Os resultados preliminares do estudo ESSENCE indicam que a semaglutida 2,4, medicamento conhecido para o tratamento da diabetes tipo 2 e da obesidade, pode auxiliar positivamente na saúde do fígado – especialmente para os pacientes com esteatohepatite associada à disfunção metabólica (MASH, na sigla em inglês).
É normal que um pouco de gordura seja encontrada no fígado, mas se este índice chegar a 5% ou mais, é necessário buscar tratamento com um profissional o mais rápido possível. Se não cuidada corretamente, a gordura no fígado pode provocar – a médio e longo prazo – uma inflamação capaz de evoluir para quadros mais graves de hepatite gordurosa, cirrose hepática e até câncer no fígado. Especialistas dizem que 60% dos casos são de pessoas acima do peso indicado.
Nesta etapa do estudo, os cientistas acompanharam 800 voluntários com gordura no fígado durante 72 semanas. Metade dos participantes recebeu o placebo e a outra parte recebeu injeções semanais de semaglutida. Os grupos também receberam instruções sobre hábitos de vida mais saudáveis.
Com o passar das 72 semanas, 63% dos que usaram a semaglutida apresentaram redução da inflamação do fígado e 37% tiveram uma melhora na fibrose, problema que compromete o funcionamento do fígado devido ao acúmulo de tecido de cicatrização.
“Com a semaglutida, além de melhorias nos parâmetros do fígado, também observamos controle da pressão arterial, melhor gestão do diabetes, redução da hemoglobina glicada e perda de peso. Estamos finalmente vendo uma terapia sistêmica para uma condição que impacta diversas partes do corpo”, defendeu Cristiane Vilela, hepatologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e uma das principais autoras do estudo.
Os dados também apontaram para uma redução de 40% nos níveis da enzima ALT, que reflete danos ao fígado, e de 30% nos níveis de AST e GGT, enzimas utilizadas para monitorar doenças hepáticas como hepatites e cirrose. Ademais, houve uma diminuição de 40% na rigidez do fígado, indicador associado ao acúmulo de tecido cicatricial.
Líder da pesquisa, Cláudia Oliveira ressalta que não há nenhum medicamento aprovado no Brasil para a condição. Os especialistas indicam a adoção de um estilo de vida mais saudável, com a prática regular de exercícios físicos e uma alimentação balanceada. O tratamento pode ser realizado com medicamentos para outras condições, como diabetes, e vitamina E – mas, claro, somente com a recomendação de um médico.
Fabricante do Wegovy e Ozempic, a Novo Nordisk projeta solicitar ainda este ano a aprovação da semaglutida para tratar gordura no fígado junto à Anvisa e outra agências regulatórias.
O ESSENCE é um estudo de fase 3 executado por 39 países (incluindo o Brasil) e que avalia o efeito da semaglutida 2,4 mg semanal em adultos com esteato-hepatite associada à disfunção metabólica e fibrose hepática moderada a avançada (estágio 2 ou 3). Os resultados da primeira parte estão sendo apresentados agora, enquanto a segunda etapa deve durar até 2029.
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