Quase todo mundo sabe que fazer exercício ajuda as pessoas a ficarem saudáveis. A prática evita doenças crônicas como diabetes tipo 2 e doenças cardíacas, além de, muito provavelmente, nos ajudar a viver mais.
Até recentemente, no entanto, a visão prevalecente entre pesquisadores era a de que você só obtinha benefícios dos exercícios moderados a intensos – como caminhar, praticar esportes ou musculação.
Mas mesmo enquanto muitas pessoas ainda não estão fazendo tantos exercícios quanto deveriam, outra tendência que pode não ser boa para a saúde vem ocorrendo nos dias de hoje. Nosso estilo de vida moderno praticamente removeu a necessidade de se movimentar: da Netflix para as reuniões virtuais, muito do que fazemos agora é a um clique de distância.
Houve uma queda drástica em quanto nós nos movemos em torno de nossas casas e locais de trabalho. A maior parte do tempo que passamos agora é gasto sentado.
Embora tenhamos boas evidências de como o exercício de alta intensidade afeta nossa saúde, pouco se sabe sobre esse cenário de desaparecimento da atividade leve diária. É isso que os pesquisadores queriam descobrir no estudo que acabaram de publicar no British Journal of Sports Medicine. Os resultados podem fazer uma grande diferença na forma como vemos o exercício no futuro.
O que foi descoberto
Os pesquisadores queriam entender como a atividade física diária afeta a saúde metabólica das pessoas e o risco de morte prematura. Foi realizada uma meta-análise, pesquisando todas as pesquisas publicadas até o momento e calculando a média dos resultados combinados.
Eles analisaram os dois estudos de laboratório de grupos de cerca de 10 a 40 participantes, que mostram o que acontece imediatamente ao nosso corpo quando interrompemos longos períodos sentado; e estudos de longo prazo de milhares de pessoas, que fornecem informações sobre os efeitos do exercício leve ao longo de vários anos.
Descobriu-se que fazer o dobro de atividade leve reduz o risco de morte prematura em quase 30%. Isso ocorreu mesmo depois de serem contabilizados os níveis de atividade moderada a intensa e outros fatores, como o tabagismo.
Isso significa que, se você aumentar a quantidade de tempo se movimentando de uma hora para duas horas por dia, por exemplo, reduz o risco em 30%. Mas se você atualmente movimenta-se três horas e aumenta para seis horas por dia, o risco é reduzido na mesma proporção. Ou seja, se você faz pouco hoje e resolve dobrar, você obtém um grande benefício porque seu risco inicial é muito alto.
Descobriu-se também que movimentar-se mais afeta positivamente a maneira como o corpo humano regula o açúcar no sangue e a insulina a curto prazo. Isso é importante porque nossos corpos só funcionam adequadamente quando os níveis de açúcar no sangue permanecem constantes. Se o nível de açúcar no sangue ou insulina ficar muito alto, pode levar a complicações graves de saúde.
Quando uma pessoa interrompe seu tempo sentado com alguns minutos de atividade leve, como andar devagar, descobriu-se que isso reduziu os níveis de açúcar no sangue e insulina em cerca de 20% a 25% em média. As pessoas com diabetes tipo 2 desfrutam de benefícios ainda maiores, sugerindo que essa possa ser uma boa maneira de controlar o açúcar no sangue.
Vale a pena notar algumas limitações ao estudo. Esta é uma área de pesquisa relativamente nova, então foi agregada apenas uma quantidade modesta de evidências.
Os estudos de longo prazo incorporados dependiam principalmente de pessoas relatando o quanto de atividade estavam fazendo. As pessoas geralmente acham difícil relembrar com precisão o tempo que passam sendo ativas.
Há também a possibilidade de que as pessoas mais doentes façam menos atividade: em outras palavras, elas estão se movimentando menos porque estão doentes, e a doença, e não a falta de exercícios, pode ser a razão pela qual elas morreram prematuramente. Se assim fosse, os números do estudo estariam distorcidos.
Esta possibilidade significa que não podemos afirmar definitivamente que a atividade física leve reduz o risco de morte prematura. Os estudos laboratoriais de curta duração sugerem que essa conclusão está correta, mas não sabemos se esses efeitos são duradouros. Essa parte crucial do quebra-cabeça ainda precisa ser resolvida.
No entanto…
Ainda não há dúvidas de que a atividade moderada a intensa é mais potente: você talvez precise fazer cerca de quatro minutos de atividade leve para obter o mesmo benefício de um minuto de atividade mais intensa.
Mas este estudo, que é a primeira meta-análise nesta área, é uma ótima notícia para as pessoas que acham difícil adicionar exercícios em sua rotina semanal, já que isso lhes dá mais opções.
Podemos começar a pensar em como ajudar pessoas muito inativas e sedentárias a incorporar mais atividades leves em sua rotina diária como um trampolim para um estilo de vida mais ativo. Também aumenta as possibilidades para pessoas que são fisicamente incapazes de fazer exercícios intensos.
A próxima pergunta é quantos exercícios leves devemos idealmente fazer. O estudo não pôde responder isso porque ainda não há resultados de pesquisa suficientes. A quantidade precisa provavelmente dependerá de como passamos o resto do nosso dia – incluindo quanto exercício nós fazemos e quanto tempo permanecemos sentados e dormimos.
Por enquanto, a mensagem é: “Movimente-se mais em qualquer intensidade – quanto mais, melhor”.