O que o novo coronavírus pode causar no organismo de uma pessoa, ou seja, as sequelas que ele pode deixar continuam a preocupar. Isso porque um estudo do Instituto do Coração (InCor) apontou que 80% dos pacientes tiveram algum tipo de disfunção cognitiva após ter COVID-19.
Entre os principais problemas que os pesquisadores identificaram, estavam: perda de memória ou dificuldade para lembrar das coisas, dificuldade de concentração ou atenção, problemas de compreensão ou entendimento e algum nível de confusão.
Além disso, os cientistas também observaram dificuldades com julgamento ou raciocínio, habilidades prejudicadas, problemas na execução de várias tarefas e mudanças emocionais e de comportamento.
A pesquisa indicou que 62,7% dos participantes teve a memória de curto prazo afetada, enquanto 26,8% teve problemas com a memória de longo prazo. Além disso, observou-se que 92,4% tiveram alterações na percepção visual.
De acordo com a Agência Brasil, as sequelas cognitivas não atingiram apenas quem teve um caso grave de COVID-19. Pessoas que tiveram coriza ou sintomas mais leves também apresentaram algum grau de disfunção cognitiva.
O estudo teve uma primeira fase, entre março e setembro de 2020, que analisou 185 pacientes. Atualmente, eles trabalham com 430 participantes, mas o InCor ainda está aceitando voluntários.
O InCor faz parte do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Quem conduziu a pesquisa foi a neuropsicóloga e professora da FMUSP, Lívia Stocco Sanches Valentin.
Função executiva
O estudo também identificou que, após ter a COVID-19, algumas pessoas sofrem com a perda de coordenação motora e passam a cair muito.
Conforme Valentin, exames de ressonância magnética funcional indicaram que isso ocorre devido a um impacto na função executiva que atinge aqueles que já pegaram o novo coronavírus.
Ela explicou que a perda ou comprometimento dessa função também pode afetar o trabalho e as relações sociais. Como resultado disso, podem surgir outros problemas como depressão, ansiedade, angústia e agressividade, completou a professora da FMUSP.
MentalPlus
Em 2010, a neuropsicóloga desenvolveu a ferramenta MentalPlus, uma espécie de jogo para avaliar as disfunções neurológicas de pacientes com sequelas de anestesia geral profunda. Foi esse game que o estudo do InCor usou para analisar os problemas cognitivos pós-covid.
De acordo com Valentin, a ferramenta não apenas avalia esses problemas, mas também auxilia na recuperação. MentalPlus foi usado na pesquisa para avaliar pacientes que tiveram a COVID-19 em diferentes estágios, idades e classes econômicas.
Conforme aponta a neuropsicóloga, os resultados mostraram que, independente do grau da doença, da faixa etária ou do nível de escolaridade dos pacientes, aqueles que tiveram sintomas do novo coronavírus podem sofrer com disfunção cognitiva após ter COVID-19.
Como o novo coronavírus consegue causar esses problemas?
A professora da FMUSP esclareceu que o novo coronavírus consegue provocar sequelas cognitivas ao entrar pelas vias aéreas, comprometer o pulmão e baixar o nível de oxigênio.
Essa dessaturação de oxigênio chega ao cérebro, atinge o sistema nervoso central e, com isso, afeta as funções cognitivas dos pacientes, acrescentou a neuropsicóloga.
E agora?
Valentin explicou que o estudo evidencia a importância de incluir sintomas de problemas cognitivos, como sonolência diurna excessiva, fadiga, lapsos de memória e torpor (indisposição; redução da sensibilidade e de movimentos corporais), na avaliação clínica pós-covid.
De acordo com a professora da FMUSP, isso é necessário para que haja um diagnóstico precoce do problema em questão e, consequentemente, começar rapidamente o tratamento. Ela ressaltou que quanto antes se iniciar a terapia, mais rápida será a recuperação.
Além disso, menores serão os prejuízos mentais, emocionais, físicos e sociais para os pacientes. A neuropsicóloga afirmou que é possível reverter o quadro de problemas cognitivos pós-covid através de exercícios específicos, como os da ferramenta MentalPlus.
A atividade funciona como uma musculação mental e ao forçar a atividade cerebral, estimula-se o órgão a consumir mais oxigênio, melhorando seu desempenho aos pouquinhos.
Conforme a Agência Brasil, a Organização Mundial da Saúde (OMS) espera os resultados finais do estudo do InCor para usar a metodologia da pesquisa como padrão mundial no diagnóstico e reabilitação da disfunção cognitiva pós-covid.
Sabia que o que você come também pode afetar o seu cérebro? Confira as dicas da nossa nutricionista no vídeo a seguir: