Todo adulto já deve estar cansado de ouvir que praticar exercícios físicos é muito importante para manter a boa saúde.
E não é para menos. Isso pode auxiliar o controle do peso, diminuir os riscos de quedas, doenças no coração e alguns tipos de câncer, melhorar o sono, a vida sexual e o humor. As atividades física também podem aumentar a expectativa de vida.
Entretanto, não é preciso esperar chegar à idade adulta para começar a incluir as atividades físicas na rotina.
Conforme destacou a pediatra Perri Klass, em artigo para o The New York Times, a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que os adolescentes façam uma hora de exercícios de nível moderado a intenso todos os dias. Isso como complemento às atividades na escola.
Porém, Klass afirmou que muitos adolescentes não chegam perto de cumprir a recomendação. Ao mesmo tempo, o grupo apresenta um risco para a depressão e índices preocupantes de suicídio, acrescentou.
A relação entre os exercícios e a saúde mental

Ela mencionou um estudo de março de 2020 na revista The Lancet. A pesquisa indicou que mesmo uma atividade leve e menos tempo de sedentarismo entre os adolescentes tinha uma ligação com uma saúde mental melhor no futuro.
“Os pesquisadores analisaram a atividade de adolescentes nas idades de 12, 14 e anos, que tiveram a questão da depressão avaliada aproximadamente aos 18 anos de idade”, detalhou a pediatra.
Os participantes usaram dispositivos que mediam continuamente a sua atividade durante o dia. Caminhar em um ritmo casual, fazer compras, tocar um instrumento ou executar tarefas domésticas, por exemplo.
“O estudo identificou que o total de atividade física caiu entre as idades de 12 e 16, principalmente por conta da diminuição nessa atividade leve e no aumento do comportamento sedentário”, adicionou Klass.
Os níveis de atividade quando os jovens eram mais novos estavam associados à sua saúde mental mais tarde.
“As pontuações de depressão aos 18 eram mais baixas para cada 60 minutos adicionais de atividade leve por dia aos 12, 14 e 16 e maiores para cada hora sedentária a mais”, disse a pediatra.
Um dos autores do estudo foi o candidato a PhD em atividade física e saúde mental na University College London, Aaron Kandola. De acordo com ele, aos 16 anos, os adolescentes do estudo passavam, em média, aproximadamente 9 horas por dia dedicadas a atividades sedentárias.
Como mudar o cenário?
De acordo com Kandola, seria difícil diminuir esse comportamento de maneira significativa através dos exercícios porque isso exigiria muitos exercícios.
Então, se o objetivo é diminuir o tempo no sedentarismo em 2 horas, por exemplo, considera-se melhor incluir mais atividades leves no dia a dia. Isso pode ser feito ao reformular o ambiente escolar, por exemplo.
Isso porque, conforme citou Kandola, o ambiente escolar envolve ficar muito tempo sentado e poucos intervalos.
Sua sugestão de reformas para o sistema escolar inclui programar intervalos regulares para atividades na escola e o uso de standing desks. Ou seja, as mesas que dá para usar em pé, que já foram testadas em ambientes de trabalho.
Outra pesquisa
A pediatra Perri Klass também falou a respeito de um estudo de 2017. Ele se baseou em um grande projeto de pesquisa sobre adolescentes europeus. O trabalho envolveu mais de 11 mil jovens de 10 países com idade entre 13 a 15 anos.
Observou-se que somente 13,6% deles cumpria a orientação de fazer 60 minutos de exercícios de nível moderado a intenso diariamente. Houve uma associação entre a atividade física mais frequente e os níveis mais baixos de depressão e ansiedade.
“A diferença mais significativa foi entre o grupo menos ativo (ativos por 60 minutos ou mais em zero a três dias dos últimos 14 dias) e os ligeiramente ativos (ativos por 60 minutos ou mais nos quatro a 14 dias dos últimos 14 dias)”, explicou.
O grupo mais ativo (ativos por 60 minutos ou mais nos oito a 14 dias dos últimos 14 dias) tinha os níveis mais altos de bem estar e mais baixos de depressão e ansiedade. “Embora, dentro desse grupo, a atividade diária não tenha conferido benefício especial”, completou.
Ela relatou ainda que demonstrou-se que participar de uma equipe esportiva tinha uma ligação com uma melhoria a mais na saúde mental. Além daquela relacionada à atividade física em si, algo que foi particularmente forte para as garotas.
Para a autora do estudo, a pesquisadora da University College Cork, Elaine McMahon, manter as garotas ativas durante a adolescência exige oferecer uma variedade de atividades.
Ou seja, a integração de atividades no currículo escolar, motivá-las a caminhar ou andar de bicicleta até a escola e garantir tempo livre durante a semana da adolescente.
As crianças também podem se beneficiar
Klass mencionou também o professor associado de ciência do movimento humano da Old Dominion University, Xihe Zhu.
Zhu foi um dos autores de um estudo do ano de 2019. A pesquisa envolveu 35 mil crianças e adolescentes com idade entre seis a 17 anos nos Estados Unidos.
A pesquisa indicou que os participantes que relataram não praticar exercícios tinham uma tendência duas vezes maior de ter problemas de saúde mental.
Especialmente os problemas relacionados às ansiedade e depressão, em comparação aos que obedeciam as orientações referentes à prática de atividades físicas.
Mesmo se as crianças se exercitavam uma a três vezes por semana, disse ele, havia uma correlação forte com índices mais baixos de ansiedade e depressão.
“A boa duração do sono e as atividades extracurriculares também demonstraram uma associação com uma saúde mental melhor. Aliás, a atividade física pode melhorar a qualidade do sono, o que tem uma ligação próxima com a saúde mental”, completou a pediatra.
Conforme o professor de ciência do movimento humano, as pessoas com problemas de saúde mental fazem pouca atividades físicas.
A hora da ponderação
A pediatra ressaltou que os estudos transversais que mostram uma associação entre os exercícios e a melhoria da saúde mental não podem mostrar de fato uma causa.
Entretanto, “uma revisão de 2019 de Kandola e seus colegas citou uma série de possíveis maneiras pelas quais os exercícios podem afetar a depressão”, completou Klass.
Como o estímulo de processos e vias neurológicas, a redução da inflamação e a promoção da autoestima, apoio social e autoeficácia.
Klass apontou ainda que estar com depressão ou algum outro problema de saúde mental pode impedir uma pessoa de praticar exercício. Para ela, pode-se ver os benefícios dos exercícios neste sentido antes do que se imagina.
Começar é o primeiro passo
A pesquisadora Elaine McMahon apontou que qualquer tipo de atividade moderada, ou seja, apenas sair para fazer algum exercício, já pode trazer melhorias. Por exemplo, menores níveis de sintomas depressivos e de ansiedade e melhorias no bem estar.
É lógico que com o tempo de prática de exercícios físicos vai ocorrer uma evolução natural na intensidade. Até que para que se tenha mais benefícios físicos.
Mas a ideia aqui é: a criança, adolescente ou adulto que está parado ou sedentário precisa começar a se mexer. Até porque ser sedentário pode trazer uma série de problemas. Tanto que uma pesquisa apontou que o sedentarismo mata duas vezes mais que a obesidade.
Vale destacar ainda que os exercícios físicos não funcionam como uma cura para os problemas de saúde mental como depressão, ansiedade e outros.
Eles podem ser benéficos. Porém, para tratar esses problemas adequadamente é fundamental ter o acompanhamento profissional de um psicólogo ou psiquiatra, conforme a gravidade do caso.
Fontes e referências adicionais
- MedlinePlus – Benefits of Exercise
- Science Direct – Depressive symptoms and objectively measured physical activity and sedentary behaviour throughout adolescence: a prospective cohort study
- Science Direct – Movement and mental health: Behavioral correlates of anxiety and depression among children of 6–17 years old in the U.S.
- Pub Med – Physical activity in European adolescents and associations with anxiety, depression and well-being
- Scielo – Desenhos de pesquisa