Depois que uma pessoa morreu infectada pela ameba comedora de cérebro na Flórida, chegou a notícia de que um fungo também anda levantando preocupação nos Estados Unidos.
Um estudo recente, de 21 de março, dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do país revelou que o fungo Candida auris está se espalhando rapidamente por unidades de serviços de saúde nos Estados Unidos.
Variantes da C. auris, como também é chamada, são resistentes a medicamentos e os relatos de casos associados ao fungo dobraram no ano de 2021. O número de infecções aumentou em 59% de 2019 a 2020. Então, houve um aumento adicional de 95% em 2021.
As elevações nos números da infecção, especialmente nos últimos anos, são muito preocupantes, afirmou a diretora médica executiva do Mycotic Diseases Branch (Setor de Doenças Micóticas) do CDC, Dr. Meghan Lyman, em uma entrevista.
Segundo ela, estão sendo observados crescimentos não apenas nas áreas de transmissão em curso, mas também em novas áreas. O estudo apontou que a C. auris foi identificada em mais da metade dos estados dos Estados Unidos.
O fungo está por trás de um surto no Mississipi, que começou em novembro e infectou pelo menos 12 pessoas. Ele é o possível responsável por cerca de quatro mortes, de acordo com números fornecidos pelo Departamento de Saúde do estado ao ABC News.
A C. auris não representa uma ameaça para a maioria das pessoas saudáveis e as infecções são raras. No entanto, ela pode causar problemas graves para pessoas que têm um sistema imunológico enfraquecido ou são imunocomprometidas.
Pacientes de casas de repouso ou de hospitais que têm ou já tiveram dispositivos médicos como um cateter ou tubo de respiração colocados no corpo também fazem parte do grupo de alto risco da infecção pelo fungo.
O que é esse fungo?
Uma espécie de Candida, a C. auris é um tipo de fungo relativamente novo, que foi identificado pela primeira vez em 2009 no Japão. Porém, estudos conduzidos desde então encontraram amostras de C. auris que podem datar de 1996 na Coreia do Sul.
Especialistas em saúde pública se referem ao fungo como um patógeno emergente, ou seja, um organismo que apareceu ou foi descoberto recentemente, mas se espalhou rapidamente, em termos de casos ou países onde a sua presença foi relatada.
Conforme o diretor médico associado de prevenção de infecções da Escola de Medicina de Yale, Dr. Scott Roberts, informou ao ABC News, a C. Auris é transmitida de pessoa para pessoa ou por meio do contato com superfícies contaminadas.
Segundo o epidemiologista e especialista em doenças infecciosas, Dr. Waleed Javaid, o fungo tem uma habilidade extrema de sobreviver nas superfícies e pode colonizar paredes, cabos, roupas de camas e cadeiras.
Roberts disse ainda que a C. auris é bem difícil de matar e que lenços desinfetantes não dão conta do serviço. Além disso, uma vez que existem variantes do fungo que são resistentes a medicamentos, isso significa que infecções causadas por ele não respondem a diversos remédios antifúngicos geralmente usados para tratar as infecções provocadas por Candida.
Outro problema é que pode ser difícil diagnosticar a infecção por C. auris. Esse diagnóstico costuma ser feito através da análise de culturas de sangue e outros fluidos corporais, o que exige equipamentos modernos e recursos atualizados, que não estão disponíveis a todos os laboratórios.
Ao mesmo tempo, pode ser difícil identificar a C. auris nos resultados da cultura e ela pode ser confundida com outras espécies de Candida.
Tratamento
Embora infecções de diversas variantes da C. auris sejam resistentes a uma série de medicamentos, uma classe de antifúngicos chamados equinocandinas podem ser usados para tratar o problema e são administrados por via intravenosa.
As equinocandinas atuam na prevenção de uma enzima essencial para a manutenção da parede celular do fungo.
Porém, em alguns casos, quando a infecção resiste às três principais classes de medicamentos, o tratamento pode exigir o uso de várias doses altas, informou o CDC.
Infecção mortal?
Ainda de acordo com o CDC, os estudos sobre o tema são limitados, mas acredita-se que entre 30% a 60% das pessoas com infecções por C. auris morreram. Entretanto, muitos desses pacientes tinham outras doenças sérias que também aumentaram o seu risco de falecer.
A não ser que haja uma quebra na pele ou algum tipo de infecção sistêmica mais profunda, o risco de mortalidade ou alguma complicação maior é relativamente baixo. Por exemplo, se houver essa quebra na pele, o fungo pode atingir a corrente sanguínea e causar uma infecção por C. auris na corrente sanguínea, que pode ser fatal, exemplificaram especialistas.
É possível prevenir?
Não há muito o que se fazer individualmente para prevenir a transmissão do fungo, mas especialistas aconselham a evitar as pessoas com infecções por C. auris e a higienizar muito bem as mãos ao visitar os grupos de risco em hospitais ou casas de repouso.
Especialistas também aconselham a ter cuidado com o uso excessivo de antibióticos, que embora sejam necessários para tratar certas doenças, também podem matar as bactérias do intestino e dar mais espaço para que fungos como a C. auris cresçam.
Já o Dr. Scott Roberts defende que é preciso haver um foco contínuo para equipar os laboratórios, de modo que as infecções por C. auris sejam facilmente identificadas, e para equipar a infraestrutura da saúde pública, com o objetivo de detectar e isolar os pacientes infectados. As informações são do ABC News e do NBC News.
Fontes e referências adicionais
- Worsening Spread of Candida auris in the United States, 2019 to 2021, Annals of Internal Medicine.
- Echinocandins: A ray of hope in antifungal drug therapy, Indian Journal of Pharmacology.
Fontes e referências adicionais
- Worsening Spread of Candida auris in the United States, 2019 to 2021, Annals of Internal Medicine.
- Echinocandins: A ray of hope in antifungal drug therapy, Indian Journal of Pharmacology.