Após sentir uma forte dor no peito, o porteiro Oswaldo de Jesus Santos, de 68 anos, foi diagnosticado com tuberculose. Sem notar melhora dos sintomas depois do tratamento inicial, ele marcou uma nova consulta, fez exames e descobriu que estava com câncer no pulmão.
Poucos meses depois, Oswaldo se tornaria um dos poucos brasileiros a passar por uma cirurgia inovadora. O procedimento consistiu, de forma resumida, na retirada completa do pulmão direito do seu corpo. O órgão, então, foi operado em uma mesa cirúrgica à parte, onde as massas tumorais foram removidas.
Feito isso, algumas horas depois, o mesmo pulmão foi reimplantado de volta no tórax do paciente, onde está funcionando até hoje.
O método, chamado de autotransplante, permitiu que a doença do Oswaldo fosse controlada, e após três anos, ele ainda não apresentou indícios de recaídas ou de retorno do tumor.
Mas o procedimento não é indicado para todos os pacientes com câncer de pulmão e requer uma ampla avaliação por parte de uma equipe médica antes de ser realizado.
Oncologia e transplante
O cirurgião torácico Marcos Samano foi o responsável pelos três primeiros autotransplantes de pulmão no país, dois deles ocorreram pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Samano também é professor de cirurgia torácica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
O médico contou que há aproximadamente 12 anos leu artigos sobre essa modalidade cirúrgica que, segundo ele, combina duas experiências e especialidades distintas da medicina: a oncologia e a área de transplantes.
Ele relatou ainda que a decisão de fazer essas cirurgias ocorreu somente depois de muita conversa entre os especialistas, que se juntaram em um comitê para analisar as vantagens e desvantagens de realizá-la em cada paciente.
Nos três casos, eles concluíram que os pacientes tinham as condições para serem submetidos à operação e que o autotransplante poderia conceder mais benefícios do que outros tratamentos, como a quimioterapia e a radioterapia tradicionais.
Como é o autotransplante?
Após optar pela cirurgia, o paciente passa por exames para garantir que realmente tem as condições de enfrentar o procedimento e para que a equipe médica possa planejar detalhadamente cada etapa da operação.
A cirurgia dura em torno de oito horas e começa assim: com o paciente anestesiado e deitado de lado, a equipe faz uma incisão pela lateral do corpo, na altura das costelas e abaixo da axila. Após realizar cortes em camadas mais superficiais, os especialistas chegam ao lobo do pulmão atingido pelo tumor.
Eles separam as três estruturas principais que conectam o pulmão ao corpo (uma veia, uma artéria e um brônquio) e removem o órgão, colocando-o em uma mesa cirúrgica à parte, onde ele fica por cerca de duas horas para a remoção dos tumores.
Finalizada essa etapa, o lobo do pulmão livre de tumores é devolvido ao local de origem através do mesmo buraco de onde foi retirado. Então, os médicos costuram as veias, as artérias e os brônquios, restabelecendo a comunicação com o restante do corpo.
Durante o procedimento, o corpo do paciente continua funcionando normalmente e é monitorado pela equipe médica. Marcos Samano destacou que, como o órgão é do próprio paciente, não há risco de rejeição pelo organismo.
Isso tira a necessidade do paciente tomar remédios mais fortes para suprimir a ação do sistema imunológico. As informações são do G1.