Em alguns países, a tadalafila, fármaco prescrito para tratar a disfunção erétil, está se popularizando – de maneira incorreta – como pré-treino. O hábito pode trazer diversos riscos à saúde.
Frequentadores da academia adotaram o medicamento após notícias falsas alegarem que a tadalafila ajuda a ganhar músculos – o efeito seria o mesmo em homens e mulheres. No entanto, não há qualquer comprovação de que o fármaco realmente influencie na hipertrofia.
A teoria por trás do uso de tadalafila como pré-treino envolve um relaxamento do endotélio, a camada que reveste a parede interna das artérias. Essa ação no corpo permitiria a chegada de mais sangue aos músculos – o que supostamente levaria ao ganho de massa.
“Mas não há base nenhuma para essas alegações. Não existe comprovação científica para esse uso”, salienta o médico Luiz Otávio Torres, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, à BBC News Brasil.
O especialista completa: “Os poucos estudos que avalia a tadalafila para ganho de massa muscular foram feitos com 40 ou 50 voluntários, o que é muito pouco”.
Profissionais não recomendam o uso de tadalafila para ganho de massa muscular. “E não é necessário tomar remédio para ganhar músculos. Os próprios exercícios já produzem esse efeito”, pontua a farmacêutica Amouni Mourad, assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo.
“As pessoas perdem a noção de que esse remédio não é recreativo, para se divertir. Qualquer medicamento só deve ser usado na pessoa certa, no tempo certo e da forma certa. Não adianta eu achar que posso tomar um comprimido só porque fez bem para meu vizinho ou meu irmão. Cada organismo é diferente”, lamenta Mourad, que também é coordenadora do curso de Farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
Quais são os riscos da tadalafila para a saúde
A tadalafila é uma medicação considerada relativamente segura, desde que tomada da maneira correta. “A principal contraindicação é para quem toma outros remédios que contêm nitratos, porque a ação conjunta dessas duas moléculas pode baixar muito a pressão arterial”, aponta Torres.
“A tadalafila também pode causar dor de cabeça, dor muscular ou entupimento de nariz, mas é uma coisa para o paciente avaliar o custo-benefício”, destaca. Portanto, se os incômodos forem fortes demais, basta interromper o uso.
Na bula, os fabricantes informam que as reações comuns, que ocorrem em 1 a 10% das pessoas que usam tadalafila, incluem dor nas costas, dor de cabeça, indigestão, vermelhidão no rosto, dor muscular, dor nas extremidades, refluxo gastroesofágico e nariz entupido.
Já entre as reações incomuns (que acometem entre 0,1 e 1% dos usuários), estão a dispneia, também conhecida como falta de ar. Há também os eventos muito raros, que acontecem com menos de 0,01% dos consumidores. Neste caso, a lista é extensa: erupções cutâneas, coceira, inchaço no rosto, pressão baixa, visão borrada, priapismo (ereção dolorosa que dura mais de quatro horas) e até mesmo eventos cardiovasculares graves (como infarto e AVC) podem ocorrer.
Os fabricantes destacam que, nos eventos cardiovasculares graves, “a maioria dos pacientes que relataram esses eventos tinha fatores de risco preexistentes”. Portanto, “não se pode determinar definitivamente se esses eventos são relacionados diretamente a esses fatores de risco, à tadalafila, à atividade sexual ou à combinação destes e de outros fatores”.
Por fim, Mourad cita outro efeito colateral que pode ocorrer com o uso indevido da tadalafila para fins sexuais: a dependência emocional ou psicológica.
“Não falamos aqui de um medicamento que atua no sistema nervoso central e que leva à dependência química. Mas a pessoa pode achar que só vai ter uma performance sexual boa se tomar o comprimido”, enfatiza.
“Vivemos na era do imediatismo, queremos tudo para ontem. E me preocupa essa nova geração de adolescentes e jovens adultos saudáveis, que tomam tadalafila sem nenhuma necessidade”, conclui a especialista.
Você já fez uso de tadalafila? Comente abixo!
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