Microcitose: o que é, principais causas e tratamentos

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É possível que você já tenha se deparado com o termo “microcitose” no resultado do seu hemograma e isso tenha causado alguma preocupação. A microcitose é um problema que afeta as células vermelhas do sangue, também chamadas de eritrócitos, hemácias ou glóbulos vermelhos. Na microcitose, os glóbulos vermelhos são menores do que deveriam.

Uma das causas que leva à produção de glóbulos vermelhos pequenos é a falta de ferro no organismo, que determina a anemia ferropriva. Também pode acontecer da pessoa não ter nenhuma carência nutricional, mas desenvolver anemia por causa de uma mutação genética. 

O tamanho dos glóbulos vermelhos é avaliado no hemograma, por meio da análise de um índice chamado volume corpuscular médio, ou VCM. 

Mas é importante ressaltar que só esse resultado não é suficiente para o médico ou médica confirmar a ocorrência de microcitose e determinar sua causa. Para isso, são necessários exames complementares que avaliam outros índices no sangue e a avaliação dos sinais e sintomas clínicos da pessoa. A especialidade médica que cuida de casos de microcitose é a hematologia.

Veja mais detalhes sobre o que é a microcitose, suas principais causas e as possíveis formas de tratamento. 

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Microcitose: o que é?

células microcitose
A microcitose é um problema que afeta as células vermelhas do sangue

Microcitose é o nome dado a uma alteração no tamanho dos eritrócitos (glóbulos vermelhos), que ficam menores do que o normal. 

Este termo aparece no laudo de exames de sangue (hemograma completo), na seção referente ao volume corpuscular médio (VCM). Quando os eritrócitos apresentam tamanho menor do que deveriam, eles são chamados de eritrócitos microcíticos. 

A palavra “microcitose” carrega muitos significados, que ajudam a definir o problema: “micro” significa pequeno, “cito” refere-se à célula e “ose”, aumento. Então, seria um aumento do número de células pequenas, no caso, dos glóbulos vermelhos do sangue.

Os glóbulos vermelhos são as células responsáveis por captar o oxigênio nos pulmões e transportá-lo a todas as partes do corpo. Essas células são formadas na medula óssea e desempenham suas funções por cerca de 120 dias e, depois, sofrem apoptose (morte celular). 

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É importante mencionar que os glóbulos vermelhos desempenham essa função, porque apresentam uma proteína chamada hemoglobina, que contém ferro e, assim, consegue ligar a molécula de oxigênio. A maior parte dos casos de microcitose é acompanhada de uma redução na quantidade de hemoglobina no sangue, que desencadeia quadros de anemia. Veja quais são os tipos de anemia

A título de curiosidade, a condição caracterizada pelo tamanho normal dos glóbulos vermelhos é chamada de normocitose. Já a condição de aumento do tamanho dos glóbulos vermelhos é chamada de macrocitose. O termo anisocitose é usado para se referir àquela condição em que há tamanhos diferentes de glóbulos vermelhos no sangue. 

Valores de referência de VCM em adultos

Os valores referenciais utilizados para definir quando o tamanho dos eritrócitos está maior ou menor do que o normal levam em consideração o diâmetro dessas células, que é determinado na análise sanguínea laboratorial do volume corpuscular médio (VCM), em fentolitros (fL).

Sendo assim, de acordo com os valores de referência de VCM para adultos, os glóbulos vermelhos são classificados em: 

  • Normocitose: 81,0 fL
  • Microcitose: menor do que 81,0 fL
  • Microcitose discreta: entre 80,0 e 80,9 fL
  • Microcitose acentuada: menor que 60,0 fL
  • Macrocitose: maior que 90,0 fL
  • Macrocitose acentuada: maior que 120,0 fL

Esses valores podem variar de laboratório para laboratório, de acordo com a técnica utilizada. Além disso, a interpretação desses valores deve ser feita em conjunto com outros índices medidos no exame de sangue, por exemplo, a hemoglobina corpuscular média (HCM) e a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM). 

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A microcitose discreta não é considerada um dado de relevância clínica, pois sua faixa é muito próxima ao valor de referência. Em grande parte dos casos, trata-se de uma situação passageira, sem repercussão clínica. 

Agora, quando a microcitose é acentuada, o médico ou a médica responsável pelo caso avalia como estão os outros índices no hemograma. Caso os outros índices não estejam alterados, é possível que você tenha que repetir o hemograma, para confirmar se os resultados estão corretos e, então, investigar a possível causa de tal alteração. 

Causas da microcitose

A microcitose pode ocorrer em diversas condições de saúde e, geralmente, tem relação com deficiências nutricionais que impactam na produção de hemoglobina.  

A anemia é uma condição caracterizada pela baixa concentração de hemoglobina no sangue e pode ser causada pela deficiência de nutrientes importantes, como o ferro, ou ser determinada geneticamente. 

Veja mais detalhes sobre as possíveis causas de microcitose: 

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Talassemia

A talassemia é um tipo de anemia que não é causada por uma carência nutricional, mas por uma mutação genética transmitida de pais para filhos. 

Por causa dessa mutação, a hemoglobina não é produzida adequadamente. Como a hemoglobina é responsável por transportar oxigênio a todos os tecidos e órgãos do corpo, as pessoas portadoras desta doença desenvolvem sintomas típicos de anemia, como: 

  • Pele pálida
  • Fadiga
  • Imunidade baixa
  • Atraso no crescimento
  • Alterações no baço e no fígado

A intensidade e o início dos sintomas depende do tipo de talassemia, que pode ser classificada como menor, intermediária ou maior. 

Num quadro clínico de talassemia, além da microcitose observada no hemograma, são observadas alterações em exame de eletroforese de hemoglobina e em testes genéticos. 

Esferocitose hereditária

A esferocitose hereditária também é um tipo de anemia hereditária, caracterizada pela presença de glóbulos vermelhos pequenos (microcíticos), porém com alta concentração de hemoglobina. 

Devido às alterações na membrana dessas células, ao invés de sobreviverem por até 120 dias, acabam morrendo antes do tempo, no baço. 

Os sintomas variam de intensidade, podendo ser leves ou graves. Os principais são: 

  • Fadiga ou cansaço exagerado
  • Pele e mucosa pálidas
  • Esplenomegalia: aumento do baço (este órgão aumenta, porque retira as células sanguíneas anormais da circulação e as destrói).

Nos resultados do hemograma, consta a ocorrência de microcitose e o aumento da concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM).

Anemia por doença crônica

Anemia por doença crônica é um termo geral, que indica que a anemia está sendo causada por um quadro inflamatório crônico (persistente). 

São várias as doenças que podem ter caráter crônico e, consequentemente, que podem levar à anemia: 

  • Infecções, como o HIV/AIDS.
  • Doenças autoimunes, principalmente artrite reumatoide. 
  • Doença renal
  • Cânceres

Essas doenças normalmente levam ao aumento do número de glóbulos vermelhos microcíticos ou normocíticos (tamanho normal) com baixa contagem de reticulócitos, que são hemácias imaturas, que ainda não desempenham sua função de transportar oxigênio. 

A baixa contagem de reticulócitos ocorre por causa dos baixos níveis de ferro e transferrina no sangue. 

As infecções crônicas podem contribuir para o problema de microcitose ao promoverem um estado de carência nutricional no organismo e prejudicarem o funcionamento do sistema imunológico.

Nesses casos, além da alteração do tamanho dos glóbulos vermelhos, há diversas outras alterações laboratoriais, que incluem os demais índices medidos no hemograma. 

Anemia ferropriva (deficiência de ferro)

Anemia
A anemia ferropriva é o tipo de anemia mais comum e leva à microcitose

A anemia ferropriva é o tipo mais comum de anemia e ocorre pelos baixos níveis de ferro no sangue. 

A deficiência de ferro pode ocorrer pela carência nutricional, ou seja, pelo baixo consumo de alimentos ricos nesse mineral. Exemplos de alimentos ricos em ferro são as carnes vermelhas, o frango, os peixes e os ovos. O ferro também pode ser encontrado no feijão e no espinafre.  

A perda excessiva de ferro no sangue também pode ser decorrente de fluxos menstruais muito intensos, hemorragias e úlceras provocadas por gastrite erosiva. 

A anemia ferropriva também pode afetar gestantes e lactantes que, por algum motivo, não conseguem se alimentar adequadamente, de forma a suprir as suas necessidades nutricionais e as do bebê em desenvolvimento ou crescimento. 

Outros fatores que podem levar à anemia ferropriva são as doenças que interferem na capacidade de absorção de ferro no intestino, como é o caso da doença de Crohn e da doença celíaca, ou pela presença de parasitas intestinais.  

A anemia ferropriva leva ao aumento de microcitose no hemograma e causa sintomas bem característicos da condição, como: 

  • Unhas quebradiças ou com deformidades, que podem ser semelhantes ao formato de uma colher.
  • Dor na língua.
  • Língua sem papilas, também conhecida como “língua careca”.
  • Rachaduras e feridas nos cantos da boca. 
  • Vontade de comer substâncias que não são comestíveis, como terra, argila, arroz cru e gelo. 

Anemias sideroblásticas

A anemia sideroblástica é caracterizada pela utilização inadequada de ferro pelo organismo, ainda que ele esteja presente em quantidades ideais. 

Este problema pode ser hereditário ou ser secundário ao uso de certos medicamentos, como o cloranfenicol, a isoniazida e pirazinamida, ou pelo contato direto com toxinas. A carência de vitamina B6 (piridoxina) também pode levar à anemia sideroblástica.

No caso das anemias sideroblásticas, além da microcitose, também pode ocorrer macrocitose.  

Atransferrinemia familiar

A atransferrinemia familiar é um distúrbio metabólico e hereditário, que determina a falta de transferrina no sangue. A transferrina é a proteína responsável por transportar ferro através do sangue.

Com a falta de ferro, se desenvolvem os sintomas de anemia causadas pela microcitose e pela baixa quantidade de hemoglobina dentro dos glóbulos vermelhos. 

Tratamentos para microcitose

O tratamento para microcitose varia de acordo com a causa. 

Por exemplo, se a causa da microcitose for um quadro de anemia por deficiência de ferro, o tratamento incluirá a reposição de ferro por via oral ou endovenosa (na veia), dependendo da intensidade dos sintomas. 

Também será necessário investigar o motivo da deficiência de ferro no organismo, se é por falta na alimentação ou por algum sangramento. 

A microcitose de causa hereditária também varia bastante quanto ao tratamento, pois depende do grau de severidade da doença. Em casos mais graves, é preciso fazer transfusão de sangue e, nos mais leves, muitas vezes só se faz um acompanhamento médico periódico. 

Fontes e referências adicionais

Você já viu o termo microcitose em seu resultado de hemograma? Qual foi a conduta do(a) médico(a) responsável pelo seu caso? Você teve que fazer algum exame complementar ou tratamento? Comente abaixo!

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Sobre Dr. Lucio Pacheco

Dr. Lucio Pacheco é Cirurgião do aparelho digestivo, Cirurgião geral - CRM 597798 RJ/ CBCD. Formou-se em Medicina pela UFRJ em 1994. Em 1996 fez um curso de aperfeiçoamento em transplantes no Hospital Paul Brousse, da Universidade de Paris-Sud, um dos mais especializados na Europa. Concluiu o mestrado em Medicina (Cirurgia Geral) em 2000 e o Doutorado em Medicina (Clinica Médica) pela UFRJ em 2010. Dr. Lucio Pacheco é autor de diversos livros e artigos sobre transplante de fígado. Atualmente é médico-cirurgião, chefe da equipe de transplante hepático do Hospital Copa Star, Hospital Quinta D'Or e do Hospital Copa D'Or. Além disso é diretor médico do Instituto de Transplantes. Suas áreas de atuação principais são: cirurgia geral, oncologia cirúrgica, hepatologia, e transplante de fígado. Para mais informações, entre em contato.

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