Há muita desinformação sobre anorexia. Apesar de ela ser uma doença muito conhecida e discutida, poucas pessoas sabem como ela é realmente perigosa. É normal querer mudar o corpo e entrar em forma, mas quando perder peso vira uma obsessão, as consequências podem ser muito graves.
Mas o que é anorexia nervosa? É um distúrbio mental que acontece quando a vontade de ficar magro é tão forte que fica acima de tudo. Emagrecer vira uma obsessão. Dietas, alimentos magros e métodos para emagrecer tomam conta dos pensamentos e afetam a vida social e o lazer da pessoa. No fim, a vida gira em torno de perder peso e o resto é deixando de lado.
Essa obsessão leva a métodos extremos para emagrecer e a perda da capacidade de se ver como se realmente é. Anoréxicos nunca irão achar que estão magros suficiente e negarão que sofrem de uma doença. A pessoa com anorexia passa a acreditar que o seu valor vem apenas de quão magro você é.
A anorexia nervosa é uma das doenças mentais que mais leva a morte: De acordo com estudos, entre 5% e 20% das pessoas que sofrem com anorexia irão morrer. Apesar de pelo menos 90% das pessoas que sofrem com anorexia serem do sexo feminino e normalmente aparecer na adolescência, a doença pode atingir qualquer pessoa: mulheres e homens de todas as idades e com todos os tipos de corpo.
Para emagrecer, os anoréxicos podem reduzir a quantidade de alimento que consomem a um mínimo, usar laxantes, diuréticos, remédios para perder peso, forçar vômito e se exercitar de maneira excessiva. Mesmo atingindo um peso corporal muito baixo, as pessoas com anorexia sofrem com um pânico de ganhar peso e não percebem o quão magras estão.
Apesar de anorexia ser uma doença difícil de curar, há meios de voltar a viver bem, comendo de maneira saudável, recuperando a autoestima e revertendo os sintomas da doença.
Índice deste artigo:
Causas
Anorexia não tem causas claras. Apesar de ainda não se saber quais genes estão relacionados, ela pode surgir em função de predisposição genética. Alguns genes podem levar a perfeccionismo, sensibilidade e perseverança em excesso, que estão relacionados à doença. Distúrbio hormonal e fatores sociais e culturais também estão entre as causas da doença.
Problemas de autoestima e outras questões psicológicas como personalidade obsessiva-compulsiva, ansiedade, e depressão também podem estar relacionados.
Alertas e sintomas
Os sintomas da anorexia são muitos e podem ser físicos, psicológicos e comportamentais. Se você possui alguns dos sintomas abaixo, procure um médico. Se você notar alguém a sua volta com estes sintomas, converse com ela.
Físicos
- Perda de peso extrema
- Fatiga
- Insônia
- Tonturas e desmaios
- Palidez
- Cabelo fino e quebradiço
- Ausência de menstruação
- Constipação
- Excesso de frio
- Pressão baixa
- Desidratação
- Osteoporose
Comportamental e psicológico
- Preocupação constante com emagrecimento e dietas
- Se recusar a comer certo alimentos ou categorias de alimentos
- Falar frequentemente sobre o quanto precisa emagrecer
- Expressar medo de engordar
- Mentir sobre o quanto comeu
- Falta de emoção e energia
- Alta irritabilidade
- Dizer que não sente fome frequentemente
- Criar rituais envolvendo alimentação, como mastigar excessivamente, cortar a comida em pedaços muito pequenos, organizar o prato e comer a comida em certas ordens
- Menos interesse em sexo
- Memória falha
- Humor depressivo
- Começar a negar refeições e eventos sociais que envolvem comida
- Rotina rígida de exercício, apesar de lesões, doença, cansaço ou clima
- Se pesar e olhar no peso compulsivamente
Fatores de risco
Apesar de qualquer pessoas poder desenvolver a doença, alguns fatores aumentam os riscos.
Como dito anteriormente, mais de 90% dos anoréxicos são mulheres e a maioria dos casos aparece em adolescentes. Pessoas com predisposição genética e histórico de anorexia na família também estão mais vulneráveis. Pesquisas apontam que uma garota que tem um irmão com anorexia tem entre 10 e 20 vezes mais chance de desenvolver anorexia do que a população geral.
Quem está passando por transições de vida dolorosas ou vivem o famoso “efeito sanfona”, ganhando e perdendo peso com frequência, ficam mais suscetíveis ao distúrbio. Além disso, pessoas que envolvidas em meio que valorizam demais o corpo, como atletas, modelos, e artistas em geral tem maior chance de desenvolver a doença.
Tipos de anorexia nervosa
Há dois tipos de anorexia nervosa:
– Tipo Restritivo
Quem sofre desde tipo do distúrbio tenta perder peso através da restrição de calorias, com dietas drásticas, jejum e exercício físico em excesso. Pessoas com anorexia restritiva podem parar de consumir categorias inteiras de alimentos com gordura e carboidrato, contar calorias compulsivamente, pular refeições e criar regras rígidas em relação à comida
– Tipo Purgativo
Pessoas com esta versão do distúrbio também restringem a alimentação, mas também tentam emagrecer através do vomito forçado e uso de laxantes e diuréticos. Isso acontece normalmente quando a pessoa sente que perde o controle e consome uma grande quantidade de comida. É uma compulsão semelhante à bulimia.
Consequências da anorexia
Como o corpo é privado de alimentos e de nutrientes básicos, anorexia pode causar uma série de doenças e problemas no corpo como:
- Ritmo cardíaco extremamente lento e pressão baixa, causando risco de falha cardíaca
- Ossos secos e com baixa densidade, causando osteoporose
- Perda muscular e fraqueza nos músculos
- Desidratação que pode levar a falha dos rins
- Fraqueza, incluindo tonturas e desmaios
- Cabelo e pele secos
- Dificuldade em ficar grávido e maior chance de abortos espontâneos
- Anemia
Procurando ajuda
A maioria dos anoréxicos não admite o problema e dificilmente irá buscar ajuda sozinho. Por isso, é muito importante que as pessoas próximas fiquem atentas, percebam e conversem com a pessoa.
Se você acha que pode estar sofrendo com anorexia, já é meio caminho andado. O primeiro passo para se curar é admitir que tem um problema, que a busca por perder peso saiu do controle e que isso está afetando diferentes aspectos da sua vida.
Depois, é importante falar com alguém próximo. Converse e expresse sua preocupação, explique pelo o que você está passando e que você acha que precisa de ajuda médica. Fique longe de pessoas e situações que incentivam a obsessão por ser magro. Pode ser um grupo de pessoas, frequentar uma academia, ver programas e ler revistas de moda. Por último, procure um médico especialista no assunto. Ele pode ajudar você a acalmar a obsessão e recuperar a saúde, retomando sua vida aos poucos.
Se você está tentando ajudar alguém com anorexia, tente ajudar pelo exemplo, comendo de maneira saudável e cuidando de si mesmo, ao invés de controlar a outra pessoa, ameaçar e amedrontar. Um anoréxico precisa de apoio e compaixão e não de alguém para lhe deixar mais ansioso, depressivo e com autoestima baixa.
Encontrando o médico
Quando for ao médico, o paciente deve explicar detalhadamente os sintomas físicos, psicológicos e comportamentais que está sentindo e fazer todas as perguntas que quiser para o médico para compreender bem pelo o que está passando. Se o médico achar que o paciente pode estar sofrendo de anorexia nervosa, ele deve fazer os seguintes testes:
Exame físico: medir peso e altura, pressão sanguínea, temperatura, ritmo cardíaco, examinar abdômen, unhas e pele
Testes de laboratórios: o médico deve pedir um exame de sangue para checar níveis dos nutrientes e o funcionamento do fígado, rim e tireoide.
Exame psicológico: ele deve conversar com o paciente para entender como são os pensamentos, emoções e hábitos e confirmar que se encaixam no perfil anoréxico.
Outros exames como raio-x para analisar a densidade óssea, eletrocardiogramas para checar a saúde do coração também podem ser solicitados.
Tratamento para anorexia
Em casos extremos, hospitalização pode ser necessária para tratar questões urgentes como anemia, desidratação, problemas no coração, falha dos rins e outros. Após passar este momento de risco, o tratamento será longo e o acompanhamento do médico será essencial.
O primeiro passo é recuperar o peso adequado por meio de uma alimentação saudável e rica em nutrientes que o corpo precisa. O psicólogo e o médico irá acompanhar o paciente para controlar o distúrbio e ajudar a criar estratégias de comportamento. Uma dieta criada por um nutricionista pode ser necessária e o apoio dos familiares no dia a dia é essencial.
O fundamental é entender qual é o problema e como ele está afetando a saúde e a vida como um todo. Além de retomar uma dieta saudável, é fundamental compreender a natureza do comportamento obsessivo e controlá-lo. Por fim, a pessoa deve mudar a sua visão de si mesmo e seu relacionamento com a comida, retomando e ampliando seu conceito de autoestima.
Para pacientes adolescentes, é indicado uma terapia que envolva a família, pois o apoio e acompanhamento familiar na recuperação é essência. Em adultos, uma terapia cognitiva comportamental individual será o mais indicado, identificando padrões de alimentação, compreendendo o que incentiva o comportamento obsessivo e criando estratégias e metas para recuperar o peso e a saúde. Uma alternativa também é encontrar grupos de apoio e se relacionar com pessoas que também sofrem do distúrbio.
Não há medicamentos para anorexia, porém, em alguns casos, pacientes podem se beneficiar do tratamento com antidepressivos e similares para lidar com a depressão e ansiedade que pode acompanhar o distúrbio.
Fontes e Referências Adicionais:
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