Estudos anteriores já haviam mostrado que muitas práticas de exercícios podem estar associadas à melhora dos sintomas da doença de Parkinson, no entanto, não existiam evidências que ir à academia possa de fato criar essas mudanças cerebrais.
Agora, pesquisadores encontraram indícios de que o exercício aeróbico de alta intensidade preserva neurônios produtores de dopamina, células cerebrais mais vulneráveis à destruição em pacientes com Parkinson.
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Os cientistas convocaram pacientes diagnosticados com Parkinson há, pelo menos, quatro anos. Nesta fase da doença, os pacientes ainda não tinham perdido todos os neurônios produtores de dopamina. Antes de iniciarem o estudo, os participantes passaram por um período experimental de duas semanas para garantir que conseguiriam lidar com a intensidade das aulas.
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Depois da fase experimental, os pacientes receberam a primeira rodada de exames cerebrais, dentre eles, uma ressonância magnética que mediu a quantidade de neuromelanina, pigmento escuro encontrado em neurônios produtores de dopamina, na substância negra.
Uma PET também foi realizada, a fim de medir a disponibilidade do transportador de dopamina (DAT), proteína que ajuda os neurônios a manterem os níveis adequados de dopamina.
O treino envolvia intervalos funcionais de alta intensidade, projetados para manter a frequência cardíaca dos participantes elevada durante a maior parte do treino. Os participantes usaram monitores de frequência cardíaca.
Após seis meses, os exames iniciais foram repetidos. As imagens cerebrais mostraram um aumento significativo nos sinais de neuromelanina e DAT na substância negra, ou seja, o exercício não só retardou o processo neurodegenerativo, como também ajudou o sistema dopaminérgico a ficar mais saudável.
“Onde normalmente esperávamos ver um declínio nos sinais de DAT e neuromelanina, vimos um aumento. Esperávamos ver que a neurodegeneração não progrediria tão rapidamente ou pararia temporariamente, mas em vez disso vimos um aumento em nove a cada dez pessoas. Isso foi notável”, aponta Bart de Laat, PhD, professor associado adjunto em psiquiatria e primeiro autor do estudo.
Foi notado que os neurônios ficaram mais saudáveis e produziram sinais de dopamina mais fortes. A célula ajuda outras células cerebrais a se comunicarem entre si.
“Esta é a primeira vez que imagens são usadas para confirmar que a biologia do cérebro daqueles que sofrem da doença de Parkinson é alterada por exercícios intensos”, disse Evan D. Morris, professor PhD de radiologia e imagens biomédicas em Yale, pesquisador que está mediando o estudo, na njp Parkinson’s Disease.
O que é a doença de Parkinson
O Parkinson é causado pela presença de agregadores fibrilares da proteína alfa-sinucleína, naturalmente presente em nossas células. Isso causa acúmulo dentro dos neurônios e o danifica. A área mais afetada fica na parte do cérebro conhecida como substância negra, próxima à base do cérebro.
Conforme as células morrem, a falta de dopamina desencadeia nos sintomas físicos: a doença de Parkinson causa tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio e alterações na fala e na escrita.
“No momento em que os pacientes manifestam clinicamente os sintomas motores típicos do Parkinson, você pode presumir que o processo neurodegenerativo realmente começou muito antes, talvez uma década ou duas”, comentou Sule Tinaz, PhD, MD, professor associado de neurologia e co-pesquisador principal do estudo.
A levodopa é o medicamento que substitui a dopamina em falta e é eficaz no alívio dos sintomas motores, mas não previne a neurodegeneração contínua, além de causar efeitos colaterais com seu uso prolongado, como movimentos excessivos descontrolados. Atualmente, não existe cura para o Parkinson.
“Os medicamentos que temos disponíveis são apenas para tratamento sintomático. Eles não alteram cursos da doença. Mas o exercício parece ir um passo além e proteger o cérebro no nível neuronal. Sempre digo aos pacientes que o exercício faz parte do tratamento. Da mesma forma que prescrevo medicamentos, também prescrevo exercícios”, disse Tinaz.
Outros ensaios clínicos mostraram que a prática de exercícios de alta intensidade, em que a pessoa atinge cerca de 80% a 85% de sua frequência cardíaca máxima apropriada para a idade, três vezes por semana durante seis meses está relacionada com problemas motores menos graves.
“Esses estudos sugeriram que o exercício realmente modifica a doença no sentido clínico”, apontou Tinaz.