O jejum intermitente se tornou uma alternativa popular e que desperta curiosidade entre as pessoas que procuram emagrecer. Mas, além da perda de peso, outra pergunta que se faz é sobre a relação entre método e a saúde do sistema imunológico.
Quando o sistema imunológico funciona bem, o corpo é capaz de combater infecções virais e bacterianas, além de lutar contra células cancerígenas com maior eficiência
Por isso, quanto mais soubermos a respeito do que pode ser bom para a imunidade, mais saúde e melhor qualidade de vida teremos. Nesse sentido, o jejum intermitente pode contribuir.
No entanto, quando se trata do jejum intermitente, existem algumas questões a serem analisadas, pois realizar longos períodos de jejum com frequência exige que o organismo passe por alguns ajustes, e é o que vamos ver a seguir.
Como o nosso corpo reage ao ficarmos em jejum prolongado?
Precisamos de combustível para que o nosso corpo exerça as suas funções biológicas e é por meio dos alimentos que conseguimos isso.
Ao ficarmos em jejum, seja para fazer exames e cirurgias, seja por motivos religiosos, seja no período que estamos dormindo à noite, o corpo entra em um estado de alerta por falta de alimentos e o sangue é direcionado para os órgãos mais importantes para a preservação da vida, que são o pulmão, coração e cérebro.
A primeira fonte de combustível do corpo para manter as funções vitais, principalmente o funcionamento do cérebro, é a glicose. Na falta dela, o organismo procura uma maneira alternativa de suprir as suas necessidades.
Nas horas iniciais de jejum, o corpo utiliza a glicose que está armazenada no fígado na forma de glicogênio. Depois de usar todo o glicogênio, o organismo utiliza a oxidação das gorduras em primeiro lugar e por último vai buscar a energia das proteínas, que estão armazenadas nos músculos.
Nesse processo de oxidação (queima) de gorduras, são produzidas substâncias chamadas corpos cetônicos, que servirão de fonte de energia para que o organismo continue com as suas funções.
O que a ciência diz sobre o jejum intermitente e sistema imunológico
Em 2016, o biólogo japonês Yoshinori Ohsumi ganhou o prêmio Nobel de Medicina por publicar um estudo que tratava da prática do jejum.
Segundo o biólogo, o jejum resulta no processo de autofagia. Em outras palavras, as células que são prejudiciais se autodegradam e acontece uma renovação celular, o que seria benéfico para o sistema imunológico, o sistema metabólico e a saúde em geral.
No entanto, em outros estudos, pesquisadores levantaram a dúvida se esse processo de degradação das células não poderia afetar as células funcionais, ou seja, aquelas que ajudam o corpo também seriam degradadas.
Desde então, muitas pesquisas surgiram e demonstraram benefícios do jejum intermitente, principalmente em relação ao metabolismo. Alguns pesquisadores até mesmo relacionam a prática à longevidade.
Assim, não é de surpreender que tenham surgido hipóteses para se pesquisar sobre como o sistema imune responde ao jejum intermitente.
As discordâncias
Há estudos que não concordam com a abordagem do jejum intermitente para melhorar o sistema imunológico. Isso porque deixar o corpo sem alimento causa muitas mudanças no metabolismo e estresse ao organismo, que precisa se adaptar à falta de alimento. Vale destacar que estresse é um fator que enfraquece o sistema imune.
Em fevereiro de 2023, um novo estudo realizado na escola de medicina em Mount Sinai, Nova York, e publicado na revista Immunity, analisou um grupo de camundongos que fez jejum de 24 horas e um grupo controle que teve refeições regulares.
Observou-se que os ratos que jejuaram tiveram mais inflamação e maior probabilidade de morrerem devido a uma infecção do que os animais do grupo controle.
Durante o estudo, os pesquisadores analisaram o sangue dos ratos que fizeram o jejum e dos ratos que não fizeram. Eles notaram que os animais que fizeram o jejum tinham 10% a menos de glóbulos brancos (monócitos), células que combatem infecções e favorecem que células imunes possam tratar lesões.
Ainda não há muitas evidências em seres humanos no que diz respeito aos benefícios do jejum intermitente para o sistema imunológico.
Existem controvérsias, assim como em relação a outros benefícios para a saúde, pois é preciso ter mais evidências sobre o tempo de jejum que não prejudica o organismo.
Mesmo em relação à perda de peso, ainda restam dúvidas para alguns pesquisadores se o jejum intermitente é mais eficaz do que a restrição calórica, portanto, ainda não é possível responder tudo sobre essa prática com o aval da ciência.
Fazer jejum intermitente é fácil e todos podem praticar?
Apesar da sua popularização e de muitas pessoas pensarem que é fácil fazer jejum ou que qualquer um pode fazer, essa prática não é para todos.
O jejum intermitente não deve ser feito por crianças, gestantes, mulheres que estejam amamentando, pessoas idosas e diabéticos tipo 1 dependentes de insulina, pois ele provoca hipoglicemia, o que é um risco para o diabético.
As pessoas que sofrem de gastrite, azia e úlcera, também não devem fazer jejum intermitente porque ficar longas horas sem comer aumenta a produção do suco gástrico (acidez do estômago), o que provoca queimação e dor no estômago.
A prática do jejum intermitente não pode ser realizada de qualquer jeito, por isso é preciso a orientação de um médico e de um nutricionista. Caso contrário, podem ocorrer sérios erros, trazendo consequências desastrosas para a saúde. Saiba mais sobre os casos em que o jejum intermitente faz mal.
Conclusão
O jejum intermitente parece ter surgido como um milagre para melhorar muitos aspectos da saúde, mas a ciência ainda tenta esclarecer se há mais benefícios do que malefícios para aqueles que escolhem praticá-lo.
O importante é saber que o jejum intermitente pode não ser uma resposta definitiva para todos os problemas de saúde ou para melhorar o sistema imunológico, apesar de muitos aspectos positivos que já foram observados pelas pesquisas.
O ser humano quer longevidade e respostas fáceis para aumentar e melhorar sua qualidade de vida e a ciência tenta buscá-las, mas talvez ainda demore um pouco para poder esclarecer qual o melhor caminho para melhorar o sistema imunológico e evitar algumas doenças.
Fontes e referências adicionais
- Monocyte re-enter the bone marrow during fasting and alter the host response to infection, Immunity volume 56. Issue 4,P 783-796,April 11,2023.
- Molecular Mechanisms of Autophagy in Yeast, Nobel Lecture, December 7, 2016.
- Meal frequency and timing in health and disease, Proc Natl Acad Sci USA 2014;111(47):16647-53
- Jejum, longevidade e imunidade, v. 15 n. 1 (2016): Nutrição Brasil v15n1
Fontes e referências adicionais
- Monocyte re-enter the bone marrow during fasting and alter the host response to infection, Immunity volume 56. Issue 4,P 783-796,April 11,2023.
- Molecular Mechanisms of Autophagy in Yeast, Nobel Lecture, December 7, 2016.
- Meal frequency and timing in health and disease, Proc Natl Acad Sci USA 2014;111(47):16647-53
- Jejum, longevidade e imunidade, v. 15 n. 1 (2016): Nutrição Brasil v15n1