Logoterapia: o que é, técnicas e quem pode fazer

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A logoterapia é uma abordagem terapêutica voltada para ajudar as pessoas a encontrar um significado pessoal em suas vidas. Trata-se de uma forma de psicoterapia que é focada na habilidade de suportar dificuldades e sofrimentos através de uma busca por propósito. 

O método foi desenvolvido pelo psiquiatra e psicoterapeuta Viktor Frankl depois que ele sobreviveu a campos de concentração nazistas nos anos 40. Ele acreditava que a humanidade prospera justamente na busca por um propósito de vida e detalhou as suas experiências e teorias no livro “Em Busca de Sentido”.

Para Frankl, os seres humanos são motivados por um desejo de achar sentido na vida. Ele defendia que a vida pode ter sentido mesmo nas circunstâncias mais miseráveis e que a motivação para viver vem de buscar esse significado.

A logoterapia não está associada a uma doutrina religiosa específica e tem como bases filosóficas a fenomenologia, o humanismo e o existencialismo.

Frankl
Viktor Frankl. Reprodução: via Wikipedia

Os pilares da logoterapia

A logoterapia parte de três conceitos filosóficos e psicológicos:

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Liberdade da vontade

Na logoterapia, liberdade é o espaço da pessoa para moldar a própria vida, dentro dos limites do seu contexto socioeconômico e cultural. Essa liberdade vem da dimensão espiritual, vista como algo que está acima do corpo físico e da psiquê. 

A dimensão espiritual também é considerada algo exclusivamente humano, que diferencia as pessoas dos outros seres vivos. 

Assim, todo ser humano é livre para decidir e capaz de agir em relação a condições psicológicas, biológicas e sociais, não é apenas um organismo que reage ao que acontece, mas um ser autônomo. 

Na logoterapia, a liberdade da vontade é o que possibilita ao paciente tomar decisões apesar dos impactos que os transtornos mentais trazem ao seu dia a dia.

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Vontade de sentido

Este pilar da logoterapia prega que todo ser humano é livre para alcançar os seus objetivos e propósitos, o que seria a motivação primária da existência humana.

Quando não percebe a “vontade de sentido” na sua vida, uma pessoa pode experimentar uma sensação de vazio existencial, o que pode ser prejudicial para a sua saúde mental.

Nesse sentido, a logoterapia busca ajudar os pacientes a entenderem o que os impede de encontrar um sentido da vida e a auxiliar na identificação dos seus propósitos. Tudo isso deve ser percebido pelos pacientes através do diálogo com o psicoterapeuta.

Sentido da vida

A logoterapia não enxerga o propósito da pessoa como algo ilusório, divino ou generalizante, mas sim como parte da realidade objetiva.

A ideia é que todo mundo se sente inspirado a oferecer o que possui de melhor para a sociedade, através da percepção do significado de diferentes momentos da vida. O propósito não é imutável e pode se alterar conforme as situações enfrentadas por cada pessoa.

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As sessões incluem o trabalhar de habilidades socioemocionais, flexibilidade e resiliência, para ajudar a lidar com as questões do dia a dia, sem perder o propósito de vista.

As técnicas da logoterapia

Frankl acreditava ser possível transformar o sofrimento em realização e conquista. Ele via a culpa como uma oportunidade de mudança para o melhor e as transições da vida como a chance de tomar medidas responsáveis.

Dessa forma, a logoterapia se propõe a ajudar o paciente a usar melhor os seus recursos espirituais para suportar as adversidades. O método adota três técnicas para auxiliar esse processo:

Derreflexão

A derreflexão destina-se a ajudar a pessoa a tirar o foco de si mesma e direcioná-lo para outras pessoas, permitindo que passe menos tempo preocupando-se com algo.

O objetivo da técnica é combater a hiper-reflexão ou o foco extremo em uma situação ou objeto que causa ansiedade. A hiper-reflexão geralmente é comum em pessoas com ansiedade antecipatória.

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A técnica é indicada para pessoas que se encontram em um estado de auto-observação excessivo, pensando de forma obsessiva em um problema ou situação, algo que a psicologia chama de ruminação.

Intenção paradoxal

Aqui, a pessoa é convidada a desejar aquilo que ela mais teme. Originalmente, isso foi sugerido para casos de ansiedade ou fobia, em que o humor e a ridicularização podem ser usados quando o medo é paralisante.

A ideia é que ao imaginar uma situação que causa estresse de forma exagerada, dando um aspecto cômico à cena, a pessoa se distancia dos sintomas relacionados a esse momento e, aos poucos, se dá conta que as consequências catastróficas que ela tanto teme são difíceis de acontecer.

Por exemplo, quem tem medo de parecer bobo, pode ser estimulado a tentar parecer bobo de propósito. Com isso, a intenção de se comportar da forma mais boba possível, resultaria na perda desse medo.

Diálogo socrático

O diálogo socrático funciona por meio de um processo de autoconhecimento ao notar e interpretar as suas próprias palavras. Ele também é chamado de modificação de atitudes e se baseia na investigação de conceitos e valores que guiam as atividades e julgamentos de uma pessoa, o que ocorre por meio do diálogo.

Ao longo do diálogo socrático, o terapeuta escuta atentamente o modo como o paciente descreve as coisas e aponta os seus padrões de palavras, ajudando-o a enxergar o significado nelas. 

O profissional também pode fazer perguntas estratégicas para ajudar o paciente a entender as próprias crenças e sentimentos. Na terapia cognitiva, os questionamentos são usados para detectar distorções nas interpretações da pessoa acerca de certas situações.

Acredita-se que o processo ajuda a pessoa a perceber as suas próprias respostas, que geralmente já estão presentes dentro dela e estão apenas esperando serem descobertas.

Usos e benefícios da logoterapia

Ansiedade
Uma das aplicações mais comuns da logoterapia é para a ansiedade e depressão

O conhecimento de que o sentido ou significado na vida tem relação com uma melhor saúde mental pode ser aplicado em áreas como:

  • Ansiedade
  • Depressão
  • Luto
  • Dor
  • Fobias
  • Transtorno do estresse pós-traumático
  • Abuso de substância
  • Ideação suicida

Mas, é importante ressaltar que a logoterapia deve ser orientada e realizada por um profissional capacitado. Além disso, em muitos casos, ela não funciona como tratamento único e também podem ser necessárias outras formas de terapia ou até mesmo o uso de remédios.

Quanto aos benefícios da logoterapia, acredita-se que ela pode melhorar a resiliência ou habilidade para suportar adversidades, dificuldades ou estresse, por conta de habilidades que o método encoraja as pessoas a desenvolverem, como:

  • Aceitação
  • Permitir haver um estresse saudável
  • Altruísmo
  • Uma abordagem ativa em relação à vida, em vez de um comportamento de fuga, evitação ou passivo demais
  • Reavaliação cognitiva ou reinterpretação do significado de um evento
  • Coragem para enfrentar os medos
  • Humor
  • Otimismo mesmo em frente a uma tragédia
  • Responsabilidade
  • Espiritualidade, que não precisa necessariamente ser religiosa
  • Um estilo de vida baseado em valores.

Não é para todo mundo

Se você achou a logoterapia interessante, em primeiro lugar, é preciso entender se o método realmente pode funcionar para você, levando em conta as condições que você precisa tratar, o seu estilo de vida e até as coisas em que você acredita. Para isso, conte com a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra.

Embora a logoterapia não seja intrinsecamente religiosa, o seu foco reside em conceitos espirituais e filosóficos. O método se foca em ajudar pessoas que se sentem perdidas ou insatisfeitas em um nível espiritual. Portanto, isso pode ser um problema para quem não é uma pessoa espiritual ou filosófica.

Além disso, uma vez que a logoterapia se volta para ajudar as pessoas a descobrir propósito e sentido, ela pode não ser uma boa opção para quem já entendeu o sentido da sua vida ou não tem problemas de natureza existencial.

Fontes e referências adicionais

Você já tinha ouvido falar da logoterapia? Conhece alguém que tenha praticado e tido bons resultados? Comente abaixo!

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Sobre Dr. Rafael Ferreira

Dr. Rafael Ferreira de Moraes é Psiquiatria - CRM 52.98866-9. Formou-se em Medicina pela Universidade do Grande Rio Professor José de Souza Herdy em 2013. Pós-graduado em Psiquiatria pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde atuou nos atendimentos ambulatoriais da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e Casa de Medicina da PUC-Rio. Para mais informações, entre em contato com ele em sua conta oficial no Instagram (@rafafmoraes)

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