De acordo com dados inéditos do terceiro Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD III), no Brasil, a prevalência do uso de cigarros eletrônicos entre adolescentes é cinco vezes maior do que a de tabaco convencional e está acima da média nacional e do uso entre adultos.

A pesquisa realizada pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com parceria da Ipsos e financiado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) mostra que 5,6% da população com 14 anos ou mais utiliza os dispositivos no Brasil, 3,7% de forma exclusiva e 1,9% em conjunto com o tabaco convencional. Já entre os adolescentes de 14 a 17 anos, a prevalência é maior, com 8,7% dos jovens consumindo vapes no último ao, enquanto, entre adultos, o percentual foi de 5,4%.
“Destaco as meninas, em que o percentual chega a quase 10% de prevalência. Estamos vendo uma mudança enorme de uma tendência de sucesso de queda no consumo de nicotina. Mas agora com um novo formato. Tivemos uma história maravilhosa de sucesso de políticas públicas, que geraram uma queda vertiginosa no tabagismo, mas esse novo desafio quebrou completamente essa trajetória”, esclareceu Clarice Sandi Madruga, professora de Psiquiatria Unifesp e coordenadora da pesquisa, em coletiva.
Bárbara Caballero, diretora de Pesquisa, Avaliação e Gestão de Informações da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (SENAD), do MJSP, pontuou que os dados ajudam a embasar uma ‘ação mais precisa’ do poder público, já que os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) têm a venda proibida pela Anvisa no Brasil desde 2009.
“Vai ser muito importante para podermos desenhar políticas públicas. Entender melhor o diagnóstico atualizado sobre esse comportamento no Brasil e monitorar as políticas a partir desses indicadores que a pesquisa fornece”, defendeu a profissional.
Na pesquisa, 16.608 brasileiros com 14 anos ou mais, de 349 municípios distribuídos por todas as regiões do país, foram ouvidos em 2023. Ao todo, a estimativa apontou que 26,8 milhões de brasileiros usam algum produto com nicotina, o que corresponde a 15,5% da população; 11,8% fumam cigarro convencional% , contra 19,3% em 2006. Entre os adolescentes, o percentual é de apenas 1,7%, cinco vezes menor do que o uso do cigarro eletrônico.
Já sobre os vapes, as anotações mostram que 76,3% dos adolescentes que experimentaram passaram a fazer consumo regular. Os aparelhos não auxiliaram a cessar o tabaco tradicional – uma das promessas da indústria. Cerca de 78% dos usuários gerais que fazem o uso conjunto não reduziram o consumo do modelo á combustão: apenas 8,9% de fato largaram o convencional.
Ademais, a maioria da população percebe os cigarros eletrônicos como nocivos (94,7%), mas reconhece o fácil acesso apesar da proibição. Em relação aos adultos, 78,4% consideram o acesso fácil ou muito fácil, índice que sobe para 86,7% entre os usuários. Entre os adolescentes, o percentual é de 71,6%, e de 80,7% entre os usuários.
A respeito do cigarro convencional, o hábito é mais prevalente entre homens (13,9%), pessoas com baixa escolaridade (16,5% entre iletrados) e baixa renda (13,2% entre quem vive com até um salário mínimo). Entretanto, a pesquisa ressalta que “existe heterogeneidade estatisticamente significativa entre as macrorregiões brasileiras quanto à prevalência de tabagismo”.
Sul e Centro-Oeste, por exemplo, concentram as maiores proporções de fumantes atuais, 14,7% e 14,1%, respectivamente, para o modelo convencional, e 7,7% e 9,7%, para o eletrônico. Em paralelo, também exibem elevadas prevalências de ex-fumantes, o que sugere níveis mais altos de iniciação e de cessação.
Enquanto isso, mais da metade dos fumantes – 57% – declararam alta motivação para largar o hábito de fumar, mas apenas 4,1% buscaram ajuda no último ano. A pesquisa também mostrou que 26,1% começaram antes dos 14 anos e 35,9% consomem 20 ou mais cigarros por ia.
Por fim, sobre exposição passiva, 16,5% dos adolescentes convivem com fumantes em casa, enquanto 48,1% dos usuários relatam fumar em ambientes domiciliares. O acesso a cigarros convencionais entre adolescentes também aumentou de 62%, em 2012, para 78,4%, em 2023.