Por que os antidepressivos podem levar semanas para fazer efeito?

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Nos bastidores da saúde mental, uma das maiores questões relacionadas ao tratamento da depressão sempre foi entender por que os antidepressivos, em especial os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), levam algumas semanas para mostrar benefícios visíveis.

Uma descoberta recente pode ter desvendado esse mistério e, de quebra, ainda traz visões para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes.

Homem tomando medicamento
Entender ISRS é vital para tratamentos e esperança

Os antidepressivos ISRS são amplamente prescritos, e compreender sua atuação pode ser crucial tanto para profissionais da saúde incentivarem a continuidade do tratamento quanto para trazer esperança a todos que enfrentam a depressão.

Pesquisadores internacionais decidiram mergulhar profundamente no universo cerebral. Em um estudo pioneiro com humanos, esses cientistas analisaram as mudanças nas conexões neuronais, as sinapses, após o uso de ISRS em adultos saudáveis. Os resultados mostraram que, após um período, houve um aumento significativo das sinapses em áreas do cérebro como o neocórtex e o hipocampo.

A serotonina é um neurotransmissor que, em níveis elevados, melhora o humor. Contudo, ainda há muitas incertezas sobre como exatamente os ISRS funcionam. O que se sabe é que esses medicamentos podem potencializar a plasticidade sináptica no cérebro, um processo fundamental para o aprendizado, memória e regulação do humor.

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Para esclarecer essas dúvidas, os pesquisadores realizaram um ensaio clínico com 32 adultos saudáveis, que foram divididos aleatoriamente para tomar escitalopram (um ISRS) ou um placebo durante 5 semanas. Usando uma técnica avançada de imagem, a tomografia por emissão de pósitrons (PET), os cientistas mediram níveis de uma proteína chamada glicoproteína 2A da vesícula sináptica (SV2A) — um indicador da presença de sinapses.

O que foi observado? Aqueles que tomaram escitalopram tinham níveis mais altos de SV2A em regiões-chave do cérebro quando comparados ao grupo do placebo. O neocórtex, envolvido em funções cerebrais avançadas como emoção e cognição, e o hipocampo, fundamental para a memória, apresentaram maior densidade sináptica no grupo que consumiu o medicamento.

Entretanto, um detalhe chamou atenção: essa diferença não foi imediata. Apenas após uma média de 29 dias é que a densidade sináptica mostrou-se mais elevada no grupo que usou escitalopram, sugerindo que as sinapses crescem progressivamente ao longo de semanas. Este fato poderia justificar o tempo de espera para que os efeitos dos antidepressivos se manifestem.

A escolha de participantes saudáveis para a pesquisa foi estratégica. Isso permitiu aos cientistas observar os efeitos puros dos ISRS na plasticidade sináptica, sem a interferência de sintomas depressivos ou outras patologias cerebrais. Contudo, novos estudos são necessários para entender como essa dinâmica funciona em pacientes com depressão e como está ligada à melhora clínica.

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David Nutt, renomado neuropsicofarmacologista do Imperial College de Londres, comentou a importância desse estudo. Ele ressaltou que entender a ação dos antidepressivos tem sido um desafio por mais de meio século.

Portanto, esse avanço, que evidencia o aumento nas conexões cerebrais à medida que os sintomas depressivos recuam, é altamente relevante.

Mulher deprimida tomando remédio
Nutt destacou importância de estudo sobre antidepressivos e recuperação cerebral na depressão após décadas de incertezas

Esta pesquisa foi aceita para publicação em uma revista especializada e destacada na conferência do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia. Estes insights, além de trazerem esperança e compreensão, são um avanço na jornada contínua da ciência em busca de tratamentos mais eficazes para a depressão.

O que você achou desse estudo? Você conhece algum medicamento ISRS? Já sabia que os antidepressivos podem levar semanas para fazer efeito? Comente abaixo!

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Sobre Valdir Campos

Valdir de Campos Júnior é estudante de jornalismo, e combina sua paixão pela escrita com um forte interesse pelo universo da saúde e boa forma. Valdir é motivado pela curiosidade e pelo desejo de adquirir conhecimento, visando inspirar e informar as pessoas sobre um estilo de vida saudável.

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