Para emagrecer e adquirir uma boa forma não tem jeito: é necessário fazer exercício físico e mudar a alimentação. Bem mais do que aderir momentaneamente a uma dieta da moda, isso significa se reeducar, passando a fazer escolhas mais saudáveis no cardápio e deixando certos alimentos mais calóricos de lado.
Entretanto, algo que pode dificultar esse processo é o fato de que alguns alimentos são realmente difíceis de serem cortados da alimentação ao menos terem o seu consumo reduzido. É como se a pessoa estivesse viciada neles.
Na realidade, não é como. Uma pessoa realmente pode se viciar em determinados tipos de alimentos, de acordo com indícios apontados pela ciência. E, como já era de se esperar, as evidências apontam que entram na lista dos alimentos viciantes aqueles altamente processados, gordurosos e ricos em açúcar.
E esses indícios continuam a aparecer: um estudo científico recente identificou que certos comportamentos e atitudes que as pessoas possuem quando estão próximas de determinados tipos de comida apresentam sinais de vício.
A pesquisa foi coordenada pela Dr. Nicole Avena, da Escola de Medicina Icahn no Monte Sinai, nos Estados Unidos. Para chegar a essa conclusão e identificar quais seriam os alimentos com maior poder viciante, a autora do trabalho reuniu 504 participantes e pediu que eles apontassem quais tipos de alimentos lhes causavam maiores problemas.
Para esquematizar essa identificação, Nicole utilizou uma escala que mede o vício em alimentos (Yale Food Addction Scale, criada pela psicóloga e professora da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, Ashley Gearhardt). Esse método pede que os participantes respondam quantas vezes suas atitudes em relação a determinada comida condiziam com expressões como “Eu comi ao ponto de me sentir mal fisicamente” ou “Eu passo muito tempo me sentindo fraco ou fatigado por comer em excesso”.
As comidas mais viciantes apontadas pelo estudo:
1- Pizza
2- Chocolate
3- Batata Frita
4- Cookie
5- Sorvete
As comidas menos viciantes apontadas pelo estudo:
1- Pepino
2- Cenoura
3- Feijões
4- Maçã
5- Arroz (sem molho)
A partir dos resultados obtidos com as informações dadas por essas pessoas, Nicole fez um ranking – com notas que vão de 1 (sem nenhum problema) a 7 (extremamente problemático) –, elencando os alimentos e o nível de problema que eles apresentam em relação ao vício.
As notas foram: pizza (4,01); chocolate (3,73); salgadinhos chips (3,73); cookies (3,71) e sorvete (3,68) apareceram na lista das comidas mais viciantes.
Por outro lado, opções mais saudáveis como pepino sem molho (1,53); cenoura (1,60); grãos sem molho (1,63); maçã (1,66) e arroz integral puro, sem molho (1,74) foram apontados como os alimentos com menor potencial de vício.
Como as evidências já nos mostravam, as comidas com maior chance de viciar uma pessoa são as mais gordurosas, processadas e ricas em açúcar. Vale ressaltar ainda que essas comidas também são aquelas que apresentam alta carga glicêmica, índice que mede como certo alimento aumenta o nível de açúcar do sangue depois que ela o consome.
Muito açúcar no sangue é a mesma coisa que a chama hiperglicemia, condição que contribui para o desenvolvimento de problemas como diabetes e pode causar complicações como a retinopatia (problema ocular), neuropatia (problema nos nervos) e a angiopatia (problema nos vasos sanguíneos).
A palavra da pesquisadora
A responsável pela pesquisa falou um pouco sobre como acontece o processo de vício por comida no organismo: “Diversos estudos realmente sugerem que alimentos muito saborosos e altamente processados podem produzir comportamentos e mudanças no cérebro que poderiam ser usados no diagnóstico de um vício, como em drogas ou álcool.
No entanto, como esses estudos foram realizados, de maneira geral, em animais, cientistas como Nicole, que tem estudado o tema há mais de 15 anos, ainda precisam trabalhar para provar que determinados tipos de alimento deixam as pessoas viciadas de verdade.
Por agora, a esperança da pesquisadora é que o seu trabalho – que foi divulgado na publicação PLOS ONE – possa um dia contribuir com os tratamentos contra a obesidade e distúrbios alimentares para as próximas gerações. “Isso pode não ser uma simples questão de ‘reduzir’ o consumo de certos alimentos, mas preferivelmente, de adotar métodos usados para cortar o cigarro, a bebida e o uso de drogas.”
Ela também ressaltou a importância do trabalho para ajudar as pessoas que sentem que tem problemas relacionados ao vício com comida, mas que não conseguem obter um diagnóstico médico. “Esse estudo está ajudando a literatura a avançar para que nós possamos ajudar quem tem distúrbios alimentares relacionados ao vício”, finalizou.