O Brasil se destaca com as mais altas taxas de depressão em toda a América Latina. Atualmente, é o país que apresenta o maior número de diagnósticos nessa região. No último ano, mais pessoas receberam esse diagnóstico, e ao longo da vida, espera-se que mais indivíduos desenvolvam a doença.
Esses dados são resultado de uma análise minuciosa de estudos que investigaram a prevalência da depressão no continente. A pesquisa foi conduzida por especialistas da Pontifícia Universidade Católica do Chile e publicada no renomado periódico científico The Lancet.
Na América Latina, cerca de 12% das pessoas terão depressão ao longo da vida. No entanto, no Brasil, essa estatística é ainda mais preocupante, chegando a 17%. Nos últimos 30 dias, a taxa de diagnóstico de depressão no país foi de 5,48%, enquanto no restante do continente foi de 3,12%. Nos últimos 12 meses, 8,11% dos brasileiros preencheram os critérios para o diagnóstico de depressão, em comparação com 5,3% na América Latina.
Esses números revelam que o Brasil ultrapassa significativamente a estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), que indica que cerca de 5% dos adultos em todo o mundo sofrem de depressão.
Os especialistas destacam que, embora o quadro de depressão seja bem conhecido em países desenvolvidos e de alta renda, há uma lacuna significativa nos dados relacionados a países de renda média e baixa. Para preencher essa lacuna, os pesquisadores conduziram uma revisão abrangente de todas as pesquisas publicadas nas diversas bases de dados ao longo dos últimos 30 anos.
Uma das razões para a disparidade entre os países se deve à falta de padrões e critérios uniformes nos estudos. Os pesquisadores conseguiram revisar estudos de apenas sete países, cobrindo um total de 40 pesquisas que representam quase 80% da população da região.
Populações mais vulneráveis
Antonia Errázuriz, professora do departamento de Psiquiatria da Pontifícia Universidade Católica do Chile e uma das líderes deste estudo, destacou em entrevista que, apesar de o grupo de pesquisadores ter se dedicado a uma metodologia rigorosa, selecionando apenas estudos populacionais com mais de mil pacientes e baseados em diagnósticos clínicos de acordo com sistemas de classificação, em vez de apenas sintomas descritos, ainda existe uma notável disparidade entre os estudos e os países analisados.
A maioria das pesquisas focou em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, onde a depressão é mais comum. Países como a Guatemala têm menos estudos, porém incluindo áreas rurais com menor incidência, e apenas um estudo de Buenos Aires foi considerado. Apesar das nuances, o Brasil tem uma taxa muito mais alta de depressão, especialmente nas grandes cidades.
O psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein, destaca a importância das observações regionais, mas aponta a falta de dados e estudos de qualidade devido à limitada acessibilidade ao sistema de saúde, afetando a coleta de dados.
Os pesquisadores estudaram a relação entre diagnóstico de depressão e fatores socioeconômicos, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), disparidades de renda, gênero e taxa de criminalidade, encontrando uma ligação significativa com os níveis de depressão na América Latina.
O psiquiatra do Einstein aponta que esses fatores são estressores ligados a problemas de saúde mental. A pesquisa destaca a importância de melhorar o IDH, reduzir desigualdades de gênero e renda, além de combater a violência para reduzir a depressão na América Latina.
Fique atento aos sintomas da depressão
Especialistas enfatizam que a depressão vai além da tristeza e das emoções naturais. É vital observar se os sintomas persistem a maior parte do dia, diariamente ou por semanas. A doença impacta todos os aspectos da vida e varia em gravidade: leve, moderada ou severa.
Confira alguns sintomas segundo a OMS:
- Sentimento de tristeza, irritabilidade, falta de prazer ou interesse nas atividades
- Falta de concentração
- Sentimento de culpa, falta de esperança no futuro
- Pensamentos sobre morte e suicídio
- Mudanças de peso e apetite
- Falta de energia e cansaço
- Prejuízos no sono.