Você provavelmente já sabia que dormir bem todas as noites é importante para acordar com vigor e cumprir as atividades do dia com sonolência excessiva.
Além disso, é provável que saiba que dormir mal estimula o aumento de peso. Mas será que está ciente dos prejuízos que o sono de má qualidade pode ter para a saúde do seu coração?
Um comunicado da Associação Americana do Coração alertou que ter um padrão irregular de sono tem uma relação com diversos fatores de risco cardiovasculares. Por exemplo, obesidade, pressão alta, diabetes e doença arterial coronariana.
Entretanto, é o sono curto que aparenta ser especialmente perigoso para a saúde do coração, de acordo com a professora de medicina do sono da Escola Médica de Harvard, Susan Redline.
Pessoas que passam por privação de sono apresentam maiores níveis sanguíneos de hormônios do estresse e substâncias que indicam inflamação. Fatores prejudiciais para a saúde cardiovascular. Aliás, uma única noite de sono insuficiente pode prejudicar, completou.
Além disso, a Fundação Nacional do Sono dos Estados Unidos alertou que as pessoas que não dormem o suficiente têm maiores riscos de desenvolver doença cardiovascular e doença arterial coronariana.
Isso independentemente de fatores como idade, peso, hábitos de exercício e o ato de fumar ou não.
A questão do peso
Lembra que mencionamos que um dos problemas do sono de má qualidade é a sua associação com o aumento de peso?
De acordo com a professora, existem evidências muito fortes de que há ligação entre o sono insuficiente e o aumento de peso.
Uma das teorias é que as pessoas que dormem pouco têm uma tendência de fazer mais lanchinhos e comer mais de maneira geral.
A falta de sono também pode afetar os sistemas de recompensa do cérebro. Inclusive os que controlam a ingestão de calorias (energia), o julgamento e a escolha por alimentos.
Alguns estudos já apontaram que pessoas que passam pela privação de sono consomem menos vegetais e dão preferência a alimentos mais doces e gordurosos, por exemplo.
O que uma pesquisa mostrou
A cardiologista Alyson Kelley-Hedgepeth citou um estudo de 2020 que analisou a relação entre o sono e os padrões alimentares em aproximadamente 500 mulheres.
As participantes forneceram dados sobre a qualidade do seu sono, o número de horas que dormiam, se tinham insônia e seus hábitos alimentares.
A partir daí, os pesquisadores observaram que aquelas que tinham a pior qualidade de sono consumiam mais açúcares adicionados. Isso em comparação às mulheres com melhor qualidade de sono.
Já as mulheres que demoravam mais para pegar no sono consumiam mais calorias e mais alimentos de modo geral. Enquanto isso, aquelas que tinham sono de baixa qualidade eram mais propensas a comer em excesso e escolher alimentos não saudáveis.
O que tirar do estudo?
“Como esse estudo é observacional, não podemos tirar conclusões de causalidade. Mas nós podemos entender que a sensação de estar satisfeito é afetada pela privação do sono. Provavelmente por meio de uma complexa sinalização hormonal”, afirmou Kelley-Hedgepeth.
“Podemos considerar também que uma dieta pobre (com muitos tipos errados de alimentos) pode afetar a habilidade de pegar no sono e permanecer adormecido. Além disso, uma dieta de má qualidade e comer em excesso estão associados à obesidade”, completou.
Isso sem contar que a fadiga que quem dorme pouco sente pode motivar a evitar a prática de atividades físicas. Assim, se quem dorme pouco consumir comidas que favorecem ganho de peso e gastar menos calorias, o aumento dos quilos terá maiores chances de ocorrer.
Mas afinal, o que isso tudo tem a ver com a saúde do coração? A obesidade é justamente uma das condições que aumentam os riscos de desenvolvimento de doença no coração.
Além disso, a dieta de má qualidade que pode levar ao sobrepeso ou obesidade também pode aumentar os riscos de desenvolver doença cardiovascular.
A pressão alta
É outro importante fator de risco das doenças cardiovasculares, ao mesmo tempo em que pode ter uma ligação com distúrbios do sono.
Por exemplo, algumas pessoas que sofrem com a insônia podem permanecer em um estado psicológico chamado de hiperarousal. Ele gera ansiedade e sensação de estar no limite e pode agravar problemas de pressão arterial.
Apneia do sono
Além disso, a apneia obstrutiva do sono, frequentemente associada à obesidade, também pode aumentar os riscos de pressão alta, ataque no coração e acidente vascular cerebral (AVC).
Aliás, ela é um motivo porque se sabe da importância vital do sono para a saúde cardíaca. Pacientes que sofrem com essa condição, que faz acordar frequentemente durante a noite, costumam ter comprometimento na saúde cardíaca.
O perigo de não descansar profundamente
Sem períodos longos e profundos de descanso, há a ativação de certas substâncias químicas. Elas impedem o organismo de conseguir ficar longos períodos com a frequência cardíaca e a pressão alta diminuídas.
É durante um sono normal que a pressão arterial reduz. Portanto, ter problemas para dormir significa que a pressão arterial permanece mais alta por um período maior.
Com o passar do tempo, isso pode resultar em uma pressão arterial mais alta ao longo do dia. Pode gerar também maiores chances de ter problemas cardiovasculares como consequência, completou a organização.
No entanto, não é necessário sofrer com um distúrbio severo de sono para experimentar os efeitos prejudiciais da má qualidade do sono para a saúde do coração.
A diabetes do tipo 2
O acúmulo de açúcar (glicose no sangue) característico da diabetes do tipo 2 pode danificar os vasos sanguíneos.
O aumento expressivo do risco de ter problemas associados ao coração e aos vasos sanguíneos, como doença cardíaca, AVC, pressão alta e aterosclerose, é uma das complicações da doença.
A apneia obstrutiva do sono também é comum nos pacientes que sofrem com a doença. Adicionalmente, alguns estudos apontaram que ter um sono bom e suficiente pode auxiliar o controle dos níveis de glicose no sangue.
A importância de manter um sono regular
A cardiologista Alyson Kelley-Hedgepeth mencionou outro estudo de 2020 que encontrou uma associação entre a irregularidade do sono e o desenvolvimento de doença cardiovascular.
A pesquisa saiu no Journal of the American College of Cardiology e acompanhou aproximadamente 2 mil homens e mulheres sem doença cardiovascular por anos.
Os participantes utilizaram rastreadores no pulso que monitoraram o seu sono e nível de atividade. Eles também completaram um estudo abrangente e responderam questionamentos a respeito de sua vida, incluindo sua alimentação.
“Os pesquisadores identificaram que a duração irregular do sono aumentou o risco de doença no coração”, acrescentou a cardiologista.
“Aqueles com a duração de sono mais irregular e com horários de dormir que variavam tiveram mais que o dobro do risco de desenvolver doença no coração. Em comparação àqueles com menos variedade na duração do sono e horários de dormir mais consistentes”, disse.
Conforme Kelley-Hedgepeth, os pesquisadores acreditam que diversos fatores poderiam ligar os padrões irregulares de sono com mudanças metabólicas.
Por exemplo, obesidade, diabetes e colesterol alto. Pois todos esses fatores influenciam negativamente o risco de ter doenças cardiovasculares.
“Como a nossa saúde metabólica pode ser afetada pelo sono, as escolhas alimentares podem ser ainda mais importantes quando passamos pela privação de sono”, advertiu a cardiologista.
A preocupação com a qualidade do sono deve começar desde cedo
Dormir bem não deve ser uma preocupação somente de quem já está começando a ver os anos acumularem e passando a se importar mais com a saúde do coração. Assim, a boa qualidade do sono precisa ser rotina desde jovem.
De acordo com a Fundação Nacional do Sono, pesquisas recentes mostram que o ato dormir muito pouco desde cedo na vida também traz problemas.
A organização mencionou um estudo que apontou que os adolescentes que não dormiam bem tinham maiores riscos de desenvolver problemas cardiovasculares.
Esses adolescentes apresentavam níveis mais altos de colesterol, maiores Índices de Massa Corporal (IMCs), cinturas maiores, medidas maiores de pressão arterial e maiores riscos de ter hipertensão, completou a instituição.
Além disso, a falta de sono que pode favorecer o ganho de peso prejudicial é especialmente possível para as crianças e adolescentes. Aliás, eles necessitam dormir mais do que os adultos.
Ou seja, dormir bem é muito importante
Isso não significa simplesmente passar muitas horas na cama. Mas sim ter um sono de qualidade, dormir uma quantidade de horas suficientes para ter um sono reparador e acordar com vigor no dia seguinte.
Isso porque uma pessoa pode ficar várias horas por noite na cama sem conseguir dormir bem. Por exemplo, revirar-se na cama devido a preocupações ou acordar várias vezes no meio da noite. O que caracteriza sono de qualidade ruim.
Mas é importante destacar que dormir bem também não significa dormir demais. A Fundação Nacional do Sono dos Estados Unidos alertou que dormir em excesso também pode prejudicar a saúde do coração.
O que fazer?
Existem estratégias que ajudam a dormir bem e você pode experimentá-las para tentar melhorar a qualidade do seu sono, caso ela não esteja muito bom.
“Preste atenção em quanto e quão bem você dorme à noite. Se você tem insônia ou má qualidade de sono, converse com o seu médico. Sobre fazer um estudo do sono e sobre fatores que poderiam ajudar a melhorar o seu sono”.
O período necessário e suficiente de sono varia de pessoa para pessoa. No entanto, a maioria dos adultos precisa dormir pelo menos sete horas por noite.
Fontes e Referências Adicionais:
- Harvard Health Publishing – A good night’s sleep: Advice to take to heart
- Centers for Disease Control and Prevention – Know Your Risk for Heart Disease
- Journal of the American Heart Association – Measures of Poor Sleep Quality Are Associated With Higher Energy Intake and Poor Diet Quality in a Diverse Sample of Women From the Go Red for Women Strategically Focused Research Network
- National Sleep Foundation – How Sleep Deprivation Affects Your Heart
- Centers for Disease Control and Prevention – How Does Sleep Affect Your Heart Health?