A essa altura do campeonato você com certeza já está ciente da pandemia do novo coronavírus, dos aproximadamente 372 mil casos e cerca de 16 mil mortes confirmadas no mundo e dos mais de 1.600 casos e 25 mortes confirmadas no Brasil, de acordo com dados oficiais da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde do dia 23 de março.
Você também já deve estar cansado de ouvir que uma das importantes medidas de prevenção contra o COVID-19 é lavar regularmente e cuidadosamente as mãos com água e sabão por 20 segundos ou higienizá-las com álcool em gel 70%, para eliminar os vírus que possam estar presentes nas mãos. Inclusive, vale a pena conhecer os perigos de não lavar as mãos – além do coronavírus.
Outra coisa que infelizmente aconteceu e que você também já deve saber é que as unidades de álcool em gel sofreram um grande aumento de preço, além de ter se tornado bastante difícil encontrar o produto para comprar. Com isso, surgiram tutoriais de como preparar álcool em gel em casa que pareciam ser a solução de todos os problemas, quando na verdade, são mais uma das mentiras sobre o novo coronavírus nas quais não se deve acreditar.
Uma evidência de que realmente precisamos tomar muito cuidado com as informações que recebemos pelas redes sociais e que devemos sempre checá-las nas fontes oficiais das autoridades de saúde é que o Conselho Federal de Química (CFQ) emitiu uma nota alertando contra o uso dessas versões caseiras do álcool em gel, não somente por se tratar de uma transgressão à lei brasileira, como também por representar riscos para a saúde da população.
Mas quais são os perigos do álcool em gel caseiro?
Essas receitas caseiras de álcool em gel ensinadas na internet costumam recomendar a elaboração do produto a partir do álcool líquido concentrado. O CFQ alertou que o uso do álcool líquido em concentrações elevadas aumenta muito o risco de que ocorram acidentes que podem resultar em irritações na pele e nas mucosas, queimaduras de alto grau e incêndios.
A organização inclusive ressaltou que a comercialização do álcool líquido em concentrações superiores a 54 °GL (medida referente ao grau alcoólico do produto) está proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), justamente devido aos perigos que ele pode trazer à saúde pública. A graduação acima de 54 °GL está permitida na forma de gel.
Mas esse não é o único perigo que tentar produzir o seu próprio álcool em gel em casa traz: o Conselho advertiu que, dependendo do material utilizado como espessante (para engrossar, dar aquela consistência de gel), em vez de eliminar os micro-organismos, o resultado pode ser a potencialização da proliferação dessas substâncias – justamente o contrário do desejado.
O CFQ lembrou muito bem que enquanto os produtos industrializados passam por um processo rigoroso de produção, com padrões estabelecidos que devem ser seguidos, etapas de fabricação monitoradas e controles para garantir padronização, regularidade e qualidades dos produtos ofertados ao consumidor, o álcool em gel feito em casa não passa por nada disso e, portanto, não pode ter a sua eficácia e segurança garantida.
Por que precisa ser o álcool em gel 70%?
De acordo com o CFQ, a versão 70% do álcool em gel é a que é recomendada pela Anvisa aos serviços de saúde brasileiros e indicada pela OMS dentro da Lista de Medicamentos Essenciais.
O órgão também esclareceu que pesquisas realizadas em todo o mundo apontaram que a melhor eficiência do álcool etílico contra micro-organismos patogênicos – causadores de doenças, como é o caso do novo coronavírus – é observada na graduação de 70%.
Ao contrário do que o senso comum pode imaginar, produtos com uma graduação alcoólica muito superior ao de 70% apresentam uma eficácia mais baixa – isso porque há uma evaporação mais rápida, o que diminui o tempo de contato entre o álcool e a substância causadora da doença, explicou o conselho.
O CFQ apontou ainda que nessas soluções alcoólicas com graduação muito superior aos 70% falta água para conduzir o álcool até o interior da célula do micro-organismo que se deseja eliminar. Sem água ou com pouca água, o álcool desidrata sem matar o patógeno, completou o órgão.
Ao ter a sorte de encontrar o álcool em gel na graduação indicada, ainda é importante checar a embalagem do produto em busca de indícios de que ele é de boa procedência. O conselho da organização é desconfiar daqueles que não apresentam rótulo ou que não informam o número de registro do produto e os dados do profissional técnico responsável pelo mesmo, como nome e número de registro profissional.
O que fazer se eu não encontrar o álcool em gel 70%?
A recomendação do CFQ para quem não encontrar o álcool em gel 70% é continuar lavando muito bem as mãos com água e sabão, porém, aumentar a frequência das lavagens, uma vez que não estará fazendo uso do álcool em gel para complementar a higienização.
A organização explicou que, de maneira geral, os sabonetes, sabões e detergentes possuem propriedades químicas que removem a maior parte da flora microbiana da superfície da pele. Ao lavar as mãos com água e sabão, ocorrem interações simultâneas entre moléculas que fazem com que os micro-organismos sejam envolvidos pelo sabão, removidos da pele e levados embora com a água, acrescentou o conselho.
Produtos que não devem ser usados no lugar do álcool em gel 70%
O CFQ advertiu e justificou os motivos pelos quais não é indicado o uso dos seguintes produtos em substituição ao álcool em gel recomendado pelas autoridades de saúde:
- Álcool isopropílico: ele provoca maior secura na pele e é duas vezes mais tóxico, ao mesmo tempo em que a sua atividade contra o vírus é inferior ao álcool etílico;
- Vinagre, suco de limão e outros ácidos: eles podem lesionar a pele;
- Etanol de combustíveis ou bebidas alcoólicas: eles até são compostos por álcool etílico, porém, cada produto possui uma graduação alcoólica, é elaborado para uma finalidade específica, carrega outras substâncias para suprir tais fins e, portanto, pode causar reações indesejadas na pele ou danificar superfícies, além de não ter eficácia garantida contra os germes;
- Produtos domésticos: os desinfetantes também têm a função de eliminar micro-organismos causadores de doenças, mas o seu uso não é destinado às mãos, tanto que é recomendado por luvas ao mexer com eles. Os produtos domésticos de limpeza podem ser oxidantes ou corrosivos.
Como higienizar a casa e os equipamentos eletrônicos?
Limpar e desinfetar os objetos e superfícies tocados com frequência, como corrimões de escada, mesas, maçanetas, utensílios de escritório, computadores, celulares e tudo mais que for encostado ou manuseado no dia a dia – sim, até o seu smartphone pode ser responsável pela infecção do vírus – é uma das estratégias importantes de prevenção contra o novo coronavírus.
A orientação do CFQ é continuar usando o produto desinfetante adequado para cada tipo de superfície da casa que já era utilizado anteriormente, sem descuidar da limpeza. Pelo contrário, a recomendação é reforçar a limpeza dos ambientes da casa.
Quanto aos equipamentos eletrônicos, como tablets, computadores e celulares que são manuseados constantemente e, portanto, podem ser contaminados e passar a abrigar os vírus, o órgão apontou que o produto mais indicado é o álcool isopropílico.
Ele possui um carbono a mais em comparação ao etanol na cadeia carbônica, o que o torna menos miscível (misturável em água), algo que dificulta a oxidação das peças, apontou o conselho. No entanto, o CFQ orientou a tomar cuidado com a quantidade aplicada do produto e alertou que o aparelho não deve ser molhado – basta passar um pano, lenço ou papel embebido no álcool isopropílico no equipamento eletrônico.
Outras formas de prevenção contra o novo coronavírus
Além de lavar muito bem as mãos com água em sabão por 20 segundos ou usar o álcool em gel 70% e higienizar as superfícies e os aparelhos eletrônicos, para prevenir-se contra o novo coronavírus é necessário:
- Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas, o que previne que as mãos contaminadas transfiram o vírus para os olhos, nariz e boca;
- Não ter contato próximo com pessoas que estiverem doentes;
- Manter pelo menos dois metros de distância de alguém que esteja tossindo ou espirrando – isso serve para diminuir os riscos de respirar gotículas respiratórias que contenham vírus, caso a pessoa esteja doente;
- Certificar-se de que tanto você quanto as pessoas próximas a você praticam uma boa etiqueta respiratória: cobrir a boca e o nariz com o cotovelo dobrado ou com um lenço de papel ao tossir ou espirrar – no caso do lenço, ele deverá ser jogado fora depois da tosse ou espirro;
- Ficar em casa o máximo de tempo possível, principalmente se estiver sentindo-se mal, e procurar o atendimento médico se apresentar febre, tosse e dificuldade para respirar;
- Evitar aglomerações de pessoas;
- Manter os ambientes bem ventilados;
- Evitar o compartilhamento de objetos de uso pessoal como talheres, pratos, copos ou garrafas;
- Manter-se informado sobre os últimos desdobramentos acerca do coronavírus e seguir as instruções das autoridades locais e mundiais de saúde.
Com informações da OMS, do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Agência Brasil.