Abacate e gordura no fígado – Ajuda ou faz mal para quem tem fígado gordo?

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Será que a relação entre abacate e gordura no fígado é amigável ou conflituosa? Essa é uma dúvida bem importante para quem descobriu que tem fígado gordo e sempre gostou de consumir a fruta no seu dia a dia.

Embora seja calórica e precise ter o seu consumo moderado, o abacate é um alimento bastante nutritivo. 

Ao mesmo tempo em que é uma famosa fonte de gorduras saudáveis, ele é rico em fibras e fornece doses de vitaminas do complexo B (B2, B3, B5, B6 e B9), vitamina C, vitamina E e vitamina K.

Além disso, a composição do abacate conta com minerais como magnésio, potássio, cobre e manganês.

A gordura no fígado

Fígado gordo
O acúmulo de gordura no fígado provoca a doença hepática gordurosa

A doença hepática gordurosa, também chamada de gordura no fígado ou fígado gordo, é uma condição caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado.

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Existem dois tipos principais da condição: a doença hepática gordurosa não alcoólica ou esteatose hepática não alcoólica e a versão alcoólica do problema, também conhecida como esteatohepatite alcoólica.

Como o próprio nome já indica, a versão alcoólica da doença é devido ao uso intenso de álcool. O fígado é responsável por decompor a maior parte do álcool consumido, para que ele possa ser eliminado do organismo.

Entretanto, esse processo de quebra pode gerar substâncias prejudiciais, que podem danificar as células hepáticas, promover inflamação e enfraquecer as defesas naturais do corpo.

Quanto mais álcool uma pessoa consome, mais o seu fígado é danificado. A doença hepática gordurosa alcoólica é o estágio inicial da doença hepática associada ao álcool, as próximas etapas são a hepatite alcoólica e a cirrose.

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Já a doença hepática gordurosa não alcoólica não tem relação com o abuso do álcool e se divide em dois tipos. Na versão simples da condição, há gordura no fígado, mas pouca ou nenhuma inflamação ou dano celular hepático. Geralmente, esse tipo não evolui para algo capaz de causar dano hepático ou complicações.

Por sua vez, na esteatohepatite não alcoólica há inflamação e dano celular hepático, assim como gordura no fígado. A inflamação e o dano celular hepático podem causar fibrose (formação excessiva de tecido cicatricial). Além disso, a doença pode levar à cirrose ou câncer no fígado.

A causa da doença hepática gordurosa não alcoólica é desconhecida, mas os pesquisadores sabem que ela é mais comum nas pessoas que:

  • Têm diabetes do tipo 2 e pré-diabetes
  • Têm obesidade
  • São de meia idade ou mais velhas
  • São hispânicas
  • Têm níveis altos de gordura no sangue, como colesterol e triglicerídeos
  • Têm pressão alta
  • Tomam corticosteroides e alguns medicamentos contra o câncer
  • Têm distúrbios metabólicas, como a síndrome metabólica
  • Tiveram uma perda de peso rápida
  • Têm certas infecções, como a hepatite C
  • Foram expostas a algumas toxinas

Abacate e gordura no fígado

Abacate
Vários estudos e experimentos vêm analisando a relação entre abacate e gordura no fígado

Em um estudo do ano de 2015, publicado no World Journal of Gastroenterology, pesquisadores relataram que o abacate pode ajudar a diminuir os lipídios ou gorduras no sangue e a prevenir dano hepático em pessoas com doença hepática gordurosa não alcoólica.

Da mesma maneira, os autores de uma revisão de estudos de 2019, publicada no periódico Nutrients, sugeriu que os abacates contêm fenóis, ácidos graxos (um tipo de lipídio ou gordura) monoinsaturados, que podem ajudar a diminuir os riscos de síndrome metabólica, doença cardiovascular e doença hepática gordurosa não alcoólica.

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Além disso, uma pesquisa de 2022, publicada na Frontiers in Pharmacology e conduzida em ratos, apontou que o óleo de abacate ajudou a diminuir a doença hepática gordurosa não alcoólica por meio de mecanismos como a redução da inflamação e do estresse oxidativo.

Entretanto, embora esses estudos sejam animadores, eles ainda não são suficientes para bater o martelo e são necessárias mais pesquisas para corroborar os potenciais benefícios do abacate para as pessoas que sofrem de doença hepática gordurosa não alcoólica.

As gorduras saudáveis

Em artigo para a Harvard Health Publishing, a hepatologista clínica Kathleen Viveiros abordou o que pode prevenir ou reverter a doença hepática gordurosa não alcoólica. 

Segundo ela, a dieta pode ter um grande papel nisso e citou a dieta mediterrânea, que usa gorduras saudáveis no seu cardápio, como um bom exemplo de padrão de alimentação saudável. 

A especialista explicou que todo mundo precisa de gorduras: elas ajudam o organismo a absorver vitaminas, são vitais para a proteção dos nervos e células e auxiliam a dar saciedade.

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“Está claro que as dietas do estilo mediterrâneo podem ajudar a reduzir a gordura hepática, ajudando assim a prevenir ou possivelmente reverter a doença hepática gordurosa não alcoólica. Essas dietas são ricas em gorduras saudáveis, como as monoinsaturadas encontradas em azeite de oliva e abacate e o ômega 3 presente em peixes como salmão e sardinhas”, apontou a hepatologista clínica.

Outro ponto positivo para as gorduras monoinsaturadas e o ômega 3 podem ajudar a usar a insulina melhor. Mas, por que isso é importante?

Bem, as células usam a glicose, um tipo de açúcar, como fonte de energia. Quem tem a tarefa de ajudar a glicose obtida por meio dos alimentos digeridos a chegar até as células é justamente o hormônio insulina.

Entretanto, as pessoas com doença hepática gordurosa geralmente têm resistência à insulina, ou seja, o seu organismo produz o hormônio, mas não consegue usá-lo adequadamente.

Com isso, a glicose se acumula no sangue e o fígado a converte em gordura. Assim, as gorduras saudáveis que ajudam o corpo a usar melhor a insulina também contribuem para que a glicose chegue às células e o fígado não precise produzir e armazenar gordura.

Aproveite para saber mais sobre a dieta indicada para a doença hepática gordurosa.

Por outro lado

É importante manter a moderação ao consumir o abacate para não extrapolar na quantidade de calorias e gorduras. Embora a fruta seja fonte de gorduras saudáveis, o seu consumo excessivo não é inofensivo.

Pelo menos foi o que indicou um estudo de 2017, realizado por cientistas da University of California San Francisco (Universidade da Califórnia, São Francisco): o consumo liberal das chamadas gorduras boas, como as encontradas no abacate, pode levar à doença hepática gordurosa.

A pesquisa, publicada no Cellular and Molecular Gastroenterology and Hepatology, foi conduzida em ratos apontou que uma dieta rica em gorduras monoinsaturadas combinadas com um teor elevado de amido (carboidrato) causou a doença hepática gordurosa mais severa. 

Os cientistas tinham o objetivo de estudar o papel de diferentes nutrientes no desenvolvimento da doença hepática gordurosa. Para isso, eles juntaram uma gordura (saturada ou monoinsaturada) com um carboidrato (sacarose ou amido).

As dietas tinham aproximadamente 40% carboidrato, 40% gordura e 20% proteínas por caloria. Quatro grupos de 10 ratos receberam as dietas experimentais por seis meses e comparados com ratos alimentados com uma dieta regular, muito mais baixa em gorduras.

Todos os ratos que recebiam as dietas experimentais, que podiam comer quanto quisessem, ficaram obesos e desenvolveram algum grau de doença hepática gordurosa. 

Mas, para a surpresa dos pesquisadores, aqueles que estavam na dieta de amido com gordura monoinsaturada tiveram a doença mais severa, acumulando 40% mais gordura no fígado do que os animais nas outras três dietas. Os fígados dos bichinhos incharam e com o peso extra e, vistos no microscópio, eles apareceram cheios de glóbulos de gordura.

No entanto, os pesquisadores ainda não sabiam porque a combinação entre o amido e a gordura monoinsaturada pareceu exacerbar a gordura no fígado. Porém, eles também notaram que esses ratos perderam gordura ao redor de uma região normalmente usada para armazenar gordura.

Quando eles examinaram o tecido de gordura visceral, observaram um nível incomum de morte de células de gordura e sinais de inflamação. Uma suspeita é que a dieta de amido com gordura monoinsaturada induz de alguma forma que a gordura dessas áreas seja lançada no fígado em um ritmo anormalmente alto, engordando o órgão.

Em um experimento final, os pesquisadores alimentaram um grupo de ratos com uma dieta elaborada para imitar de maneira próxima uma típica dieta ocidental, com uma mistura de diferentes gorduras e carboidratos.

A PhD e primeira autora do estudo Caroline C. Duwaerts lembrou que nenhuma pessoa consome apenas gordura monoinsaturada. Mas, mesmo que a dieta ocidental tivesse apenas ¼ de gordura monoinsaturada, os ratos desenvolveram tanta gordura no fígado quanto aqueles que seguiram a dieta de amido com gordura monoinsaturada.

Isso pode sugerir que o consumo típico de gordura monoinsaturada pode estar excedendo o limite. Mas, isso não significa que você não deva mais consumir a gordura monoinsaturada por meio do abacate. Até porque ela é uma gordura boa e tem seus benefícios, assim como a fruta traz as suas vantagens nutricionais.

Como disse Duwaerts, é uma questão de proporção, ou seja, de manter a moderação na hora de consumir as gorduras monoinsaturadas e o abacate.

Além disso, é importante ter em mente que o estudo não avaliou as gorduras monoinsaturadas isoladamente e foi realizado em animais, portanto, são necessárias mais pesquisas, principalmente em humanos, para entendermos como o excesso de gordura monoinsaturada e de abacate podem influenciar o desenvolvimento ou piora da doença hepática gordurosa em uma pessoa.

Fontes e referências adicionais

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Sobre Dra. Patricia Leite

Dra. Patricia é Nutricionista - CRN-RJ 0510146-5. Ela é uma das mais conceituadas profissionais do país, sendo uma referência profissional em sua área e autora de artigos e vídeos de grande sucesso e reconhecimento. Tem pós-graduação em Nutrição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é especialista em Nutrição Esportiva pela Universidad Miguel de Cervantes (España) e é também membro da International Society of Sports Nutrition.

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