O termo técnico para a saída de secreção do ouvido é otorreia, e ela pode acontecer por várias causas, como infecções por microrganismos, colesteatoma, perfurações no tímpano e lesões.
Dependendo da causa, a secreção pode apresentar cor e cheiro diferentes, podendo ser aquosa incolor, purulenta amarelada, espessa esbranquiçada ou sanguinolenta. Pode ter um mau cheiro, se for resultado de uma infecção bacteriana.
Juntamente com a secreção no ouvido, podem ocorrer outros sintomas que variam de acordo com a causa, como febre, dor de ouvido, coceira no ouvido, zumbido e perda auditiva.
Veja quais são as principais causas de secreção no ouvido e o que fazer.
Otite média aguda
A otite média afeta o ouvido médio, uma pequena região que fica atrás do tímpano e contém os ossículos do ouvido. Infecções nessa região causam o acúmulo de líquido, cuja pressão sobre o tímpano pode perfurá-lo e provocar o extravasamento da secreção pelo canal auditivo.
A otite média pode acometer crianças e adultos, mas tende a ser mais frequente nas crianças até 3 anos, porque o canal que liga o ouvido médio ao nariz é mais curto, facilitando o acesso de vírus e bactérias presentes nas vias respiratórias.
A otite média aguda é súbita e apresenta sintomas graves, como dor de ouvido muito forte e tímpano avermelhado e abaulado (curvado), pois está sob pressão do líquido acumulado. Após a perfuração do tímpano e liberação da secreção, a dor costuma amenizar e a pessoa fica com uma perda auditiva temporária, até o tímpano se regenerar.
Se a secreção no ouvido tiver um aspecto purulento e com mau cheiro, é indicativo de infecção bacteriana e o tratamento é feito com antibióticos.
O que fazer
Marque uma consulta para que o médico examine o seu tímpano e estabeleça o diagnóstico e a causa da otite. O tratamento é feito com analgésicos, anti-inflamatórios não esteroides e antibióticos, se for necessário.
É importante manter a carteirinha de vacinação das crianças em dia, pois é uma forma de prevenir a otite média aguda nesta fase. Também deve-se evitar que a criança adormeça com a mamadeira na boca, pois o líquido pode escorrer para o ouvido médio e provocar a otite.
Mastoidite
A mastoidite é uma infecção bacteriana na apófise mastoide, um osso proeminente que fica atrás do ouvido. Geralmente, ela é decorrente de uma otite média aguda que não foi tratada adequadamente e, por isso, a bactéria se disseminou para o osso.
Esta é uma condição que demanda um tratamento correto e imediato pois, se não tratada, pode evoluir para complicações graves, como meningite, abscessos cerebrais, surdez e sepse.
A mastoidite se desenvolve algumas semanas depois de uma otite média aguda e provoca sintomas graves, como inchaço, vermelhidão, secreção purulenta, febre, dor dentro e em volta do ouvido, dor persistente e latejante.
O que fazer
Deve-se procurar um otorrinolaringologista para o diagnóstico e início imediato do tratamento, que consiste na administração de antibiótico na veia. Com a melhora do quadro, o antibiótico pode ser administrado por via oral. Em alguns casos, é necessário fazer a remoção cirúrgica do osso infectado e, depois, uma reconstrução com cirurgia corretiva.
Otite média crônica
Uma otite média aguda, um bloqueio da trompa de Eustáquio ou uma lesão no ouvido podem levar ao desenvolvimento da otite média crônica.
A otite média crônica é caracterizada por perda auditiva e extravasamento de secreção persistente e muito frequente do ouvido. Esses sintomas se manifestam em fases de crise da otite média crônica, que podem ocorrer após uma infecção no ouvido, um resfriado ou com a entrada de água no ouvido, por alguma perfuração do tímpano.
Geralmente, a secreção é purulenta e com mau cheiro, mas indolor. Como a otite média pode gerar complicações graves, como o colesteatoma, ela deve ser diagnosticada e tratada.
Outras complicações possíveis são lesões aos ossículos, formação de pólipos ou disseminação da infecção.
O que fazer
A otite média crônica requer uma avaliação médica, para o diagnóstico e identificação da bactéria causadora. O tratamento inclui a administração de antibióticos por gotas otológicas e por via oral. Também deve-se evitar, ao máximo, o contato do ouvido com a água, por isso o recomendado é usar tampões de algodão ou de silicone moldável.
Dependendo da gravidade da perfuração do tímpano e dos danos aos ossículos, o otorrinolaringologista pode realizar uma reconstrução por um procedimento cirúrgico chamado timpanoplastia.
Colesteatoma
Um colesteatoma é um tumor benigno, ou seja, não canceroso, de aspecto esbranquiçado e que pode produzir secreção no ouvido.
O crescimento de uma massa tumoral no ouvido médio pode provocar danos aos ossículos e deixar a pessoa mais suscetível a inflamações no ouvido interno, surdez, paralisia facial e disseminação da infecção para o cérebro, provocando meningites ou abscessos cerebrais.
O que fazer
Se houver a suspeita de colesteatoma, é necessária a realização de exames de imagem, que pode ser a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética, para o diagnóstico. O colesteatoma deve ser removido cirurgicamente.
Otite externa
A otite externa ocorre por uma infecção do canal auricular por bactérias ou fungos, provocando dores de ouvido e secreção.
A otite externa pode acometer todo o canal auricular, configurando um caso de otite externa generalizada, ou ficar concentrada em apenas um local, onde as bactérias se acumulam e formam um furúnculo ou algo semelhante a uma espinha.
Geralmente, a otite externa é causada por lesões provocadas pela limpeza do ouvido com cotonetes ou outros objetos. Também é comum em nadadores, devido a entrada constante de água no ouvido.
A secreção pode ser esbranquiçada ou amarelada e com mau cheiro. Juntamente com o pus, é comum haver resíduos ou esporos de fungos no canal auricular, que contribuem para a perda auditiva.
O que fazer
Deve-se procurar ajuda médica, para que seu canal auricular seja examinado e o microrganismo causador seja identificado. A partir disso, o médico limpa o canal auricular, retirando os resíduos e a secreção. Daí são aplicadas gotas otológicas com corticoides e antibióticos, no caso de infecção bacteriana, e com antifúngicos, se a causa for um fungo.
Corpos estranhos no ouvido
Objetos pequenos, como botões, peças de brinquedos, alimentos, miçangas, entre outros, podem entrar e ficar alojados dentro do ouvido. Geralmente, isso acontece com as crianças que, nas brincadeiras, acabam colocando objetos dentro do ouvido.
Se você perceber que a criança está chorando muito e levando as mãos à cabeça, na região do ouvido, pode ser que tenha algum objeto alojado. Principalmente, se perceber que sai alguma secreção do ouvido, incolor ou avermelhada, o que pode indicar lesão ou perfuração do tímpano.
Insetos também podem entrar no ouvido e ficar alojados, causando dor, coceira e secreção.
O que fazer
Não tente tirar o objeto que está dentro do ouvido, e vá até um pronto atendimento ou ao consultório de um otorrinolaringologista, para que o profissional faça a retirada do objeto. Em alguns casos, é necessário o uso de uma máquina de sucção para fazer essa retirada.
Fratura da base do crânio
Fraturas na base do crânio podem lacerar as meninges, que são os tecidos que revestem o cérebro. Os sinais que denunciam que houve uma fratura nessa região incluem a secreção do líquido cefalorraquidiano (o líquido que fica no cérebro e na medula óssea) pelo nariz ou pelos ouvidos. Esse líquido é incolor.
Se o líquido ficar acumulado atrás do tímpano e ele se romper, pode ocorrer o extravasamento do líquido cefalorraquidiano com sangue.
Podem se formar hematomas em volta dos olhos e atrás do ouvido.
O que fazer
Uma pessoa com fratura na base do crânio deve ser hospitalizada, para que fique em observação, até que o líquido cefalorraquidiano pare de vazar, denotando que o rasgo na meninge fechou espontaneamente, o que tende a ocorrer entre 48 horas a 1 semana após a lesão. Se a secreção não parar de sair, o médico pode fazer uma drenagem ou fechamento cirúrgico da ruptura.
Fontes e referências adicionais
- Secreção do ouvido, Manual MSD – Versão Saúde para a Família
Fontes e referências adicionais
- Secreção do ouvido, Manual MSD – Versão Saúde para a Família