Afantasia: entenda a incapacidade de imaginar

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Imaginar é algo que faz parte da rotina desde que somos muito pequenos. De olhos abertos ou fechados, criamos imagens mentais e imaginamos as coisas que gostaríamos de fazer, momentos, lugares ou pessoas do passado que fazem falta hoje em dia e os planos para o futuro.

Se quando éramos crianças, imaginávamos as nossas brincadeiras favoritas ou o que seríamos quando crescer, enquanto adultos podemos imaginar a casa dos sonhos, as viagens que planejamos fazer, o local onde queremos trabalhar, o carro que queremos ter ou a família que queremos construir um dia.

Uma vez que a imaginação é parte tão presente da rotina, pode ser um tanto quanto difícil pensar como seria viver sem a capacidade de imaginar.

O que é afantasia?

Afantasia
A afantasia é a incapacidade de criar imagens mentais na cabeça

Mas é justamente disso que a afantasia se trata, de uma incapacidade ou habilidade bastante limitada de criar voluntariamente uma imagem mental na cabeça. 

Aqueles que sofrem com a condição não conseguem imaginar uma cena, pessoa, objeto, entre outras coisas, mesmo que seja algo muito familiar para elas. É como se a mente tivesse um olho e esse olho estivesse cego.

Por exemplo, se alguém diz para uma pessoa fechar os olhos e imaginar uma floresta ou uma praia, mas ela não consegue, é possível que haja um caso de afantasia. Quem sofre com a condição também pode ter memórias menos vívidas, uma habilidade menor para imaginar cenários futuros e dificuldade de fazer reconhecimento facial (de outras pessoas).

Estima-se que o problema possa afetar uma em cada 50 pessoas, porém, ele ainda não é muito bem compreendido. A primeira descrição moderna do fenômeno é de um estudo de 1880, em que o Sir Francis Galton relatou que alguns homens dentro de um grupo de 100 não conseguiam criar uma imagem mental do seu café da manhã. 

No entanto, foi só em 2015 que a condição recebeu um nome, sugerido em um estudo pelo professor e neurologista cognitivo Adam Zeman e seus colegas. O nome vem dos termos gregos “a”, que significa “sem”, e “phantasia”, que quer dizer “imaginação”.

As causas da afantasia

A habilidade de criar imagens mentais existe dentro de um espectro. Em um ponto estão as pessoas que vivem com uma afantasia completa e no outro, encontram-se aquelas que conseguem criar imagens visuais muito vívidas. Mas, a maioria das pessoas se encontra no meio desse espectro.

Os cientistas ainda não têm certeza de qual é a causa da afantasia e de quais fatores genéticos e de desenvolvimento podem provocar a condição. 

Algo que se sabe é que o imaginário visual, no qual o cérebro cria imagens na mente, representa uma grande parte do mecanismo de processar informações para muitas pessoas.

Aqueles que não têm essa habilidade sofrem com a afantasia, que ocorre quando o córtex visual do cérebro não funciona como deveria. Aliás, o córtex visual é justamente a parte do cérebro que processa a informação visual dos olhos.

Acredita-se ainda que a maioria das pessoas que têm a condição, já nasceu com ela. Além disso, outros podem desenvolver o problema depois de uma lesão cerebral ou eventos traumáticos.

Outra teoria é que a afantasia pode ter uma origem psicológica, uma vez que está associada a depressão, ansiedade e transtornos dissociativos. Porém, são necessárias mais pesquisas para entender essa ligação.

Há ainda uma teoria que defende que as pessoas com afantasia até experimentam imagens mentais, mas não conseguem acessá-las nos seus pensamentos conscientes.

Entretanto, a afantasia não é considerada uma doença mental, mas sim uma variação na experiência e no processamento cognitivo.

Como é viver com afantasia?

A maioria das pessoas que têm afantasia ao longo da vida só se dá conta do problema na adolescência ou lá pelos 20 anos de idade, quando percebem que os outros conseguem visualizar imagens na mente.

As pessoas que sofrem com a condição podem apresentar dificuldades para lembrar certas coisas do dia a dia. 

Se a maioria das pessoas conta com a ajuda das imagens mentais na hora de mexer com as suas memórias, aqueles que sofrem com a afantasia precisam recorrer a outras estratégias, como o seu conhecimento ou outros sentidos, como audição, tato ou paladar, para lembrar das coisas.

Além da dificuldade para relembrar ou reviver certos eventos na sua mente, quem tem afantasia pode ter dificuldade de imaginar o futuro ou eventos hipotéticos e também pode sonhar menos.

No entanto, os pesquisadores ainda estão estudando a condição para entender como ela se dá em diferentes pessoas. Aparentemente, algumas pessoas podem ter quadros de afantasia pior do que outras e podem haver vários tipos ou subcategorias da condição. 

Mas, os estudiosos ainda não estão certos de como a afantasia pode afetar o modo como pensam as pessoas que têm o problema.

Há tratamento?

Jogo de memória
Ainda não há uma cura para afantasia, mas sessões de terapia visual com jogos de memória podem ser úteis

Uma vez que se sabe muito pouco sobre a afantasia, uma cura para a condição ainda não foi descoberta. 

Mas, alguns defendem que ela não é algo que necessariamente precisa de cura. Em uma entrevista para a BBC Radio 5 Live, o professor Adam Zeman chamou a afantasia de uma “variação fascinante na experiência humana”

Muitas pessoas que têm a afantasia podem nem saber que vivenciam o mundo de um jeito diferente das outras pessoas e simplesmente seguir normalmente com as suas vidas. Já outras podem ter consciência da condição e vontade de tratá-la.

Enquanto não se sabe se as pessoas com afantasia podem vir a melhorar a sua habilidade de criar imagens mentais voluntariamente, vale a pena citar um estudo de 2017, em que pesquisadores analisaram um homem de 31 anos com afantasia desde o nascimento.

Ele não conseguia recriar voluntariamente imagens na sua mente, incluindo os rostos de seu filho ou esposa. No entanto, o rapaz tinha sonhos visíveis durante a noite.

Após passar por 18 sessões semanais de terapia visual com duração de uma hora cada, ele relatou que estava conseguindo criar imagens mentais logo antes de pegar no sono, porém não no dia a dia, o que já mostrou um progresso.

As técnicas usadas no seu tratamento incluíram jogo de memória, atividades que exigiam a descrição de objetos e cenas ao ar livre, atividades de computador que exigiam o reconhecimento de imagens, entre outras técnicas.

Fontes e referências adicionais

Você já tinha ouvido falar da afantasia? Conhece alguém que tenha essa condição? Comente abaixo!

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