Ramon Dino, 29 anos, passou por diversas transformações – tanto físicas quanto em sua vida. Atualmente um dos maiores nomes do fisiculturismo no mundo, o atleta gostaria de alavancar a prática do esporte no Brasil.
O atleta afirma que ainda existe um certo preconceito com relação à modalidade, mas nada comparado aos comentários de antes. Dino conta com a ajuda das redes sociais para quebrar esses “tabus”. “Não era muito bem aceito antigamente. Hoje em dia, principalmente com os influenciadores, a gente consegue demonstrar o trabalho mais ali pelos bastidores, as pessoas começam a entender um pouco mais do esporte e querem até fazer parte”, analisa, em entrevista ao Abre Aspas, do Grupo Globo.
“São exatamente esses fatores (uso de anabolizantes e o estereótipo de homem forte ser agressivo). Mas hoje em dia está muito diferente, o pessoal sabe que é um trabalho de esforço, dedicação todo santo dia”, aponta.
O fisiculturista, então, reflete a respeito da “virada de chave” que transformou o preconceito em admiração: “O esporte aqui no Brasil está crescendo mais agora, né? Mas lá fora ele já era bem mais aceito. Eu acho que a partir do momento que a gente começou a falar mais sobre o que a gente usa, sobre como a gente faz, sobre o que pode servir de bom para você. Aí as pessoas começaram a olhar com um olho diferente”.
Início da carreira
Ramon Dino foi convidado por eu primeiro treinador para participar de uma competição, em 2016. A partir daí, o atleta não parou mais: “Comecei a gostar bastante do esporte, acho que depois de um ano competindo ali, depois de participar da minha primeira competição e ganhar a vaga para o próximo e fazer minhas preparações, eu comecei a curtir o esporte”.
Para não cair em nenhum tipo de pressão, o atleta faz acompanhamento psicológico. “É um trabalho diário e geralmente a gente é acompanhado com a Anahi, que é uma psicóloga minha e da minha esposa, então ela ajuda bastante. Não só no dia de treino, não só no trabalho, como em todas as partes da vida, eu acho que é necessário ter um acompanhamento assim, sabe? Acho que fica muito mais fácil de lidar com as coisas”, conta.
No bate-papo, Ramon explica como funciona sua preparação para as competições. “A gente tem fases: a fase de off ou bulking e tem a fase de cutting. A fase do off é uma fase onde você consome bastante calorias, até consegue treinar mais pesado por estar consumindo mais calorias. É um trabalho para ganho (de massa muscular)”, inicia.
“Aí o trabalho de cutting já é o contrário, é um trabalho mais de lapidação. Trazer um pouco mais de condicionamento, tirar a gordura, um pouco de água e mostrar todo o trabalho que você fez no ano ali no palco”, completa.
No período de off, Dino costuma pesar 123 kg. “Em cutting, que é o limite de peso que tem que bater no palco, a gente chega até 103 kg, máximo, o limite. Têm competições que já cheguei a bater 98 kg, 96 kg”, diz.
“A gente faz um trabalho de 12 semanas (para perder peso). Aí, durante essas 12 semanas, aquele 118 kg, 120 kg até o dia da competição”, detalha.
Depois da pesagem do evento, os atletas são liberados para comer mais a vontade. “Dependendo de como está a minha condição, geralmente faço algumas refeições livres que é para começar a encher já a partir dali. Porque como você fez um trabalho para perda de peso, você chega no seu limite e está totalmente magro. Seu corpo está pedindo comida. E como tu vai se apresentar e tem que mostrar um volume, aí tem que comer bastante, esse volume vai aparecendo com o tempo”, enfatiza.
Nem sempre é um prazer se alimentar em grandes quantidades, para Ramon Dino. “Tem fases que é sacrifício, que você tem que infelizmente empurrar a comida. Mas tem fases que é muito bom comer. Geralmente é mais quando você está conseguindo ter o gasto calórico e consegue sentir fome. Se não está treinando muito gasto calórico, aí tem uma dificuldade imensa para comer. E é a parte mais chata”, opina.
“E a parte mais chata também é na finalização, que você não pode beber água direito, nem comer direito. E tem que continuar treinando muito pesado, fazendo cardio. Para o corpo é (difícil). Porque você tem que levar ele ao limite, né? Em off, você está comendo bem, está treinando e tal, com força. É diferente”, analisa.
Anabolizantes e alimentação
Ramon Dino faz uma análise sobre o uso de anabolizantes no fisiculturismo: “São hormônios que a gente usa durante a nossa preparação. Claro que a gente passa por um médico, por profissionais, não é por aventura. Eles trazem, de fato, risco, mas se você fizer o uso errado, o uso abusivo. Quando você tem acompanhamento, quando é do esporte, começa a dar bastante valor à vida. Então, também tento passar isso para as pessoas, nos nossos vídeos, nos podcasts e tudo”.
“Costumo fazer os exames após os campeonatos, tenho acompanhamento do Paulo Muzy também, que é um médico renomado, e vários outros profissionais. É a tua vida, é o teu corpo, é o teu trabalho. Então tem que ser um dos pontos assim que você deve deixar como prioridade para fazer, cuidar da saúde”, reflete.
É possível realizar competições sem anabolizantes e existem campeonatos específicos para pessoas naturais. “Mas para chegar na proporção que a gente chega, o tamanho que a gente chega, é muito difícil ser natural. Leva muito tempo”, avisa.
“Eu não faço isso (uso de anabolizantes) o ano inteiro. Eu acho que mexe bastante com tudo, desequilibra muito. Fazer isso por muito tempo é um negócio que prejudica. A gente tem uma quantidade mínima e, graças a Deus, minha genética favorece também para não precisar usar tanto. Então, para mim, eu uso muito pouco, é suave”, justifica.
A alimentação do atleta depende muito da fase de treino que está. “Se eu tiver em cutting, fico revoltado. A pessoa sabe que eu estou ali passando fome e passa com um sanduíche ou com lasanha. Não dá para ter escolhido outra hora para isso? Mas é um trabalho também”, comenta.
Agora com uma condição financeira melhor, Dino fez algumas modificações em sua alimentação e ao invés de usar o ovo como base alimentar, está utilizando o salmão. “Do arroz e ovo para o arroz com salmão tem uma diferença enorme. Só que a gente começa a valorizar mais, sabe? A gente olha para trás, vê tudo o que passou. Minha esposa também sempre me orienta. Ela fala: ‘Olha de onde você veio, o que você tem agora, onde você está chegando’. Então, cara, eu fico muito feliz, muito satisfeito”, declara.
Por fim, Ramon Dino dá um conselho a quem deseja entrar no fisiculturismo: “Mantenha a sua constância, a sua fé. Utilize os recursos que você tem. Aproveita as oportunidades quando aparecer. Escute bastante quem tem para te ensinar”.