Por muitos anos, acreditava-se que a inflamação do corpo era um processo universal natural do envelhecimento, o que tornava as pessoas mais suscetíveis a problemas de saúde como Alzheimer, diabetes e doenças cardíacas conforme ficavam mais velhas. No entanto, um novo estudo publicado na revista Nature Aging sugere uma posição totalmente diferente sobre o assunto.

Pesquisadores da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, analisaram dados de 2.876 adultos residentes de quatro países, incluindo uma pequena população indígena da Amazônia e observaram que a inflamação crônica do organismo está ligada ao estilo de vida industrializado.
“Os resultados apontam para uma incompatibilidade evolutiva entre nossos sistemas imunológicos e os ambientes em que vivemos atualmente. A inflamação pode não ser um produto direto do envelhecimento, mas sim uma resposta às condições industrializadas”, declarou o professor Alan Cohen, principal autor do estudo, em comunicado á imprensa.
Para realizar a checagem, os cientistas analisaram 19 proteínas associadas á inflamação em amostras de sangue de quatro populações. Duas delas levavam estilos de vida industrializados, vivendo na Itália e em Singapura. As outras duas viviam em comunidades indígenas não industrializadas: os Tsimane, da Amazônia boliviana, e os Orang Asli, da Malásia.
Os pesquisadores descobriram que os níveis de inflamação aumentavam com a idade nos grupos da Itália e de Singapura, e estavam associados a problemas de saúde como doença renal crônica. Por outro lado, este resultado não foi encontrado nos grupos indígenas. A inflamação não aumentou com a idade nem levou a problemas de saúde nessas populações – os casos de inflamação mais elevada estavam relacionados a infecções, não pela idade.
Os cientistas apontam que, de fato, a maioria das doenças crônicas – como diabetes, doenças cardíacas e Alzheimer – são raras ou praticamente inexistentes nas populações indígenas. Isso indica que, mesmo quando os jovens indígenas apresentam perfis que parecem semelhantes aos de adultos mais velhos industrializados, eles não levam a consequências patológicas.
Alan Cohen considera que as descobertas questionam a ideia de que a inflamação é ruim por si só. “Em vez disso, parece que ela — e talvez outros mecanismos de envelhecimento também — pode ser altamente dependente do contexto. Por um lado, isso é desafiador porque não haverá respostas universais para questões científicas. Por outro lado, é promissor, porque significa que podemos intervir e mudar as coisas”, pontuou o profissional.
Os estudiosos também defendem uma reavaliação de como o envelhecimento e a inflamação são medidos em diferentes populações e reforçam a necessidade de ferramentas padronizadas e contextualizadas. “Fatores como ambiente, estilo de vida — como prática de atividade física ou uma dieta com baixo teor de gordura — e infecção podem influenciar o envelhecimento do sistema imunológico. Compreender como esses elementos interagem pode ajudar a desenvolver estratégias de saúde global mais eficazes”, conclui Cohen.