A renomada jornalista Sandra Annenberg, após sua saída do Jornal Hoje, da TV Globo, em 2019, viveu um período desafiador que se parecia a uma “síndrome de abstinência de adrenalina”. Após uma jornada de 20 anos no comando do programa, a repórter sentiu impactos profundos em sua saúde e bem-estar.
A adrenalina, um hormônio potente liberado em situações de estresse, foi uma constante na rotina de Annenberg. Por duas décadas, ela experimentou picos de adrenalina por volta das 12h30 às 13h, momento em que gravava as chamadas para o programa. Logo após sua saída, Sandra enfrentou episódios recorrentes de taquicardia (palpitação) exatamente nesse mesmo horário.
Em uma conversa reveladora no podcast Sem Nome Pode, ela compartilhou como, mesmo após deixar o jornal, seu corpo continuou a produzir adrenalina, e o processo de reajuste e reprogramação de seu organismo levou tempo.
Nesse cenário, muitos podem se perguntar: é possível ter uma dependência de adrenalina? Danielle Admoni, psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), esclarece que, embora o termo síndrome de abstinência de adrenalina não seja reconhecido na medicina, a adrenalina, por si só, não cria uma dependência no sentido tradicional.
No entanto, o corpo pode se acostumar com certas rotinas e reações, especialmente quando repetidas por longos períodos. No caso de Annenberg, seu corpo havia se acostumado a liberar adrenalina no horário do programa, e essa rotina continuou mesmo após sua saída.
Durante seus anos à frente do Jornal Hoje, era comum para Sandra enfrentar um pico de estresse – um estado de alerta máximo – ao vivo. Como resultado, seu corpo liberava adrenalina para ajudá-la a enfrentar a pressão do momento.
Marcelo Feijó, psiquiatra especialista em estresse, destaca que esses sintomas observados em Annenberg refletem uma espécie de “energia residual”, energia esta que anteriormente era direcionada para o programa ao vivo.
Feijó ainda acrescenta que esta reação não é exclusiva de jornalistas ou profissionais da mídia. Pessoas que se aposentam ou que encerram uma atividade desempenhada por muito tempo podem enfrentar fenômenos similares. A transição, quando repentina, como em casos de demissões inesperadas, pode ser ainda mais intensa.
Concluindo, o caso de Sandra Annenberg lança luz sobre a importância de se preparar para grandes mudanças na vida, principalmente quando envolvem rotinas muito bem estabelecidas.
Apesar da adrenalina não causar dependência, a nossa mente e corpo podem se habituar a certos padrões, exigindo paciência e apoio profissional durante os períodos de transição. O autoconhecimento e a busca por especialistas podem ser essenciais para garantir uma adaptação saudável a novas fases da vida.