A essa altura é impossível que alguém não tenha ouvido falar sobre o novo coronavírus, também chamado de COVID-19, que foi classificado como uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e já atingiu mais de 433 mil pessoas e gerou mais de 19 mil mortes até a quarta-feira, 25 de março.
Notícias a respeito do COVID-19 aparecem o tempo todo nas redes sociais, sites, jornais impressos e telejornais, além de serem tema de muitas conversas nas ruas. Isso torna praticamente impossível preservar as crianças, que costumam ser mais assustadas e impressionadas, de todo o desespero causado pela pandemia.
Qual seria a solução, então? Se por um lado, não podemos esconder a situação delas, para que não corram riscos de estarem desprotegidos, também não podemos colocá-las em pânico. O jeito é aderir ao diálogo, como ensina a psicóloga clínica e instrutora de psicologia da Escola de Extensão e da Escola Médica de Harvard Jacqueline Sperling.
Em artigo para o Harvard Health Publishing (Publicação de Saúde de Harvard, tradução livre), a psicóloga ressaltou a importância informar as crianças apenas o suficiente a respeito do novo coronavírus.
“Tente atingir um equilíbrio entre responder as questões bem o suficiente sem alimentar a chama da ansiedade. Crianças têm imaginações elaboradas que podem levá-las a criar histórias desnecessariamente catastófricas nas suas mentes se os pais não conversarem ou não conversarem o suficiente sobre um assunto como esse. Na outra ponta do espectro, prover muita informação pode criar um alarmismo extra”, pondera Sperling.
A instrutora de Harvard recomenda pensar sobre o que exatamente a criança precisa saber – métodos de prevenção, principalmente.
Tome cuidado ainda com as fake news e teorias da conspiração acerca do novo coronavírus que podem ser bem assustadoras para um criança – não deixe que ninguém repasse essas notícias duvidosas para os seus filhos e só compartilhe com eles as informações de fontes oficiais como o Ministério da Saúde e a OMS e de portais, sites de notícias, jornais e outros veículos de comunicação confiáveis e de boa reputação.
Disseminar essas informações não comprovadas e mentirosas coloca a saúde de todo mundo em risco – inclusive a das suas crianças.
O primeiro passo: descobrir o que elas já sabem
No entanto, antes de passar qualquer informação às suas crianças a respeito do novo coronavírus, a recomendação de Jacqueline Sperling é perguntar a elas o que já sabem a respeito do COVID-19.
Assim você terá a oportunidade de esclarecer qualquer entendimento errado que elas tenham acerca da doença e explicar melhor aquilo que as crianças realmente precisam saber. As perguntas que forem feitas pelos pequenos também precisam ser respondidas com jeito, de uma maneira lúdica, na qual as crianças consigam entender sem ficar apavoradas.
A psicóloga clínica trouxe quatro exemplos de perguntas e como elas podem ser respondidas:
– O que é esse novo coronavírus?
“É um tipo novo de germe que pode fazer as pessoas doentes. Lembra como a gripe fez você (ou um amiguinho da escola) se sentir? É muito parecido com a gripe. Algumas pessoas ficam só um pouco doentes. Algumas pessoas têm febre e tosse. Às vezes, elas também ficam com dificuldade para respirar”.
Não deixe de dizer ainda, com muito jeito, é claro, que o COVID-19 não é uma simples gripe, que os tios e tias que trabalham na saúde ainda estão entendendo a doença, que o seu contágio é fácil e que é preciso tomar cuidado para não ser contaminado por ele.
– Como uma pessoa pega o novo coronavírus?
“O vírus se espalha como a gripe, um resfriado ou uma tosse. Se uma pessoa que tem o coronavírus espirra ou tosse, os germes dentro do corpo dela saem para fora. É que os espirros e tosses podem mandar gotas pequenininhas que carregam germes para o ar. Esses germes viajam bastante para entrar em outro corpo e deixar outra pessoa doente. Uma pessoa saudável precisaria tocar um desses germes que saem dos espirros e tosses e tocar sua boca, olhos ou dentro do nariz. É por meio desses buraquinhos que os germes podem entrar no corpo”.
Explique também que os germes como o novo coronavírus podem entrar no corpo de outra pessoa e deixá-la doente se ela tiver um contato físico – como beijo, abraço ou aperto de mão – com alguém que já tem o COVID-19 ou se encostar em uma superfície como maçaneta, corrimão, mesa, parede ou outro objeto contaminado pelo vírus.
Deixe bem claro que é por isso que é preciso lavar muito bem as mãos e evitar abraçar, beijar e cumprimentar com aperto de mão os amiguinhos, professores, irmãos, pais, parentes e qualquer outra pessoa que passe por eles.
– Por que algumas pessoas usam máscaras? Eu tenho que usar máscaras?
“As máscaras são para as pessoas que estão doentes, para que elas não espalhem os seus germes. As máscaras também são para a equipe médica, como os médicos e enfermeiros, usar e ajudar as pessoas que têm o vírus. Você não precisa usar uma máscara”.
– Alguém pode morrer de coronavírus?
“A maioria das pessoas que pegou o vírus não morreu, assim como acontece com a gripe. Os médicos estão se esforçando bastante para ficar de olho em quem se sente mal. Eles querem ter certeza que todo mundo consiga a ajuda que precisa e impedir que o vírus se espalhe”.
A psicóloga também aconselha a dizer às crianças que elas podem continuar a fazer o que gostam, desde que continuem a ter os hábitos saudáveis que você já ensinou para se prevenir contra o novo coronavírus.
Caso a escola tenha mandado as crianças para casa ou tenha decretado ponto facultativo e você tenha decidido preservá-la na segurança do lar, acalme-a dizendo que é apenas uma precaução e tente distraí-la com as suas brincadeiras preferidas.
Manter a serenidade durante a conversa
É outro conselho importante da psicóloga clínica e instrutora de psicologia da Escola de Extensão e da Escola Médica de Harvard Jacqueline Sperling. Ela explica que mesmo que o adulto esteja preocupado – o que é completamente natural e compreensível em frente a uma pandemia – ele precisa demonstrar calma porque as crianças vão olhar para ele para saber quanto de medo devem ter.
“Pense sobre voar de avião quando há turbulência. Uma comissária de bordo que aparenta estar aterrorizada pode fazer com que você pense que algo está muito errado e que você deve se preocupar. Se a comissária de bordo calmamente lhe oferecer uma bebida com um sorriso, você pode pensar que é só vento que vai passar logo”, exemplificou a psicóloga.
Limitar a exposição da criança a notícias sobre o novo coronavírus
Não, não é para as suas crianças serem alienadas. Como dito aqui, você deve prepará-las para estarem bem protegidas e prevenidas contra o contágio da doença. Entretanto, deixar que elas vejam e ouçam tudo que é relatado nos noticiários sobre o COVID-19 pode deixá-las muito assustadas.
Isso porque, afirma Sperling, em alguns casos as reportagens podem utilizar palavras fortes e aterrorizantes para crianças – afinal se trata de uma pandemia! Isso sem contar que como se não bastasse a urgência da situação, alguns veículos de comunicação gostam de usar tons mais sensacionalistas para atrair audiência, o que pode deixar as crianças com mais medo ainda.
A recomendação da instrutora de psicologia de Harvard é deixar para assistir aos telejornais apenas quando as crianças já tiverem dormido ou ler as notícias separadamente, de modo que seus filhos não tenham acesso a elas. Mais tarde e com muito jeitinho, você poderá repassar a eles o que realmente precisam saber para sua proteção.
Saber quando pedir ajuda
A psicóloga ressalta ainda que, embora seja normal para uma criança fazer perguntas, especialmente sobre um assunto tão novo, existem casos em que é a sua ansiedade que parece fazer com que ela responda essas perguntas, desencadeando um comportamento conhecido pelo nome de reassurance seeking, algo que pode ser traduzido como busca por garantias.
“Pode parecer que a criança está repetidamente fazendo as mesmas ou perguntas parecidas, mas a sua angústia aumenta, não importa quantas vezes você responde as perguntas. Se você perceber a repetida busca por garantias (perguntar repetidamente uma das questões acima, por exemplo), então pode ser útil procurar ajuda para auxiliar a sua criança a controlar a ansiedade”. Certamente um psicólogo focado na área infantil poderá ajudar bastante o seu filho.
Mais sobre o novo coronavírus
Para explicar direitinho aos filhos do que se trata o novo coronavírus e esclarecer as dúvidas dos pequenos a respeito da mais nova temida doença, é preciso conhecer a doença; por isso, resolvemos trazer também mais alguns dados resumidos sobre ela.
Trata-se de uma nova estirpe de uma grande família de vírus causadores de doenças respiratórias, que vão do resfriado comum até a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV, sigla em inglês) e a síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV, sigla em inglês).
O novo tipo de coronavírus, que apareceu na China em dezembro de 2019, recebeu o nome de SARS-CoV-2. Embora ainda seja necessário estudar melhor essa nova versão do vírus, sabe-se que os seus sintomas podem incluir febre, dificuldade para respirar, tosse seca, cansaço, dores, congestão nasal, nariz escorrendo, dor de garganta e diarreia. Ele ainda pode originar uma infecção no trato respiratório inferior, como uma pneumonia. Entretanto, é possível que algumas das pessoas infectadas pela condição não desenvolvam sintomas e não sintam-se mal.
Acredita-se que pessoas mais velhas e os indivíduos que sofrem com doenças crônicas preexistentes, como pressão alta, doença no coração, asma, doença pulmonar, câncer ou diabetes, apresentam maiores riscos de desenvolver doenças sérias em decorrência do COVID-19. Veja por que pessoas com pressão alta e diabetes tem maior risco de contrair o novo coronavírus.
Ainda não há vacina ou um medicamento antiviral específico para prevenir ou tratar a doença provocada pelo novo coronavírus. Os pacientes afetados pelo SARS-CoV-2 recebem tratamentos para aliviar os sintomas, enquanto aqueles que desenvolvem problemas graves em decorrência do vírus são hospitalizados.
A Anvisa alerta que nao indica o uso de hidroxicloroquina para o novo coronavírus, inclusive.
As recomendações de prevenção contra o coronavírus
São coisas que tanto você quanto os seus filhos precisam saber de cabeça:
- Lavar as mãos com frequência, usando água e sabonete ao longo de pelo menos 20 segundos;
- Quando não tiver acesso à água e sabonete, higienizar as mãos com um desinfetante próprio para as mãos à base de álcool;
- Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas – essa pode ser uma mania forte entre as crianças, portanto, fique de olho;
- Não ter contato próximo com pessoas que estiverem doentes;
- Manter pelo menos um metro de distância de alguém que esteja tossindo ou espirrando;
- Cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar com o cotovelo dobrado ou com um lenço de papel – no caso do lenço, ele deverá ser jogado fora depois da tosse ou espirro;
- Limpar e desinfetar os objetos e superfícies tocados com frequência, como corrimões de escada, mesas, telefones e utensílios compartilhados de escritório, por exemplo. Sim, até o seu smartphone pode ser responsável pela infecção do vírus!
- Ficar em casa se estiver sentindo-se mal e procurar o atendimento médico se apresentar febre, tosse e dificuldade para respirar;
- Evitar locais e eventos onde haja aglomerações de pessoas;
- Manter-se informado sobre os últimos desdobramentos acerca do coronavírus e seguir as instruções das autoridades locais de saúde.
As informações são da OMS e do Ministério da Saúde.