A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou recentemente a aprovação do Wegovy, um medicamento à base de semaglutida, para o tratamento da obesidade em adolescentes. Esta decisão segue a autorização anterior concedida em janeiro deste ano, permitindo o uso do mesmo medicamento para adultos no Brasil. Agora, a permissão foi estendida para incluir adolescentes a partir de 12 anos de idade.
Essa nova indicação para faixas etárias mais jovens baseia-se em um estudo recente que acompanhou 201 indivíduos com idades entre 12 e 18 anos por pouco mais de um ano. Publicado no New England Journal of Medicine em dezembro do ano passado, o estudo revelou uma eficácia de 16,1% na redução de peso nessa faixa etária.
Além disso, a pesquisa também confirmou a segurança do medicamento para os mais jovens. Os efeitos colaterais mais comuns foram gastrointestinais, incluindo náuseas, vômitos e diarreia, semelhantes aos observados em adultos. No entanto, esses efeitos foram geralmente leves a moderados e de curta duração.
O Wegovy torna-se o segundo medicamento aprovado no Brasil para tratar a obesidade em adolescentes, seguindo o pioneiro Saxenda, que utiliza a liraglutida como princípio ativo e teve seu uso entre adolescentes autorizado em 2020.
A aprovação do Wegovy foi bem recebida pela comunidade médica, uma vez que a obesidade na infância e adolescência é um problema crescente no Brasil e no mundo. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 7,4% das crianças com até 5 anos estão obesas, enquanto a taxa sobe para 15,8% entre crianças de 5 a 9 anos e 12% entre adolescentes de 10 a 17 anos.
Dado que crianças e adolescentes estão em fase de crescimento e desenvolvimento, a avaliação do sobrepeso e da obesidade nessa faixa etária requer uma abordagem diferente da dos adultos. O acompanhamento é realizado por meio de uma curva de IMC, levando em consideração peso, altura, idade e gênero, em vez de uma única avaliação do índice de massa corporal (IMC).
Perigos da obesidade em crianças
A obesidade na adolescência apresenta riscos significativos, com mais de 90% de probabilidade de que adolescentes obesos se tornem adultos obesos. Além disso, a obesidade infantil não tratada está associada a doenças crônicas graves, como hipertensão, diabetes, dislipidemia e disfunção endotelial.
Estudos demonstram que adultos com obesidade desde a infância podem viver até dez anos a menos do que aqueles com peso normal, ressaltando a importância da intervenção precoce. Para crianças mais jovens, até 12 anos, a intervenção se concentra principalmente na alteração do estilo de vida, incluindo atividade física, restrição do tempo de tela, qualidade do sono e mudanças na alimentação, com o apoio da família, escola e sociedade, além de acompanhamento multidisciplinar, incluindo apoio psicológico.
Para adolescentes a partir dos 12 anos, as mudanças no estilo de vida continuam sendo a primeira linha de tratamento. No entanto, em casos mais graves, essa abordagem pode não ser suficiente.
O tratamento farmacológico é indicado quando programas de modificação do estilo de vida não obtêm sucesso ou em casos mais graves. É importante enfatizar que os medicamentos são uma adição ao tratamento, não uma solução isolada.
Mecanismos de ação dos remédios
A liraglutida e a semaglutida fazem parte dos inibidores de GLP-1, hormônio ligado à sensação de estar satisfeito e à fabricação de insulina. Esses medicamentos simulam a substância orgânica produzida quando a comida atinge a parte final do intestino delgado.
A diferença principal entre eles é a frequência da administração: a liraglutida requer injeções diárias, enquanto a semaglutida é administrada semanalmente. Essa redução na periodicidade das injeções é vista como uma vantagem, tornando o tratamento mais aceitável para os pacientes.
Nesse momento, o hormônio estimula processos no cérebro que diminuem as contrações intestinais, mantendo a sensação de saciedade. O GLP-1 sintético, não precisando da presença de comida no intestino, alcança níveis sanguíneos mais elevados e persiste por mais tempo no corpo do que a versão natural. Isso diminui a fome e auxilia na perda de peso.
No entanto, é importante observar que, apesar dos benefícios desses medicamentos, o acesso ainda é um desafio, pois eles têm um custo elevado e não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
Uma terceira opção, a cirurgia bariátrica, está disponível apenas para adolescentes com mais de 16 anos, com IMC acima de 40 e condições médicas associadas, ou com IMC acima de 50 sem condições médicas associadas. Essa cirurgia só pode ser realizada em centros de referência.
É importante destacar que o uso de tratamentos para obesidade em adolescentes é objeto de debate. No entanto, todos os especialistas enfatizam a importância do diagnóstico precoce e do controle da obesidade e de suas complicações para melhorar a saúde física, mental e a autoestima desse público.