Atualmente, o acúmulo de placas nas artérias, conhecido como aterosclerose, é considerado a causa de cerca de 50% das mortes na sociedade ocidental. Pesquisadores da Universidade da Campânia Luigi Vanvitelli, na Itália, descobriram que grande parte dessa matéria são microplásticos encontrados na natureza.
A aterosclerose é a condição cardiovascular que se caracteriza pelo acúmulo de colesterol e gorduras, conhecido como placa. Pessoas com esse problema têm mais riscos de desenvolver doenças cardiovasculares em geral, como doença arterial coronariana, além do risco aumentado de ter outras condições, como diabetes, doença renal e obesidade.
Os cientistas apontaram que as pessoas com microplásticos na placa arterial tinham 4,5 vezes mais chances de sofrer um ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou até mesmo morrer, cerca de 34 meses após a cirurgia de endarterectomia carotídea, comparados àqueles que não tinham plástico nas artérias.
No estudo publicado no The New England Journal of Medicine, cientistas relatam que cerca de 60% dos 304 participantes que receberam uma endarterectomia carotídea tiveram quantidades consideráveis de polietileno nas placas removidas das suas artérias. Ademais, até 12% deles tinham cloreto de polivinila (PVC) em suas placas.
O que são microplásticos?
Estes são objetos microscópicos, com menos de 5 milímetros de comprimento.
“Microplásticos são minúsculas partículas de plástico que são fabricadas intencionalmente, como microesferas e purpurina, ou formadas a partir da decomposição de produtos plásticos, como roupas e embalagens de alimentos no meio ambiente. Podemos ingeri-los através dos alimentos e da água, inalá-los do ar e absorvê-los através da pele”, explica Rebecca Fuoco, diretora de comunicações científicas do Green Science Policy Institute, cientista envolvida no estudo.
Humanos e animais podem ser expostos a microplásticos, de acordo com estudos anteriores, por meio de torneiras e água engarrafada contaminadas, peixes, sais alimentares e mel de abelha.
As pesquisas antigas apontam também que a presença de microplásticos no corpo acarreta aumento de distúrbios hormonais, imunidade prejudicada e impacto negativo no microbioma intestinal. Já o novo estudo estima que norte-americanos ingerem entre 39.000 a 52.000 partículas microplásticos todos os anos.
Microplásticos e saúde cardiovascular
O principal autor do estudo atual, Raffaele Marfella, que atua como professor do Departamento de Ciências Médicas e Cirúrgicas Avançadas da Universidade de Campânia Luigi Vanvitelli, diz que outras pesquisas indicam a presença de microplásticos e nanoplásticos em tecidos humanos, mas, até o momento, esta é a primeira vez que ocorre a associação com doenças cardiovasculares.
“O interessante vem de nossa experiência relacionada ao estudo da aterosclerose. Especificamente, o aumento de eventos cardiovasculares em pacientes com nenhum ou poucos fatores de risco nos levou a considerar e procurar outras condições que pudessem influenciar a progressão da aterosclerose e, portanto, de eventos cardiovasculares.
Nesse contexto, pensamos que a poluição, especialmente a enorme quantidade de plástico, contamina o nosso planeta. Então, primeiro nos perguntamos se o plástico, na forma de micro ou nanoplásticos, também poderia degradar as nossas artérias e se a presença de um material tão biologicamente inerte poderia alterar a saúde dos nossos vasos”, explica o profissional ao Medical News Today.
O profissional comenta o resultado do estudo:
“A presença do plástico nas placas ateroscleróticas humanas é surpreendente. Infelizmente, a contaminação por plástico de tecidos humanos não é única, mas generalizada. É preocupante o seu provável efeito na saúde cardiovascular”.
Ademais, o profissional, após revisar a pesquisa para o MNT, concordou que é necessário compreender melhor os impactos dos microplásticos na saúde humana, já que estão em toda parte.
“Temos razões para acreditar que são prejudiciais devido a pesquisas emergentes em seres humanos, como esse estudo, bem como a um conjunto de evidências de que podem causar danos reprodutivos, de desenvolvimento e outros danos em animais marinhos”, analisa.
“Precisamos de investigação, inovação e ação política para resolver a raiz do problema, que é a proliferação de plásticos e produtos petroquímicos. Muitos usos dos piores tipos de plásticos não são essenciais ou já podem ser substituídos por materiais mais seguros. Para outros, precisamos acelerar a investigação de alternativas que não sejam feitas a partir de combustíveis fósseis ou carregadas de produtos petroquímicos”, conclui Fuoco.