Moira Braga, 45 anos, lançou uma peça autobiográfica sobre a condição que a deixou cega. A atriz, autora, bailarina e professora descobriu a doença de Stargardt aos sete anos.
O espetáculo “Hereditária” terá apresentações gratuitas entre os dias 12 e 29 de setembro, por arenas e lonas da Zona Norte do Rio de Janeiro.
A história conta a trajetória de Moira desde a descoberta da condição genética rara e sem cura, que causaria a perda de sua visão progressivamente, e mostra a investigação dos múltiplos sentidos da hereditariedade, do genético ao social.
“A ideia é dar uma resposta larga sobre de onde vem a doença e abrir a reflexão para um leque mais amplo, investigando o que são nossas heranças e nossas hereditariedades, tudo que chega para nós através da ancestralidade, tudo que fica pelo caminho, assim como as heranças que escolhemos ter”, explicou Moira à revista Quem.
A dramaturgia é composta pela atriz junto do diretor da peça, Pedro Sá Moraes, e entrelaça eventos da vida pessoal e dos antepassados de Moira a referências históricas e mitológicas, como o mito grego das Moiras: três irmãs funestas que tecem o destino de todos os seres.
A peça traz intérprete de libras e audiodescrição. “Esse é naturalmente meu ponto de partida. Quero que o meu trabalho acesse o maior número de pessoas e, por isso, fomos concebendo mecanismos estéticos e dramatúrgicos que proporcionem a expansão desse acesso”, disse.
O cenário, que é uma instalação visual e sonora do músico e artista plástico Ricardo Siri, é composto por objetos que, ao serem manipulados (transportados, percutidos, tocados, pisados), produzem os ambientes e sonoridades da peça.
Para que pessoas cegas e de baixa visão tenham acesso ao cenário, elas serão convidadas a entrar no teatro alguns minutos antes da abertura dos portões, a fim de explorar os objetos cênicos de forma táctil.
Capacitismo
Moira Braga falou sobre o capacitismo, um tipo de preconceito, conjunto de ações e perspectivas excludentes, que põem as pessoas com deficiência em posição de inferioridade.
“Essa exclusão é uma espécie de herança: de desigualdades ancestrais, de preconceitos enraizados e solidificados em oportunidades que se abrem para alguns e fecham para outros”, refletiu.
“O projeto ‘Hereditária’ nasce de um desejo de explorar, de forma criativa, poética, mas também política e lúcida, as diferentes dimensões das heranças que atravessam a vida do indivíduo com deficiência, e da sociedade como um todo”, acrescentou.
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De acordo com um levantamento do Ministério da Saúde, o Brasil possui atualmente 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, representando 23,9% da população. Dessas, cerca de 70% não concluíram o ensino fundamental e apenas 1% estão no mercado de trabalho.
Braga acredita que há boas políticas públicas para pessoas com deficiência, como o percentual mínimo de PCDs em produções artísticas, mas destacou a falta de informação da população em geral.
“O que precisamos agora é a ampliação do acesso à informação. Me choca a falta de conhecimento sobre o que estamos fazendo, o que é uma audiodescrição, como faz, porque é necessária. A gente precisa falar muito sobre isso. Precisamos que os patrocinadores se interessem, que o público queira conhecer”, disse. As informações são da Revista Quem.