Fraturas por estresse ou por fadiga são microfraturas provocadas pela repetição de forças que, isoladamente, não seriam capazes de ocasionar a fratura.
Geralmente acometem as articulações dos membros inferiores, pelo estresse repetitivo que são submetidos durante exercícios de impacto. Ainda assim, outros ossos serão acometidos a depender da atividade esportiva do paciente. Fraturas por estresse nos membros superiores são incomuns para a maior parte dos atletas, mas acontecem com alguma frequência em atletas que utilizam muito o apoio do peso sobre os braços, como os ginastas ou jogadores de baseball.
História clínica da fratura por estresse
A fratura por estresse está relacionado um aumento repentino ou uma modificação na rotina esportiva do paciente. São situações que devem gerar suspeita para as fraturas por estresse:
- Atletas de alto rendimento que, em véspera de competição, aumentam subitamente a frequência, duração e intensidade dos treinos;
- Pessoas sedentárias que decidem iniciar a prática de atividades físicas, em frequência e intensidade acima do que sua condição física permite naquele momento.
Diagnóstico das fraturas por estresse
O diagnóstico das fraturas por estresse deve ser considerado sempre que houver uma mudança repentina na frequência, intensidade ou tipo de atividade física praticada, e poderá ser confirmado por meio de radiografias ou da ressonância magnética.
- Radiografias: inicialmente serão normais, mas passado as primeiras semanas de dor eventualmente poderão demonstrar uma linha de fratura incompleta ou uma reação óssea no local, com o espessamento da cortical do osso, que representa a tentativa do organismo de consolidar a fratura.
- Ressonância magnética: identifica as fraturas por estresse já nas fases iniciais. Em alguns casos a linha de fratura poderá ser vista nitidamente, em outros será observado apenas um edema ósseo reacional. O edema ósseo associado a uma história clínica sugestiva será o suficiente para se fechar o diagnóstico.
Fatores de risco
Ainda que uma mudança súbita na rotina esportiva possa desencadear as fraturas por estresse em qualquer atleta, alguns fatores colocarão os mesmos sob maior risco. Alterações biomecânicas, desalinhamentos ósseos, fadiga ou calçados inadequados são todos fatores que levarão a uma maior sobrecarga no osso colocando o mesmo sob risco para as fraturas por estresse.
Problemas nutricionais podem dificultar na recuperação óssea entre treinos e, em casos extremos, prejudicar a qualidade do osso. Isso acontece especialmente entre as mulheres, onde pode desencadear a tríade da mulher atleta.
Tríade da mulher atleta
A tríade da mulher atleta caracteriza-se pela associação de distúrbios nutricionais, amenorreia e osteoporose. É um problema que acomete predominantemente atletas de esportes que exigem físicos extremamente magros, como a ginástica artística ou rítmica, o ballet ou o nado sincronizado, mas pode acometer qualquer mulher atleta que esteja se submetendo a dietas com grande restrição calórica.
A mulher tem uma demanda extra de energia para a manutenção de sua fisiologia reprodutiva e os ciclos menstruais. Na falta desta energia, os hormônios ficam comprometidos, até que chegue ao ponto de a mulher parar de menstruar. Além disso, o metabolismo ósseo fica prejudicado e a mulher passa a desenvolver osteoporose. A osteoporose, em uma mulher submetida a grande demanda física, faz da atleta uma grande candidata a desenvolver fraturas por estresse.
Classificação
As fraturas por estresse são classificadas em dois grupos:
- Fraturas de baixo risco: localizadas na áreas de compressão do osso. Entre elas temos: fêmur proximal (cortical ínfero-medial), diáfise da tíbia (cortical posterior), tíbia proximal, fíbula, 2o ao 4o metatarso, membros superiores e costelas;
- Fraturas de alto risco: ocorrem em áreas de tensão do osso. Incluem-se neste grupo: fêmur proximal (cortical súpero-lateral), diáfise da tíbia (cortical anterior), maléolo medial, navicular, e 5o metatarso.
Tratamento
O afastamento das atividades de impacto que estejam sobrecarregando o osso é a medida mais importante a ser adotada diante de um paciente com fratura por estresse. Insistir em treinar apesar da dor não apenas impedirá a cicatrização da fratura como colocará o atleta em risco para, frente a um trauma banal, desenvolver fraturas completas do osso.
Além do afastamento das atividades, é importante a correção de todos os fatores de risco discutidos acima e que porventura sejam identificados no paciente. Uso de palmilhas e calçados adequados são algumas das medidas que podem ser adotadas, a depender do caso.
O tratamento específico depende de qual o osso acometido pela fratura por estresse
- Fraturas de baixo risco tendem a responder bem com o tratamento não cirúrgico, principalmente com o afastamento das atividades de impacto e correção dos fatores de risco discutidos acima, quando possível. Dependendo da intensidade da dor, pode-se utilizar muletas e imobilizadores por curto período, seguidos de exercícios sem impacto para fortalecimento, assim que a dor permitir;
- Fraturas de alto risco exigem o uso prolongado de muletas e imobilizadores. A necessidade de cirurgia deve ser avaliada individualmente.
Autor: Dr. João Hollanda – Ortopedista
Fontes e Referências adicionais:
- Cruz, A.S., de Hollanda, J.P.B., Junior, A.D. et al. Anterior tibial stress fractures treated with anterior tension band plating in high-performance athletes. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc 21, 1447–1450 (2013) doi:10.1007/s00167-013-2365-7 – https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23334621
- https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/stress-fractures/diagnosis-treatment/drc-20354063
- https://ortopedistadojoelho.com.br/fraturas-por-estresse
- https://orthoinfo.aaos.org/en/diseases–conditions/stress-fractures