A pancreatite aguda é a inflamação do pâncreas, normalmente causada por cálculos biliares ou pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas. O principal sintoma da doença é uma dor intensa na região superior do abdômen, que pode ser incapacitante.
Na maioria dos casos, a pancreatite aguda é resolvida com uma hospitalização de curta duração, para controlar a dor e cuidar da hidratação do organismo, até que o processo inflamatório cesse.
Em alguns casos, porém, a pancreatite aguda progride para um quadro grave e demanda cuidados mais vigorosos, com controle da infecção com antibióticos e cirurgia.
Veja mais detalhes sobre o que é a pancreatite aguda, as principais causas, os sintomas, as possíveis complicações e como são feitos o diagnóstico e o tratamento desta condição.
Pancreatite aguda: o que é?
A pancreatite aguda é um processo inflamatório súbito que atinge o pâncreas, e que pode ser leve ou letal, sendo na maioria dos casos um problema facilmente resolvido com hospitalização.
O pâncreas é uma glândula localizada atrás do estômago, na parte superior do abdômen. Ele é responsável por produzir enzimas digestivas, que ajudam a digerir carboidratos e gorduras, e o hormônio insulina, que atua no controle da glicemia.
Geralmente, a região do pâncreas produtora de líquidos digestivos é o local afetado pela inflamação. Ela é classificada como “aguda” por se desenvolver subitamente, ou rapidamente, e cessar em alguns dias ou poucas semanas.
Neste sentido, a pancreatite aguda é diferente da crônica, um processo inflamatório duradouro, capaz de produzir danos permanentes.
Causas da pancreatite aguda
As causas mais comuns da pancreatite aguda, responsáveis por mais de 70% dos casos, são o consumo abusivo de álcool e os cálculos biliares (pedra na vesícula).
Cálculos biliares
Os cálculos biliares são materiais sólidos, geralmente cristais de colesterol, que ficam depositados na vesícula biliar, um pequeno órgão localizado abaixo do fígado.
A vesícula biliar e o pâncreas compartilham um ducto, o ducto colédoco. Pode acontecer de um cálculo biliar se mover, obstruir esse ducto e fechar o esfíncter de Oddi, por onde o pâncreas libera o suco pancreático contendo as enzimas digestivas no duodeno.
Em geral, esse bloqueio é temporário e, por isso, causa apenas danos locais. Caso o problema não se resolva rapidamente, o suco pancreático retido começa a danificar as próprias células da glândula, gerando uma inflamação mais grave.
Bebidas alcoólicas
O consumo excessivo de bebidas alcoólicas aumenta o risco de uma pessoa desenvolver pancreatite aguda.
O mecanismo pelo qual o álcool promove a pancreatite aguda ainda não é completamente conhecido pelos estudiosos da área, mas as observações apontam que o álcool seja convertido em substâncias tóxicas que são danosas às células do pâncreas.
Outra hipótese válida é que o álcool promova o entupimento dos ductos pancreáticos, impedindo a liberação do suco digestivo, que passa a atacar as células da glândula.
Herança genética
Além dos fatores externos, algumas mutações genéticas parecem deixar algumas pessoas mais predispostas a desenvolverem pancreatite aguda, é o caso de pessoas com fibrose cística ou com genes dessa doença.
Outros fatores
Depois do álcool e dos cálculos biliares, alguns medicamentos e infecções virais também podem ser responsáveis por causar um processo inflamatório súbito e passageiro no pâncreas.
Nesses casos, a pancreatite aguda é resolvida com a suspensão do medicamento e com o fim do ciclo viral.
Sintomas da pancreatite aguda
A maioria das pessoas com pancreatite aguda sentem uma dor muito forte na parte superior do abdômen. Em algumas pessoas, a dor irradia para as costas.
Principalmente quando é causada por cálculos biliares, a dor tem um início súbito e fica muito intensa em poucos minutos. Quando é causada pelo álcool, a dor demora um pouco mais para se manifestar, geralmente alguns dias após a inflamação ter se instalado.
Uma vez iniciada, a dor se mantém constante e forte durante os dias da inflamação.
A dor pode ficar ainda pior no momento em que a pessoa tosse, faz movimentos mais rápidos ou bruscos, ou respira profundamente. Além disso, a dor pode ser acompanhada de náuseas e vômitos.
Como a falta de suco pancreático no duodeno prejudica a digestão, o conteúdo intestinal pode ficar parado, causando inchaço.
A dor é o principal sintoma da pancreatite aguda, mas há pessoas que ficam tão mal, que apresentam outros sintomas, como:
- Sudorese excessiva
- Aumento da frequência cardíaca
- Respiração rápida e ofegante
- Febre
- Pressão baixa
- A esclera, a parte branca dos olhos, fica amarelada
Veja outras possíveis causas de dor no pâncreas.
Complicações da pancreatite aguda
Se a pancreatite aguda não se resolver rapidamente e virar um quadro grave, pode haver complicações.
Uma delas é o pseudocisto pancreático, um acúmulo de líquido pancreático no pâncreas, que pode infeccionar.
Outra complicação possível é a pancreatite necrosante, em que algumas células do pâncreas morrem e permitem o extravasamento do suco pancreático para a cavidade abdominal, podendo causar uma queda importante da pressão arterial, seguida de choque e falência de órgãos, como rins, pulmões e coração.
Diagnóstico da pancreatite aguda
A dor abdominal, dentro de um contexto de cálculo biliar ou consumo de álcool, já fazem o médico ou a médica suspeitar de pancreatite aguda.
No exame físico, o abdômen é apalpado para verificar o nível de dor e a rigidez da musculatura da parede abdominal. Ao auscultar o abdômen com um estetoscópio, pouco ou nenhum barulho intestinal pode ser ouvido.
Um exame de sangue pode revelar níveis aumentados de enzimas pancreáticas, amilase e lipase, no primeiro dia da inflamação.
Um raio-X do abdômen pode mostrar se as alças intestinais estão dilatadas e, em alguns casos, também pode revelar a presença de cálculos biliares. O ultrassom do abdômen é capaz de revelar com mais nitidez a presença de cálculos biliares na vesícula ou no ducto e, também, o inchaço do pâncreas.
Depois do ultrassom, a tomografia computadorizada com contraste é o exame mais útil para identificar uma inflamação grave no pâncreas, bem como suas complicações.
Se houver suspeita de infecção no pâncreas, o médico ou médica pode aspirar uma amostra através de uma agulha inserida na pele, para fazer alguns exames.
Por fim, a dosagem de tripsinogênio na urina, uma enzima secretada pelo pâncreas, pode ajudar no diagnóstico de pancreatite aguda.
Tratamentos da pancreatite aguda
O tratamento da pancreatite aguda depende do grau da inflamação e dos danos.
O tratamento da pancreatite aguda leve envolve:
- Hospitalização: de curta duração.
- Hidratação na veia.
- Analgésicos para alívio da dor.
- Jejum, para não sobrecarregar o pâncreas.
- Dieta pastosa e pobre em gordura: caso a pessoa não esteja com náuseas e vômitos.
O tratamento da pancreatite aguda moderadamente grave envolve:
- Hospitalização: maior duração.
- Hidratação na veia.
- Alimentação pastosa e pobre em gordura, se não estiver vomitando.
- Alimentação por sonda, se não estiver conseguindo se alimentar.
- Antibióticos, se apresentar infecção.
A pancreatite aguda grave requer:
- Internação em Unidade de Tratamento Intensiva (UTI), para monitoramento dos sinais vitais.
- Coleta periódica de amostras de sangue, para monitoramento do estado de saúde.
- Alimentação por sonda ou por via intravenosa.
- Hidratação intravenosa.
- Suplementação de oxigênio.
Se a pancreatite aguda tiver sido causada por cálculos biliares e eles não forem expelidos espontaneamente, o médico ou médica responsável pelo caso faz a extração dos cálculos com uma colangiopancreatografia retrógrada endoscópica. Veja como é a cirurgia de vesícula.
Caso haja pseudocistos no pâncreas, eles são drenados com um cateter inserido por via endoscópica.
No caso de uma infecção, o tratamento envolve o uso de antibióticos e remoção do tecido infectado e necrosado por endoscopia ou cirurgia.
Fontes e referências adicionais
- Pancreatite aguda: o que mudou, GED Gastrenterologia Endoscópica Digestiva, 2002; 21(2): 69-76.
- Pancreatite aguda: atualização de conceitos e condutas, Medicina (Ribeirão Preto), 2003; 36:(2/4): 266-282.
- O mosaico patogênico da pancreatite aguda grave, Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, 2004; 31(6): 391-397.
Fontes e referências adicionais
- Pancreatite aguda: o que mudou, GED Gastrenterologia Endoscópica Digestiva, 2002; 21(2): 69-76.
- Pancreatite aguda: atualização de conceitos e condutas, Medicina (Ribeirão Preto), 2003; 36:(2/4): 266-282.
- O mosaico patogênico da pancreatite aguda grave, Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, 2004; 31(6): 391-397.