A manobra de valsalva é uma manobra respiratória, na qual se faz uma expiração forçada com a glote fechada. Isto significa que você faz um movimento expiratório, sem liberar (exalar) o ar, de fato.
Nós fazemos a manobra de valsalva involuntariamente quando desempenhamos qualquer atividade que empregue força, por exemplo, em exercícios de musculação e durante a evacuação. Perceba que, nesses momentos, você faz o movimento de expiração prendendo o ar.
No movimento expiratório, a caixa torácica sofre uma retração, logo, os vasos sanguíneos intratorácicos sofrem uma constrição (vasoconstrição), levando ao aumento da pressão arterial.
Além dessa resposta fisiológica, outros fenômenos ocorrem no organismo durante a manobra de valsalva e, por isso, ela pode ser usada como ferramenta de diagnóstico e de tratamento de algumas situações médicas e desconfortos transitórios.
Veja como fazer a manobra de valsalva, entenda suas fases, para que serve e quais são as contraindicações.
Como fazer a manobra de valsalva
A manobra de valsalva é uma técnica em que a pessoa prende a respiração, fecha as vias respiratórias e força a saída de ar.
O passo a passo da manobra de valsalva é o seguinte:
- Sente ou deite-se.
- Faça uma inspiração profunda.
- Feche a boca.
- Aperte o nariz com o dedo polegar e indicador, como se fosse mergulhar.
- Faça o movimento de expiração (de liberação do ar), sem abrir a boca. Use uma força de sopro moderada.
Fases da manobra de valsalva
O efeito fisiológico da manobra de valsalva ocorre em diferentes fases:
Fase 1
A fase 1 corresponde ao início do sopro, em que a pressão dentro do tórax e do abdômen aumenta, pressionando as artérias intratorácicas. Como resultado, há um aumento da pressão arterial média.
Isso ativa o sistema reflexo barorreceptor, que regula a pressão arterial. Esse sistema aumenta a atividade parassimpática, que determina a redução da frequência cardíaca.
Nesta fase, também, há uma redução da quantidade de sangue que entra no átrio direito, ou seja, diminui o retorno venoso de sangue para o coração.
Fase 2
Com menos sangue chegando ao coração, um menor volume é ejetado, diminuindo tanto a pressão venosa central quanto a pressão arterial média.
Novamente se ativa o sistema barorreceptor, que diminui a atividade parassimpática, levando a um aumento da frequência cardíaca e da atividade simpática. Ela promove a vasoconstrição, que leva, novamente, a um leve aumento da pressão arterial no final da fase 2.
Fase 3
A fase 3 corresponde ao fim da manobra, marcada pela diminuição da pressão intratorácica, dilatação dos vasos intratorácicos e diminuição da pressão arterial. Também ocorre um aumento do volume sanguíneo que chega ao coração, por meio do retorno venoso.
Fase 4
Na última fase, o bombeamento mais volumoso de sangue aumenta a pressão arterial novamente, o que ativa o sistema barorreceptor que, por sua vez, diminui a frequência cardíaca.
Chega um momento em que a pressão arterial e a frequência cardíaca são normalizadas.
Para que serve manobra de valsalva
A manobra de valsalva pode ser usada como ferramenta diagnóstica, do tipo provocativa, para se detectar as seguintes condições:
- Hérnia inguinal e abdominal.
- Fraqueza do assoalho pélvico, com prolapso do útero, vagina ou bexiga.
- Varicocele, que são varizes no testículo.
- Deficiência esfincteriana uretral intrínseca, um subtipo de incontinência urinária.
- Radiculopatia cervical ou lombar, que são a compressão de um nervo na altura do pescoço ou da lombar.
- Disfunção da tuba auditiva.
- Hipotensão ortostática. neurogênica, que é a queda da pressão arterial quando a pessoa está sobre seus pés.
- Malformação de Chiari, um defeito congênito do cerebelo.
- Detectar focos de sangramento após cirurgia de tireoide.
- Cardiomiopatia hipertrófica.
- Identificação de sopros no coração, pois fica mais fácil para o médico ou médica ouvi-los no exame.
- Prolapso da valva mitral.
- Insuficiência cardíaca congestiva.
- Conexão anormal entre a cavidade oral e os seios da face, após uma extração dentária.
- Cefaleia primária da tosse, um tipo de dor de cabeça em pontada desencadeada por tosse ou espirro.
- Anormalidades no sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático.
A manobra de valsalva também pode ser usada como uma técnica de tratamento de alguns desconfortos:
- Igualar a pressão da orelha média e do ambiente externo: durante o mergulho, subida ou descida de uma serra, decolagem ou pouso de avião e disfunções da tuba auditiva, responsáveis pela sensação de ouvido tampado.
- Diminuir o zumbido no ouvido, apesar de que, em algumas pessoas, a manobra de valsalva pode aumentar o desconforto.
- Aliviar a dor da sinusite.
- Eliminar o pus retido no ouvido.
- Empurrar as fezes em pessoas com intestino neurogênico, que é a perda da sensação de necessidade de evacuação ou da sensibilidade de presença de fezes no reto.
- Palpitações de interrupção, causada por taquicardia supraventricular e fibrilação atrial.
Contraindicações da manobra de valsalva
Mulheres grávidas já sofrem um aumento da pressão no abdômen, por isso devem evitar a manobra de valsalva.
Pessoas com prisão de ventre e que fazem a manobra de valsalva durante um período longo de tempo na evacuação podem sofrer desmaios.
Pessoas que sofrem com pressão alta nos olhos, típica de glaucoma e esclerite, e problemas na retina não devem realizar a manobra de valsalva, pois podem sofrer perda temporária da visão ou com o aparecimento de flutuadores (manchas) no campo visual.
Fontes e referências adicionais
- Modulação do sistema nervoso autonômico na resposta da frequência cardíaca em repouso e à manobra de valsalva com o incremento da idade, Brazilian Journal of Physical Therapy, 2004; 8(2): 97-103.
- Avaliação da frequência cardíaca à medida de pressão expiratória máxima estática e à manobra de Valsalva em jovens saudáveis, Brazilian Journal of Physical Therapy, 2012; 165(5): 406-413.
- Eficácia da manobra de Valsalva modificada como tratamento para reversão de taquicardia supraventricular: revisão sistemática, Revista de Medicina, 2021; 100(2): 171-177.
- Hemorragia retiniana de Valsalva, Revista Brasileira de Oftalmologia, 1990; 49(3): 177-180.
- Proposta de adequação da intensidade do esforço expiratório e comportamento da frequência cardíaca durante a manobra de valsalva em pré-adolescentes, Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2014; 103(2): 146-153.
Fontes e referências adicionais
- Modulação do sistema nervoso autonômico na resposta da frequência cardíaca em repouso e à manobra de valsalva com o incremento da idade, Brazilian Journal of Physical Therapy, 2004; 8(2): 97-103.
- Avaliação da frequência cardíaca à medida de pressão expiratória máxima estática e à manobra de Valsalva em jovens saudáveis, Brazilian Journal of Physical Therapy, 2012; 165(5): 406-413.
- Eficácia da manobra de Valsalva modificada como tratamento para reversão de taquicardia supraventricular: revisão sistemática, Revista de Medicina, 2021; 100(2): 171-177.
- Hemorragia retiniana de Valsalva, Revista Brasileira de Oftalmologia, 1990; 49(3): 177-180.
- Proposta de adequação da intensidade do esforço expiratório e comportamento da frequência cardíaca durante a manobra de valsalva em pré-adolescentes, Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2014; 103(2): 146-153.