O jejum é utilizado, em várias culturas e religiões, como forma de purificar. De uns tempos para cá, o método também começou a ser aderido por aqueles que gostariam de perder peso. No entanto, a prática pode ter uma ligação com a compulsão alimentar.
O conhecido atualmente como jejum intermitente tem como ideia alternar períodos de alimentação com períodos sem comida, promovendo a redução de calorias e alguns benefícios metabólicos, como a melhoria da sensibilidade à insulina e a queima de gordura. Ainda não há evidências suficientes que comprovem que a prática ajude na redução de medidas.
A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) mediou uma pesquisa publicada no Journal of the National Medical Association indica os riscos de seguir o jejum intermitente. No estudo, os voluntários que seguiam esse modelo de alimentação apresentaram níveis significativamente mais altos de desejo por alimentos calóricos e maior risco de compulsão alimentar.
Os autores aplicaram um questionário online a 458 estudantes universitários a fim de investigar as práticas de jejum e com que frequência haviam feito a dieta ao longo de um período de três meses antes da coleta dos dados. Ao todo, 89 participantes costumavam jejuar.
Na sequência, os voluntários precisaram responder uma pesquisa mais abrangente sobre comportamento alimentar. Foram avaliados os níveis de restrição cognitiva, compulsão alimentar, desejo por comida e consumo de alimentos não indicados para quem pretende emagrecer, como chocolate, pão, biscoitos e macarrão.
Por meio de um modelo estatístico, os autores examinaram a associação entre as horas de jejum e as características de comportamentos alimentares. Uma das questões, por exemplo, era se a pessoa fazia o jejum intermitente; se a resposta fosse “sim”, a próxima pergunta era sobre quanto tempo “acordada” ela ficava sem se alimentar.
No jejum intermitente, a pessoa soma o tempo de sono com o período sem comer. Na pesquisa, entretanto, os cientistas se concentraram no jejum feito quando os participantes já estavam acordados.
“Se a pessoa está fazendo o jejum acordada, ela precisa de controle cognitivo para sustentar a situação; precisa ter mais autocontrole para dominar a vontade de comer. A hipótese é de que isso pode ser um fator estressor. Enquanto ela está dormindo, isso não acontece”, explicou o nutricionista Jônatas de Oliveira, autor do estudo.
Relação entre jejum intermitente e compulsão alimentar
Dos 89 universitários que participaram da pesquisa e faziam o jejum intermitente, 32 deles apresentaram compulsão alimentar. Ademais, a maioria deles (89%) não teve comportamento compensatório (vômito, que está associado à bulimia, por exemplo). O nutricionista reforça a hipótese de que a compulsão está associada à prática do jejum, e não a outro transtorno alimentar.
Vale enfatizar que o estudo não realizou o diagnóstico dos transtornos – o que deve ser feito apenas mediante análise clínica e realização de exames. No entanto, os pesquisadores mediram o nível de compulsão em comparação ao tempo de jejum. O resultado mostrou que quem não jejua, a proporção de horas em jejum foi 29% maior em participantes com compulsão moderada e 140% maior em pessoas com compulsão severa.
“Esses resultados ressaltam a importância de estratégias alimentares baseadas na regulação emocional e comportamental, especialmente para jovens universitários, que são particularmente vulneráveis a transtornos alimentares”, diz o autor.
Existem diversas formas de realizar o jejum, com tempos sem alimento variados. “É muito comum que os indivíduos que fazem esses tipos de jejum não consigam manter a perda de peso a longo prazo. Existe uma restrição calórica, a pessoa consegue emagrecer, mas no dia a dia é difícil sustentar essa prática. O ideal para perder peso é sempre fazer uma reeducação alimentar, com uma mudança do comportamento e alimentação equilibrada e saudável, sem muita restrição”, avaliou o endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein, ao site Metrópoles.