Dieta à Base de Vegetais Pode Transformar as Bactérias do Intestino para Proteger o Coração

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O microbioma humano é composto pelo material genético de todos os micróbios – bactérias (sim, isso tem a ver com a famosa flora bacteriana), fungos, protozoários e vírus – que vivem dentro do organismo humano. Por mais que muitos virem a cara ao ouvir esses nomes, fato é que o corpo é formado principalmente por micróbios, que ultrapassam o número de células.

Esse microbioma é bastante importante para o desenvolvimento, a imunidade e a nutrição humana. Tanto que doenças como diabetes do tipo 1, artrite reumatoide, distrofia muscular, esclerose múltipla e fibromialgia estão associadas a disfunções no microbioma.

No grupo de micro-organismos que fazem parte do microbioma humano, estão as bactérias do bem, que auxiliam a digerir os alimentos, regulam o sistema imunológico, protegem contra outras bactérias causadores de doenças e produzem vitaminas como vitamina B1, vitamina B2, vitamina B12 e vitamina K.

Sabe-se que alimentação é um fator que influencia bastante o microbioma do intestino, impactando em relação às estirpes de bactérias presentes, assim como às quantidades em que elas são encontradas.

Agora, um estudo recente indicou que a relação entre a dieta e o microbioma intestinal também pode afetar a saúde do coração. A pesquisa, publicada no Journal of the American College of Cardiology (Jornal do Colégio Americano de Cardiologia, tradução livre), apresentou as bactérias intestinais como mediadoras entre os benefícios para a saúde do coração que podem ser proporcionados por uma dieta à base de vegetais.

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O estudo foi feito com base em dados de 760 mulheres que participaram do Estudo de Saúde dos Enfermeiros, para o qual elas forneceram informações a respeito do seu estilo de vida assim como amostras de sangue com uma década de intervalo.

É tudo sobre TMAO

O N-óxido de trimetilamina (TMAO, sigla em inglês) é um metabólito produzido pelas bactérias intestinais que atuam na decomposição da carne vermelha e de outros produtos de origem animal. Mas como será que isso acontece?

As bactérias presentes no intestino devoram o nutriente colina, uma substância encontrada nas carnes vermelhas, nos peixes, nas aves e nos ovos, ao mesmo tempo em que produzem a trimetilamina (TMA, sigla em inglês), que é convertida em TMAO pelo fígado.

De acordo com a professora de medicina e de saúde da mulher da Escola Médica de Harvard JoAnn Manson, quanto mais carne vermelha uma pessoa consome, mais bactérias devoradoras de carne são produzidas no intestino. Em outras palavras, a exposição à carne vermelha muda a flora intestinal, formando mais micróbios para metabolizar a carne.

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Algumas pesquisas já associaram alguns tipos de peixes a níveis mais elevados de TMAO, porém segundo a professora de Harvard, os benefícios de comer peixe podem compensar os riscos. Já as aves, os ovos e os produtos laticínios aparentemente não têm o mesmo efeito em relação aos níveis de TMAO que a carne vermelha e os peixes, acrescentou Manson.

Lembra o estudo publicado no Journal of the American College of Cardiology? Então, ele apontou que o TMAO já foi relacionado ao aumento do risco de desenvolver doença no coração e de sofrer um ataque cardíaco.

Além disso, uma matéria publicada em 2019 no Journal of the American Medical Association (Jornal da Associação Médica Americana, JAMA, sigla em inglês) noticiou que três análises acharam uma ligação entre níveis sanguíneos elevados de TMAO e um aumento no risco de doença cardiovascular e de morte precoce decorrente de qualquer causa.

Um desses estudos identificou que as pessoas com níveis mais altos de TMAO no sangue podem ter mais que o dobro do risco de sofrer ataque cardíaco, acidente vascular cerebral (AVC) ou outros problemas cardiovasculares, em comparação aos que tinham menores níveis do metabólito.

Outras pesquisas encontraram associações entre os níveis elevados de TMAO com a insuficiência cardíaca e a doença renal crônica.

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Os pesquisadores do estudo apresentado no Journal of the American College of Cardiology apontaram que eliminar ou diminuir bastante a quantidade de produtos de origem animal da dieta trouxe uma redução no TMAO da bactéria intestinal, auxiliando a cortar assim o risco associado ao metabólito.

Ao analisar os dados das mulheres do estudo, os pesquisadores observaram que aquelas que desenvolveram a doença arterial coronariana durante o período de 10 anos tinham maiores níveis de TMAO no sangue, assim como seguiam dietas de pior qualidade, tinham maiores Índices de Massa Corporal (IMC) e possuíam histórico familiar de ataque cardíaco.

Os autores da pesquisa também perceberam que as participantes com maiores elevações nos níveis do metabólito durante o período do estudo apresentaram um risco 67% mais alto de desenvolver a doença arterial coronariana.

O PhD em nutrição e epidemiologia e autor sênior da pesquisa, Lu Qi, afirmou que as descobertas do estudo mostram que diminuir os níveis de TMAO pode contribuir com o risco de doença arterial coronariana e sugerem que os microbiomas intestinais são novas áreas a serem exploradas no que se refere à prevenção de doença no coração.

Porém, vale ressaltar que o metabólito não deve ser a única preocupação em termos de saúde do coração. Manson alertou que existem outros fatores cruciais além do TMAO e que mais de 400 metabólitos tem sido analisados no que se refere à sua relação com a dieta.

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A saída está na dieta

Enquanto ainda não é possível examinar os níveis de TMAO para analisar a doença cardiovascular, indicar terapia com probióticos para introduzir bactérias do bem no intestino ou tratamentos com medicamentos para tentar diminuir os níveis do metabólito, a melhor maneira de influenciar esses níveis – e talvez diminuir o risco de doença cardiovascular – é modificar a dieta, destacou a professora de medicina e de saúde da mulher da Escola Médica de Harvard JoAnn Manson.

Isso significa se tornar vegetariano ou vegano? Não necessariamente. Uma dieta saudável precisa incluir uma variedade ampla de alimentos e não tem que eliminar determinadas comidas, no entanto, ela deve conter principalmente frutas, verduras, legumes, grãos integrais e mais peixes e aves do que carne vermelha ou processada.

Se você tem dificuldades para seguir esse tipo de alimentação, procure o auxílio de um nutricionista, que também poderá te indicar uma dieta que diminua outros riscos associados à saúde do coração.

As informações são Centro de Ecogenética e Saúde Ambiental da Universidade de Washington nos Estados Unidos, da Harvard Health Publishing (Publicação de Saúde de Harvard, tradução livre).

Fontes e Referências Adicionais:

O que você achou desse benefício de uma dieta à base de vegetais? Pretende experimentar esse tipo de dieta para aproveitá-lo? Comente abaixo!

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Sobre Dra. Patricia Leite

Dra. Patricia é Nutricionista - CRN-RJ 0510146-5. Ela é uma das mais conceituadas profissionais do país, sendo uma referência profissional em sua área e autora de artigos e vídeos de grande sucesso e reconhecimento. Tem pós-graduação em Nutrição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é especialista em Nutrição Esportiva pela Universidad Miguel de Cervantes (España) e é também membro da International Society of Sports Nutrition.

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1 comentário em “Dieta à Base de Vegetais Pode Transformar as Bactérias do Intestino para Proteger o Coração”

  1. Excelente matéria! parabéns pelo conteúdo, só atentar a digitação, pois tem algumas palavras que estão errada no texto.

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