Varfarina (Marevan®): para que serve, como age, como tomar e efeitos colaterais

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A varfarina é um medicamento classificado como anticoagulante, pois previne a formação de coágulos ou trombos em pessoas suscetíveis a esse problema. Popularmente, a varfarina é conhecida por “afinar” o sangue. 

O uso desse medicamento só pode ser feito com prescrição e acompanhamento médicos, visto que se for usado de forma inadequada, pode causar hemorragias e complicações graves.

Inclusive, durante o tratamento, é feito o acompanhamento periódico com o exame de tempo de protrombina, para avaliar como está a capacidade de coagulação do sangue, usando um parâmetro internacional. Assim, as doses do medicamento são ajustadas sempre que necessário, para garantir a segurança e a eficácia do tratamento.

Você encontra a varfarina sódica em farmácias e drogarias na forma de comprimidos de 1,0 mg, 2,5 mg, 5,0 mg e 7,5 mg. Também encontra esse princípio ativo com diversos nomes comerciais, sendo que o Marevan® é a marca de referência. O medicamento também está disponível gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde. 

Veja mais detalhes sobre a varfarina, como o medicamento age, para que serve, como tomar e quais são os cuidados necessários, quanto às interações medicamentosas, alimentares e efeitos colaterais do medicamento. 

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Varfarina: o que é?

A varfarina é um medicamento anticoagulante, isso significa que a substância interfere no mecanismo natural de coagulação do sangue, dificultando-o

Esse efeito é útil para prevenir a formação de coágulos perigosos em pessoas que já tiveram um episódio de trombose venosa, fibrilação atrial ou que passaram por uma cirurgia de substituição de uma válvula cardíaca. 

O uso da varfarina é bastante consolidado na medicina, pois é um medicamento eficaz, barato e disponível em comprimidos. 

Porém, para que a varfarina seja eficaz no organismo, sua dosagem deve ser precisamente calculada, pois se estiver acima ou abaixo da concentração ideal, os efeitos são adversos ou não são protetivos. Ou seja, se ela estiver em excesso no sangue, há maior risco de hemorragia, e se estiver abaixo da concentração ideal, ela não previne a coagulação sanguínea de modo eficiente. 

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Como a varfarina age

Para compreender como a varfarina age, é preciso ter uma breve noção do que é a coagulação sanguínea.

A coagulação sanguínea é o processo de formação de coágulos de sangue em um local onde houve uma lesão em um vaso sanguíneo. O coágulo sanguíneo é o sangue em um estado gelatinoso ou semissólido, capaz de estancar a lesão e impedir uma hemorragia. 

A formação de coágulos sanguíneos é essencial para a manutenção da vida, pois sem esse mecanismo, até mesmo um pequeno corte na pele poderia causar uma hemorragia fatal. Entretanto, este mecanismo precisa ser equilibrado pela ação de fatores de coagulação e, também, de anticoagulação. 

Se houver um desequilíbrio nos fatores de coagulação e anticoagulação no sangue de uma pessoa, ela fica suscetível ao crescimento exagerado dos coágulos sanguíneos, que resulta na formação de trombos.  

Quatro fatores de coagulação são formados a partir da vitamina K, que são os fatores II, VII, IX e X. A varfarina inibe a formação destes fatores e, consequentemente, diminui a capacidade de coagulação do sangue. 

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Popularmente, a varfarina é conhecida por “afinar o sangue”, e este pensamento provém da diminuição da formação de coágulos sanguíneos, que são responsáveis por tornar o sangue “grosso”. Veja algumas dicas de como afinar o sangue com ingredientes naturais

Para que serve a varfarina

Trombose
Uma das indicações principais da varfarina é evitar a trombose

O efeito anticoagulante da varfarina é bastante útil para prevenir a formação de trombos em condições de saúde que aumentam as chances desse problema ocorrer:

  • Trombose venosa profunda: doença causada pela formação de trombos em veias profundas, geralmente dos membros inferiores. 
  • Embolia pulmonar: bloqueio de uma ou mais artérias do pulmão por trombos que se desprendem de outros vasos sanguíneos. A embolia pulmonar pode ser causada pela trombose venosa profunda.
  • Fibrilação atrial: é um tipo de arritmia cardíaca que afeta os átrios do coração, fazendo que se contraiam fora de compasso. 
  • Válvula cardíaca artificial: implantada em cirurgia cardíaca de troca de válvula. 
  • Síndrome antifosfolípide ou síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAAF): distúrbio autoimune que causa a formação de trombos em artérias e veias. 

Como tomar a varfarina

A posologia, que é o número de vezes e a dose de varfarina que se deve tomar por dia, é individualizada, com base nos resultados dos exames de TP (tempo de protrombina) e RNI (razão normalizada internacional). Veja como funciona o exame de coagulograma.

De início, a faixa de dose normalmente utilizada é de 2,5 mg a 5,0 mg de varfarina sódica ao dia.  

A partir disso, se inicia um controle da eficácia da varfarina com o exame de TP/RNI, que indica o nível de anticoagulação do sangue. Ele funciona basicamente assim: quanto mais o sangue demorar para coagular, maior é o valor de RNI.

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Uma pessoa que tem seu mecanismo de coagulação sanguínea regulado (normal), tem um RNI de 1. Pessoas com problemas de saúde que as colocam em risco de sofrer com a formação de trombos precisam manter o RNI na faixa de 2 a 3,5. Esta é a faixa em que a formação de trombos é prevenida, sem implicar em risco de hemorragia. O risco de sangramento descontrolado por causa do alto nível de anticoagulação do sangue surge com o RNI acima de 4. 

É por isso que a posologia da varfarina é individualizada, pois depende do nível de anticoagulação de cada paciente. Como a margem terapêutica é curta (RNI de 2 a 3,5), as pessoas em tratamento precisam ser regularmente monitoradas, quanto ao valor de RNI.

No início do tratamento, para ajustar a dose, esse monitoramento é feito a cada 3 dias. Encontrada a dose ideal (dose de manutenção), que é aquela que mantém o RNI estável por 2 semanas seguidas, a monitorização pode ser espaçada para cada 2 ou 4 semanas. 

Na maioria dos casos, a dose de manutenção fica na faixa de 2,5 a 10 mg ao dia. 

O tempo de tratamento varia de caso para caso. Via de regra, o tratamento só é suspenso quando o risco de trombose é eliminado. 

O que fazer quando esquecer de tomar a varfarina

A varfarina faz efeito no organismo por 24 horas, portanto, se você esquecer de tomar o medicamento no horário correto, mas se lembrar no mesmo dia, você deve tomá-lo assim que lembrar. 

Agora, se você se lembrar apenas no dia seguinte, não tome duas doses do medicamento, para compensar a que você esqueceu. A varfarina nunca deve ser tomada em dose dobrada. 

Interações com a varfarina

O tratamento com a varfarina requer um controle cuidadoso dos medicamentos e alimentos ingeridos, pois muitos interferem na ação do fármaco, inibindo ou potencializando seu efeito anticoagulante. 

O que interfere na ação do medicamento não é, necessariamente, o consumo de um alimento isolado, mas alterações na dieta, com a remoção ou inclusão de alimentos que eram consumidos com frequência ou que nunca foram consumidos antes.

Essas mudanças na dieta ou no tratamento, com a inclusão de um novo fármaco ou medicamento natural, podem refletir em alterações do TP/RNI, que precisa ser monitorado e a dose do medicamento ajustada.  

Veja na tabela abaixo os medicamentos que podem inibir e potencializar o efeito anticoagulante:

Medicamentos que podem diminuir o RNI e inibir o efeito da varfarinaAnticoncepcionais orais, Azatioprina, Carbamazepina, Medicamentos antitireoidianos, Fenitoína, Fenobarbital, Griseofulvina, Haloperidol, Hidróxido de alumínio, Rifampicina, Sucralfato, Vitamina K.
Medicamentos que podem aumentar o RNI e potencializar o efeito da varfarinaAcarbose, Alopurinol, Aspirina, Amiodarona, Anti-inflamatórios, Antibióticos da classe das cefalosporinas, Antibióticos macrolídeos (como azitromicina), Cimetidina, Ciprofloxacina, Clofibrato, Clopidogrel, Colchicina, Corticoides, Dissulfiram, Eritromicina, Estatinas, Esteroides anabolizantes, Fenofibrato, Fluconazol, Fluorouracil, Fluoxetina, Genfibrozila, Hormônios tireoidianos, Isoniazida, Metronidazol, Omeprazol, Paracetamol, Sulfametoxazol-trimetoprim (Bactrim), Sertralina, Tamoxifeno, Tetraciclina, Tramadol, Vacina de gripe.
Produtos naturais que podem inibir o efeito da varfarinaChá verde, Danshen, Erva-de-são-joão, Flor-de-cone, Ginseng (Panax ginseng).
Produtos naturais que podem potencializar o efeito da varfarinaCanela, Cranberry, Gingko biloba, Óleo de peixe (ômega-3), Quitosana, Saw palmetto, Toranja.

Os alimentos ricos em vitamina K podem diminuir o RNI e inibir o efeito da varfarina, portanto é necessário cuidar das porções ingeridas, que não podem ser exageradas. 

Alguns alimentos, que até são classificados como anticoagulantes, podem aumentar o RNI e potencializar o efeito da varfarina e, por isso, devem ser evitados ou consumidos com moderação, segundo a orientação do(a) médico(a).  

O consumo de bebidas alcoólicas também interfere no efeito do medicamento, inibindo ou potencializando-o. Pessoas que não têm o hábito de beber álcool e fazem um consumo pontual exagerado podem sofrer uma elevação do RNI e ter o efeito do medicamento potencializado. 

Enquanto que pessoas que consomem álcool com frequência podem ser resistentes à varfarina, demandando doses mais altas do medicamento, para terem os benefícios. 

Efeitos colaterais da varfarina

Marevan

Um possível efeito colateral do uso da varfarina é a anticoagulação excessiva do sangue, que pode resultar em hemorragias leves ou graves, e serem internas ou externas. 

Assim, a hemorragia pode ocorrer em qualquer parte do corpo e, normalmente, sucede algum corte na pele. 

As formas mais graves de hemorragia são os sangramentos internos no sistema gastrointestinal e no cérebro. 

Como existe esse risco de você ficar mais suscetível ao sangramento com o uso da varfarina, é importante redobrar os cuidados no sentido de evitar cortes e quedas. Se você cair ou se envolver em qualquer acidente, procure ajuda médica para uma avaliação, mesmo que não haja sangramento visível.  

Na presença de sinais de sangramento, você deve procurar ajuda médica o mais rápido possível: 

  • Sangramento na gengiva, que ocorre de modo espontâneo. 
  • Presença de sangue na urina.
  • Evacuação de fezes muito escuras ou com presença visível de sangue. Saiba o que significam as cores das fezes para a saúde.
  • Hemorragia nasal.
  • Vômito com sangue.
  • Tosse com sangue.
  • Aparecimento de hematomas na pele.
  • Alterações repentinas da visão.
  • Dor de cabeça muito forte e repentina.

Contraindicações da varfarina

O uso da varfarina é contraindicado nas seguinte situações:

  • Nas 24 horas antes e após uma cirurgia ou parto.
  • Anestesia lombar ou regional.
  • Punção na medula espinal.
  • Pessoas que possuem potencial de não aderir ao tratamento.
  • Hipotireoidismo.
  • Durante a gravidez, pelo risco de malformação fetal, hemorragia fetal e aborto. A exceção é feita para mulheres com prótese valvar. 
  • Aborto incompleto (retido).
  • Doenças graves no fígado ou nos rins.
  • Hemorragias.
  • Hipertensão arterial descontrolada.
  • Endocardite bacteriana.
  • Aneurisma aórtico ou cerebral.
  • Hemofilia.
  • Úlcera ativa (com sangramento) no estômago.
  • Hipersensibilidade à varfarina sódico ou a qualquer outro componente da fórmula. 

Devido aos riscos de hemorragia, da necessidade constante de monitoramento do TP/RNI e da suscetibilidade a interferências de outros medicamentos e de alimentos, a varfarina tem sido substituída por outros anticoagulantes, que ainda são novos no mercado. Conheça os tipos de anticoagulantes, para que servem e como usar.

Fontes e referências adicionais

Você faz tratamento com varfarina? Quais medicamentos e alimentos seu médico ou médica suspendeu ou pediu para evitar? Com qual frequência você faz o exame de tempo de protrombina (TP/RNI)? Comente abaixo!

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Sobre Dr. Lucio Pacheco

Dr. Lucio Pacheco é Cirurgião do aparelho digestivo, Cirurgião geral - CRM 597798 RJ/ CBCD. Formou-se em Medicina pela UFRJ em 1994. Em 1996 fez um curso de aperfeiçoamento em transplantes no Hospital Paul Brousse, da Universidade de Paris-Sud, um dos mais especializados na Europa. Concluiu o mestrado em Medicina (Cirurgia Geral) em 2000 e o Doutorado em Medicina (Clinica Médica) pela UFRJ em 2010. Dr. Lucio Pacheco é autor de diversos livros e artigos sobre transplante de fígado. Atualmente é médico-cirurgião, chefe da equipe de transplante hepático do Hospital Copa Star, Hospital Quinta D'Or e do Hospital Copa D'Or. Além disso é diretor médico do Instituto de Transplantes. Suas áreas de atuação principais são: cirurgia geral, oncologia cirúrgica, hepatologia, e transplante de fígado. Para mais informações, entre em contato.

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