O termo médico citólise significa morte celular. A todo momento, muitas células morrem em nosso organismo, o que é completamente normal, pois faz parte da fisiologia natural do nosso corpo. Porém, em determinados contextos, a citólise intensa e persistente pode ser reflexo de um problema de saúde, geralmente ginecológico.
No corpo feminino, a citólise é comumente observada no colo do útero e na vagina, devido à ação de bactérias (lactobacilos) sobre as células que compõem a camada intermediária que reveste a parte interna do colo uterino e da vagina. Essas células são alvo dessas bactérias, pois elas produzem muito glicogênio, que propicia o crescimento exagerado das populações de lactobacilos.
No entanto, a citólise nem sempre é causada pela ação danosa das bactérias. Na verdade, a citólise ocorre naturalmente ao final de um ciclo menstrual e durante a gestação. Esse processo também pode ocorrer em resposta a alterações hormonais, devido ao uso de anticoncepcionais.
Veja mais detalhes sobre o que é citólise, quando ela representa um problema de saúde e como são feitos o diagnóstico e os tratamentos das condições patológicas que envolvem citólise.
Citólise: quando se preocupar
Pode ser que você tenha se deparado com o termo citólise em um laudo de exame citopatológico, como o papanicolau e o esfregaço cervicovaginal, e tenha ficado preocupada com a possibilidade disso indicar alguma doença. Veja para que serve o exame papanicolau.
Caso você não apresente nenhum sintoma clínico, é provável que seu médico ou médica ginecologista te tranquilize e não faça mais nenhuma investigação.
Isso porque a citólise pode ocorrer em condições fisiológicas (normais), quando há estímulos dos hormônios femininos, para aumentar a camada intermediária que reveste o útero e a vagina internamente.
Isso ocorre, por exemplo, no final da segunda parte do ciclo menstrual, antes da menstruação, que marca um novo ciclo. Como há descamação do endométrio, há morte de células.
A citólise também pode aparecer em laudos de exames citopatológicos durante uma gravidez ou durante um tratamento com anticoncepcionais.
Mas caso você tenha sinais e sintomas ginecológicos, é possível que você passe por mais exames, para esclarecer se a citólise está indicando algum problema de saúde.
Os sinais e sintomas que alertam para um possível problema ginecológico são:
- Corrimento vaginal abundante e de cor amarelada, esverdeada ou acinzentada.
- Dor, ardor ou outro incômodo durante a relação sexual.
- Dor ao urinar.
- Coceira na região genital.
O que pode causar a citólise
A principal doença ginecológica associada à ocorrência de citólise é a vaginose citolítica, cujos sintomas são bem parecidos com os da candidíase.
A vaginose citolítica é uma doença rara, que ocorre por um quadro crônico de diminuição do pH vaginal, ou seja, o pH da vagina fica mais ácido do que o normal. Nesta condição, os lactobacilos vaginais proliferam exageradamente.
Os lactobacilos residem naturalmente na região vaginal, porém de forma equilibrada com os outros microrganismos que compõem a microbiota. Quando essa espécie de bactéria se multiplica exageradamente, ocorrem danos nas células epiteliais vaginais, que se rompem e morrem, isto é, sofrem citólise.
A microbiota vaginal é altamente influenciada por fatores internos e externos, o que significa que as populações microbianas podem facilmente ser alteradas, quanto ao número populacional e espécies presentes, de acordo com as mudanças hormonais, a faixa etária, os hábitos sexuais, de higiene e de alimentação, o estado do sistema imune e os medicamentos utilizados.
Inclusive, quando em quantidade equilibrada, os lactobacilos fazem parte do sistema de defesa do corpo feminino contra a ação de fungos, vírus, bactérias e outros microrganismos potencialmente patogênicos.
Como os lactobacilos deixam o pH vaginal ácido, muitas espécies de microrganismos não conseguem sobreviver na vagina e, assim, ela fica protegida contra várias infecções.
Diagnóstico diferencial de vaginose citolítica
A candidíase, a vaginose citolítica, a vaginose bacteriana e outras vaginites (inflamação na vagina) causadas por infecções sexualmente transmissíveis produzem sintomas muito semelhantes e, por isso, passam por um processo de diagnóstico diferencial.
Esses problemas ginecológicos podem ter como sintoma o prurido (coceira) e ardor na vagina, que decorrem da morte das células da parede vaginal. Assim, como a citólise pode estar presente em todas essas condições, é preciso diferenciá-las, para chegar ao diagnóstico correto.
Sendo assim, é possível que uma mulher com corrimento vaginal abundante, coceira e ardor na vagina tenha que fazer testes para as principais infecções sexualmente transmissíveis: clamídia, gonorreia e tricomoníase.
Descartada a hipótese de infecção sexualmente transmissível, o/a ginecologista faz um exame de esfregaço das células vaginais e avalia o pH vaginal. Com este exame, é possível identificar se a causa da citólise é a multiplicação exagerada de lactobacilos.
Algo que chama a atenção dos médicos e médicas ginecologistas para o diagnóstico de vaginose citolítica são aqueles casos de candidíase e vaginose bacteriana complicadas, que não respondem bem aos antifúngicos e antibióticos, respectivamente.
A recorrência desses quadros clínicos pode indicar que não se tratam de candidíase ou vaginose bacteriana, mas de vaginose citolítica.
Tratamento da vaginose citolítica
O tratamento da vaginose citolítica costuma ser longo, de 4 a 6 semanas, em média. Normalmente, ele é feito com a aplicação de cremes vaginais à base de hidrocortisona ou clindamicina.
Cerca de um terço das mulheres tratadas volta a desenvolver um quadro de vaginose citolítica no primeiro ano após o tratamento. Para elas, recomenda-se que o tratamento seja feito com um creme vaginal com outro princípio ativo, visando uma maior eficácia contra as bactérias causadoras do problema.
Fontes e referências adicionais
- Aspectos laboratoriais da vaginose citolítica e candidíase vulvovaginal como uma chave para o diagnóstico preciso: Um estudo piloto, Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 2020; 42(10): 634-641.
- Cytolytic vaginosis: an underdiagnosed pathology that mimics vulvovaginal candidiasis, Acta Obstetricia e Ginecologia Portuguesa, 2017; 11(2): 106-112.
- Vaginose citolítica: revisão de escopo, Research, Society and Development, 2022; 11(12): 1-7.
- Influência da frequência de coitos vaginais e da prática de duchas higiênicas sobre o equilíbrio da microbiota vaginal, Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 2005; 27(5): 257-262.
Fontes e referências adicionais
- Aspectos laboratoriais da vaginose citolítica e candidíase vulvovaginal como uma chave para o diagnóstico preciso: Um estudo piloto, Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 2020; 42(10): 634-641.
- Cytolytic vaginosis: an underdiagnosed pathology that mimics vulvovaginal candidiasis, Acta Obstetricia e Ginecologia Portuguesa, 2017; 11(2): 106-112.
- Vaginose citolítica: revisão de escopo, Research, Society and Development, 2022; 11(12): 1-7.
- Influência da frequência de coitos vaginais e da prática de duchas higiênicas sobre o equilíbrio da microbiota vaginal, Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 2005; 27(5): 257-262.