Em 2007, a ex-executiva da Microsoft Linda Stone notou que ainda que fizesse exercícios de respiração todas as manhãs, ao se sentar em frente ao computador e abrir a sua caixa de entrada de e-mails, tudo isso desaparecia. Ela percebia as suas inspirações e expirações se tornarem quase imperceptíveis e rasas.
Linda conduziu uma experiência informal intitulada “Ciência na Mesa do Jantar”, convidando 200 pessoas, entre amigos, vizinhos e familiares, para sua casa, onde monitorou a frequência cardíaca e respiração dessas pessoas enquanto elas verificavam seus e-mails.
De acordo com Stone, cerca de 80% dos participantes periodicamente prendiam ou alteravam a respiração. Ela deu ao fenômeno o nome de “apneia de e-mail”. Esses resultados foram publicados em um artigo no site The Huffington Post, em 2008.
Posteriormente, Linda ampliou o conceito e o renomeou para “apneia de tela”, remetendo à pausa na respiração que várias pessoas experimentam ao executar diversas atividades diante de uma tela.
James Nestor examinou o fenômeno em seu livro de 2020, intitulado “Respire: A nova ciência de uma arte perdida”. Segundo o autor, esse problema provavelmente se agravou com o aumento do uso de telas. Para eles, os seres humanos não evoluíram para estar “constantemente estimulados”.
Conforme o professor de psiquiatria da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, especializado no sistema nervoso autônomo, Stephen Porges, a apneia de tela é uma manifestação da resposta de estresse do organismo.
Ele esclareceu que quando uma pessoa se encontra em frente a qualquer tipo de estímulo, o sistema nervoso busca sinais para entender se isso representa uma ameaça ou não.
Porges explicou que essa atenção e concentração requerem um esforço mental, o qual desencadeia diversas alterações fisiológicas, como respiração mais superficial e desaceleração da frequência cardíaca, buscando “tranquilizar” o corpo e redirecionar recursos para auxiliar a se concentrar.
De acordo com o especialista, quando recebemos uma mensagem de texto ou e-mail, basicamente congelamos, lemos e elaboramos um plano de ação. Quanto mais inesperado for o estímulo, como quando alguém recebe uma notificação de texto do nada, mais provável é que o corpo entenda isso como uma ameaça.
Embora esses reflexos não sejam prejudiciais quando recebidos ocasionalmente, se estiverem ativados o dia todo e todos os dias, levam o sistema nervoso a um estado crônico de ameaça, conforme observado por Porges.
Inclusive, horas de respiração superficial podem causar exaustão após um dia de trabalho, mesmo que o seu serviço não seja particularmente estressante.
Segundo o diretor do Centro de Estresse e Saúde da Stanford Medicine, David Spiegel, a falta de movimento que vem atrelada ao hábito de ficar em frente a uma tela pode contribuir para a apneia de tela.
A interrupção na respiração ocorre devido a uma combinação não apenas do que a pessoa está fazendo, mas também daquilo que ela não está fazendo, explicou. Spiegel observou a apneia de tela em pacientes que trabalhavam em empregos de alto estresse por longas horas, com pouco exercício e sono. As informações são de O Globo.