lógico, aprendizagem. Você pode encontrá-lo, em menores quantidades, em alguns alimentos, como no ovo de galinha.
Anvisa libera medicamentos, mas com restrições
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) libera o medicamento, mas atenta às indicações da bula. Portanto, não devem ser usadas por pessoas com alergia à substância ou a seus derivados, por pacientes com hemorragia cerebral, doença renal avançada ou diagnóstico de Coreia de Huntington, condição neurológica e hereditária que prejudica movimentos físicos e cognição. Ademais, o uso é contraindicado para crianças menores de três anos.
Além disso, é necessária atenção redobrada para quadros com risco de sangramento: o piracetam interfere na agregação na coagulação do sangue e é preciso cautela em casos de úlceras, histórico de AVC hemorrágico, distúrbios de coagulação, cirurgias recentes (inclusive odontológicas) ou uso de anticoagulantes e antiagregantes, como a aspirina em baixas doses.
O uso das smart drugs, fármacos e nootrópicos não é novidade, já que os primeiros adeptos dos combos vitamínicos surgiram nos anos 60. Na última década, tornou-se uma carta para o aumento de produtividade no ambiente acadêmico e, em especial, no ideal do Vale do Silício.
Parte da comunidade médica é cética sobre o tema, especialmente pela dificuldade de promover estudos randomizados e controlados para a análise de perto da ação de todos esses componentes para nossa biologia. Por outro lado, os biohackers defendem que são elementos naturais ou sintéticos usados de forma regrada, com licença para experimentação.
Renato afirma que a intenção é se tornar um computador operante 24 horas por dia. A cafeína, por exemplo, é consumida apenas durante a manhã. Ao anoitecer, o segredo é um óculos com lentes amarelas contra as luzes azuis dos aplicativos que dificultam a chegada da serotonina – o hormônio do sono.
Braga também diz que a comunidade abole o uso de medicamentos como ritalina e venvanse, estimulantes do sistema nervoso da família das anfetaminas usadas para tratamento de condições como hiperatividade, devido ao longo histórico de mortes pelo uso abusivo em busca de intensa produtividade.
“Essas substâncias têm efeitos colaterais pesados. E se a pessoa já estiver em um estado emocional frágil, pode ser perigoso”, justificou.
O biohacking aposta em compostos controlados e naturais, acrescenta, e com ritmo de ciclagem: ou seja, interrupções e retomadas no uso de nootrópicos e smart drugs ao longo do tempo. Toda cautela é pouca. O que funciona para um, pode não funcionar bem para outro. “Cada corpo responde de um jeito. Por isso é importante monitorar sempre a saúde”, diz.








