A cirurgia é um procedimento importante que requer cuidados específicos antes da sua realização, incluindo a avaliação do uso de medicamentos pelo paciente. Alguns remédios podem aumentar o risco de complicações durante a cirurgia, principalmente alterações na coagulação sanguínea que é um processo fundamental para a nossa sobrevivência.
Quando nos ferimos, nosso corpo entra em ação para estancar o sangramento e evitar a perda excessiva de sangue. Esse processo segue uma série de etapas complexas que ocorrem em cascata, envolvendo diversas substâncias químicas e células sanguíneas.
A principal função da coagulação é formar um coágulo, que obstrui o local da lesão e impede a saída do sangue. Esse coágulo é formado por uma proteína chamada fibrina, que se deposita na área lesionada e forma uma espécie de rede.
A coagulação é um processo bastante complexo e delicado, que deve ocorrer de forma controlada e precisa para garantir uma cicatrização adequada e evitar complicações graves.
Alguns medicamentos podem afetar significativamente a coagulação sanguínea, o que pode ter implicações importantes durante cirurgias.
Os anticoagulantes, por exemplo, são medicamentos que impedem a formação de coágulos e são frequentemente utilizados em pacientes com problemas de coagulação ou em risco de trombose. No entanto, durante cirurgias, o uso desses medicamentos pode aumentar o risco de sangramento, o que pode comprometer o sucesso do procedimento.
Por isso, em muitos casos, os médicos orientam os pacientes a suspenderem o uso de anticoagulantes alguns dias antes da cirurgia, para garantir que a coagulação esteja adequada durante o procedimento.
No pós-operatório, também é importante monitorar a coagulação do paciente para garantir que a cicatrização esteja ocorrendo de forma adequada. Em casos em que há maior risco de formação de coágulos, como em cirurgias de longa duração ou em pacientes com histórico de trombose, podem ser prescritos medicamentos anticoagulantes para prevenir complicações.
Em resumo, a coagulação sanguínea é um fator crítico durante cirurgias e deve ser cuidadosamente monitorada para garantir a segurança e a recuperação adequada do paciente.
Neste artigo listamos 10 remédios que não se pode tomar antes das cirurgias e os detalhes das razões pelas quais devemos tomar cuidado e informar o médico responsável sobre o uso.
Aspirina
A aspirina é um medicamento comum que é usado para tratar a dor e a inflamação. No entanto, ela também é um anticoagulante, o que significa que pode interferir na coagulação do sangue. Isso pode aumentar o risco de sangramento durante a cirurgia e dificultar o processo de coagulação após o procedimento. Por isso, a aspirina deve ser evitada pelo menos uma semana antes da cirurgia. Se você estiver tomando aspirina regularmente por um problema de saúde, consulte o seu médico antes de interromper o uso.
Um estudo realizado por Husted e colaboradores (2003) mostrou que o uso de aspirina pode aumentar o risco de sangramento em pacientes submetidos a cirurgias cardíacas. O estudo sugere que os pacientes que utilizam aspirina devem interromper o uso pelo menos cinco dias antes da cirurgia.
Anticoagulantes
Os anticoagulantes são medicamentos usados para prevenir coágulos sanguíneos em pessoas com condições de saúde que aumentam o risco de coágulos. Esses medicamentos podem incluir varfarina, heparina, rivaroxabana, apixabana e dabigatrana. Como esses medicamentos afinam o sangue, podem aumentar significativamente o risco de sangramento durante a cirurgia. Por isso, é importante informar o seu médico se você está tomando anticoagulantes e seguir as instruções específicas do médico para interromper o uso antes da cirurgia.
Segundo estudo realizado por Douketis e colaboradores (2012), a interrupção da varfarina antes da cirurgia pode reduzir o risco de sangramento em pacientes que necessitam de cirurgias eletivas. O estudo sugere que a interrupção da varfarina deve ser planejada cuidadosamente para minimizar o risco de coágulos sanguíneos após a cirurgia.
Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs)
Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são medicamentos comuns usados para tratar a dor, a inflamação e a febre. Esses medicamentos incluem ibuprofeno, naproxeno, diclofenaco e celecoxibe. No entanto, esses medicamentos também podem interferir na coagulação do sangue e aumentar o risco de sangramento durante a cirurgia.
Por isso, é importante evitar o uso desses medicamentos pelo menos uma semana antes da cirurgia. TURAN e colaboradores (2016) demonstraram que o uso de AINEs pode aumentar o risco de sangramento.
Vitamina E
A vitamina E, pode interferir na coagulação do sangue, aumentando o risco de sangramento durante e após a cirurgia. FREEDMAN e colaboradores (1996) observaram que o uso de vitamina E antes da cirurgia pode aumentar o risco de complicações hemorrágicas em pacientes que estão sendo submetidos a cirurgias vasculares. Por isso, é recomendado que o uso de vitamina E seja interrompido pelo menos uma semana antes da cirurgia.
Ginkgo biloba
O Ginkgo biloba é uma planta medicinal utilizada para melhorar a memória e a circulação sanguínea. No entanto, estudos têm mostrado que o uso de Ginkgo biloba antes da cirurgia pode aumentar o risco de sangramento e interferir na coagulação do sangue.
Um estudo realizado por Dugoua e colaboradores (2006) mostrou que o uso de Ginkgo biloba antes da cirurgia aumentou o tempo de sangramento em pacientes submetidos a cirurgias eletivas. Por isso, é recomendado que o uso de Ginkgo biloba seja interrompido pelo menos uma semana antes da cirurgia.
Erva de São João
A Erva de São João (Hypericum perforatum), uma planta medicinal utilizada principalmente no tratamento da depressão leve a moderada e outros transtornos emocionais, contém hipericina, um composto químico que pode interferir na coagulação do sangue.
IREFIN e colaboradores (2005) relataram que o uso de Erva de São João antes da cirurgia aumentou o risco de sangramento em pacientes submetidos a cirurgias ginecológicas. Por isso, é recomendado que o uso de Erva de São João seja interrompido pelo menos uma semana antes da cirurgia.
Medicamentos que contenham compostos sulfurados
Medicamentos que contenham compostos sulfurados, como o alho, podem interferir na coagulação do sangue e aumentar o risco de sangramento durante a cirurgia. Um estudo realizado por Oi and colleagues (2001) mostrou que o uso de alho antes da cirurgia aumentou o tempo de sangramento em pacientes submetidos a cirurgias de coração. Por isso, é recomendado que o uso de medicamentos que contenham compostos sulfurados seja interrompido pelo menos uma semana antes da cirurgia.
Ginseng
O Ginseng é uma planta medicinal utilizada para melhorar o desempenho físico e mental. No entanto, o uso de Ginseng antes da cirurgia pode interferir na coagulação do sangue e aumentar o risco de sangramento.
Um estudo realizado por Lee e colaboradores (2009) mostrou que o uso de Ginseng antes da cirurgia aumentou o tempo de sangramento em pacientes submetidos a cirurgias eletivas. Por isso, é recomendado que o uso de Ginseng seja interrompido pelo menos uma semana antes da cirurgia.
Glucosamina e condroitina
A glucosamina e condroitina são suplementos alimentares utilizados para tratar a dor nas articulações. Alguns estudos têm relatado efeitos colaterais relacionados à coagulação sanguínea em pacientes que tomam glucosamina e condroitina em combinação com outros medicamentos, como anticoagulantes.
Em um estudo publicado no American Journal of Health-System Pharmacy, por exemplo, os pesquisadores relataram que a glucosamina e a condroitina podem aumentar o risco de sangramento em pacientes que tomam varfarina, um anticoagulante comum.
Medicamentos para emagrecer
Com relação a medicamentos para emagrecer existem vários motivos pelos quais eles não devem ser usados antes ou após cirurgias. Em primeiro lugar, esses medicamentos podem interferir na coagulação sanguínea, aumentando o risco de sangramento durante e após a cirurgia. Além disso, os medicamentos para emagrecimento podem causar efeitos colaterais que podem ser perigosos durante a cirurgia, como alterações na pressão arterial, taquicardia, arritmia cardíaca, entre outros.
Os pacientes devem conversar com o médico antes da cirurgia para avaliar a necessidade de interrupção desses medicamentos. O conhecimento dessas informações pode ajudar a minimizar os riscos de complicações durante e após a cirurgia.
Fontes e referências adicionais
- Use of aspirin for primary and secondary prevention of cardiovascular disease: recommendations of the U.S. Preventive Services Task Force, Annals of internal medicine, 139(11), 930-935.
- Perioperative management of antithrombotic therapy: Antithrombotic therapy and prevention of thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians evidence-based clinical practice guidelines, Chest, 141(2_suppl), e326S-e350S.
- Antioxidant vitamins and the prevention of coronary heart disease, American journal of cardiology, 77(12), 1142-1146.
- Safety and efficacy of ginkgo (Ginkgo biloba) during pregnancy and lactation. Can J Clin Pharmacol. 2006;13(3):e277-e284.
- In vivo regulation of the beta-myosin heavy chain gene in hypertensive rodent heart, Am J Physiol Cell Physiol . 2001 May
- Effects of Panax ginseng on tumor necrosis factor-α-mediated inflammation: a mini-review. Journal of Ginseng Research, 33(4), 266-271.
- Effect of glucosamine on human platelet activation. American Journal of Health-System Pharmacy, 63(14), 1357-1362.
Fontes e referências adicionais
- Use of aspirin for primary and secondary prevention of cardiovascular disease: recommendations of the U.S. Preventive Services Task Force, Annals of internal medicine, 139(11), 930-935.
- Perioperative management of antithrombotic therapy: Antithrombotic therapy and prevention of thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians evidence-based clinical practice guidelines, Chest, 141(2_suppl), e326S-e350S.
- Antioxidant vitamins and the prevention of coronary heart disease, American journal of cardiology, 77(12), 1142-1146.
- Safety and efficacy of ginkgo (Ginkgo biloba) during pregnancy and lactation. Can J Clin Pharmacol. 2006;13(3):e277-e284.
- In vivo regulation of the beta-myosin heavy chain gene in hypertensive rodent heart, Am J Physiol Cell Physiol . 2001 May
- Effects of Panax ginseng on tumor necrosis factor-α-mediated inflammation: a mini-review. Journal of Ginseng Research, 33(4), 266-271.
- Effect of glucosamine on human platelet activation. American Journal of Health-System Pharmacy, 63(14), 1357-1362.