Em tempos contemporâneos, as principais causas de morte não são as pragas, guerras ou fomes de outrora. Atualmente, as doenças crônicas, como cardiovasculares, câncer e diabetes, predominam, muitas vezes decorrentes de estilos de vida não saudáveis.
A modernidade nos permitiu viver mais, mas paradoxalmente, mais enfermos. A distância crescente da natureza e a introdução de hábitos não naturais em nosso cotidiano têm suas consequências.
Muitos especialistas argumentam que as enfermidades predominantes são reflexos de um choque entre nossa biologia e o ambiente contemporâneo. Este contraste é evidenciado pela falta de exposição a estímulos naturais, para os quais nossa genética está adaptada. Alimentos frescos, atividade física regular, laços sociais sólidos e exposição a elementos naturais, que compõem nosso ambiente evolutivo, são essenciais para a saúde.
Contrapondo-se a isso, a modernidade trouxe estímulos aos quais nosso corpo não se adaptou adequadamente. Sedentarismo, consumo exagerado de alimentos processados, conexões sociais superficiais através de meios digitais e excessiva exposição à luz artificial são apenas alguns dos exemplos que os especialistas destacam.
Para combater a crescente desconexão com a natureza, seria benéfico nos alinharmos aos estímulos e contextos ambientais presentes quando nossos antepassados prosperaram, aproximadamente entre 10 mil e 20 mil anos atrás, no ápice do período Paleolítico.
Isso envolve adotar seus movimentos, padrões alimentares, fortalecer laços sociais e se reconectar com elementos naturais, como o sol, o frio e o calor. Essa perspectiva é respaldada por tendências atuais, como a dieta paleo, o paleotreinamento — um regime de exercícios modelados após os movimentos dos homens pré-históricos — e a prática do “Earthing”, que incentiva caminhar descalço.
A premissa do paleotreinamento, por exemplo, idealizado por Airam Fernández, é que movimentos naturais como saltar, caminhar e rastejar são intrínsecos à nossa herança neuromotora. Esses padrões de movimento, por serem inatos e englobarem o corpo como um todo, são mais benéficos e eficientes. O treino incorpora elementos como troncos, pedras e cordas, além do peso corporal, ao contrário das máquinas de academias convencionais.
Os antigos não tinham o hábito de consumir pacotes de guloseimas como fazemos hoje. Eles se alimentavam de vegetais, raízes, frutas, ovos, sementes e variados tipos de carne. Muitos especialistas apontam que a grande questão da dieta contemporânea é a inclusão de alimentos processados, para os quais nosso corpo não está naturalmente adaptado. A alta ingestão de produtos processados hoje em dia gera reações fisiológicas adversas ao nosso sistema.
Além disso, o conforto excessivo da vida moderna, que nos mantém resguardados em ambientes climatizados e evita exposições naturais como sol, frio e calor, pode ser prejudicial. Essa ausência de desafios naturais, na visão dos especialistas, enfraqueceu nossas capacidades físicas e mentais. Eles destacam que estresses naturais, como o sol que regula nosso ritmo circadiano ou o frio e o calor que aprimoram nossos sistemas de termorregulação, são essenciais para a saúde.
A socialização é outro componente vital para a saúde humana. Francisco Giner Abati, professor de Antropologia da Universidade de Salamanca, ressalta a importância de viver em grupos para a sobrevivência humana. Embora a era digital tenha nos aproximado virtualmente, também gerou um isolamento real, contribuindo para o aumento das doenças mentais.
Portanto, embora o mundo moderno ofereça inúmeras conveniências, é fundamental buscar um equilíbrio, inspirando-se nos hábitos de nossos antecessores para uma vida mais saudável e plena.