Colchicina (Colchis®): o que é, para que serve, como tomar e efeitos colaterais

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A colchicina é um potente anti-inflamatório, que pode ser usado para tratar e prevenir crises de gota e de febre familiar do Mediterrâneo. 

A colchicina só deve ser usada se um médico ou médica prescrevê-la, pois a dose terapêutica do medicamento é muito próxima da dose tóxica, sendo portanto essenciais a orientação e o acompanhamento médico. 

Esse medicamento já é usado há séculos por povos antigos para tratar dores e inflamações articulares, mas os resultados científicos comprovando a sua eficácia são recentes. 

Veja mais detalhes sobre o que é a colchicina, para que ela serve, qual é o seu efeito no organismo, como tomar, quais são os possíveis efeitos colaterais e contraindicações. 

Colchicina: o que é?

Colchicum autumnale
Colchicum autumnale

A colchicina é um medicamento derivado da planta medicinal açafrão-do-prado (Colchicum autumnale), conhecida e usada há muito tempo por povos antigos. 

A colchicina entrou no mercado farmacológico em 1961 e as primeiras publicações científicas a respeito de sua eficácia no tratamento de crises de gota começaram a aparecer em 1980. 

Apesar de sua comprovada eficácia, a colchicina só foi aprovada pelo FDA (Food and Drug Administration) em 2009. No Brasil, o registro desse medicamento só ocorreu em 2013. 

Mesmo sendo utilizada há séculos, os estudos científicos recentes foram muito importantes para o estabelecimento da dose segura, visto que a janela terapêutica do medicamento é pequena. Isso quer dizer que a dose que exerce um efeito benéfico é muito próxima à dose tóxica, que provoca efeitos adversos no organismo. 

Para que serve a colchicina

A colchicina serve para o tratamento de crises agudas de gota e para a prevenção de quadros agudos em quem tem artrite gotosa crônica. A gota é uma forma de artrite caracterizada por dor intensa, vermelhidão e inchaço das articulações onde o ácido úrico se acumula. Veja quais são os outros sintomas de gota.

A colchicina também está indicada para o tratamento da febre familiar do Mediterrâneo, uma doença genética e hereditária, que afeta principalmente pessoas de ascendência mediterrânea e do Oriente Médio. Essa doença promove episódios recorrentes de febre, com dor abdominal ou torácica e inchaço das articulações. 

A colchicina também pode ser usada no tratamento de outras doenças, porém de forma off label, ou seja, por conta do médico(a) que a prescreve, não havendo indicação na bula. 

Assim, a colchicina pode ser usada no tratamento de:

  • Esclerodermia, espessamento da pele e enrijecimento dos tecidos conjuntivos.
  • Síndrome de sweet, ou dermatose neutrofílica febril aguda.
  • Vasculite cutânea de pequenos vasos idiopática.
  • Poliartrite associada à sarcoidose e à psoríase
  • Doença de Peyronie, com tempo de evolução inferior a um ano. 
  • Doença de Behçet.
  • Cirrose biliar.
  • Fibrose pulmonar idiopática (sem causa conhecida).
  • Pericardite aguda ou recorrente, uma inflamação que afeta a membrana que envolve o coração. 
  • Prevenção da síndrome pós-pericardiotomia.
  • Prevenção secundária na doença isquêmica cardíaca.

Efeito da colchicina no tratamento de gota

O mecanismo de ação da colchicina não é completamente conhecido, mas sabe-se que ela inibe vários processos importantes na montagem da resposta inflamatória no organismo, exercendo, assim, um potente efeito anti-inflamatório. 

A colchicina não age sobre a causa da gota, que é o depósito de cristais de ácido úrico nas articulações, para isso são usados medicamentos próprios, como o alopurinol, o febuxostat e o probenecid. Veja quais são os remédios para gota mais usados

Sendo assim, o momento mais adequado para usar a colchicina é quando a pessoa está enfrentando uma crise aguda de gota, com manifestação dos sintomas de inflamação: dor, inchaço, vermelhidão, calor e rigidez local. 

Devido ao problema da dose terapêutica ser próxima da tóxica, a colchicina normalmente não é a primeira droga de escolha do médico ou da médica, que costuma dar preferência para corticoides, como a prednisona, ou anti-inflamatórios não esteroides. Quando a inflamação não cede com o uso desses medicamentos, a colchicina é utilizada. 

Como tomar a colchicina

A colchicina pode ser encontrada com essa designação (forma genérica) ou com os seguintes nomes comerciais:

  • Referência: Colchis®
  • Cixin®
  • Colchicine®
  • Cocichimil®
  • Colcitrat®
  • Goltrite®

A forma de apresentação mais comum é em comprimido de 0,5 mg. 

As doses indicadas, de acordo com a bula do medicamento são:

Para a prevenção de crises agudas de gota

O médico ou a médica pode prescrever de 1 a 3 comprimidos de 0,5 mg por dia. 

Se for 1 comprimido por dia, o intervalo entre as doses é de 24 horas. Se forem 2 comprimidos por dia, são 12 horas de intervalo e, se forem 3, o intervalo entre as doses deve ser de 8 horas. 

Pacientes com gota que forem submetidos à cirurgia devem tomar 1 comprimido de colchicina 3 vezes ao dia, 3 dias antes e 3 dias depois da cirurgia. 

Para o tratamento de crises agudas de gota

Durante uma crise dolorosa de gota, o tratamento deve ser feito inicialmente com 0,5 mg a 1,5 mg de colchicina, seguido de 1 comprimido de colchicina a cada 1 ou 2 horas, até que a dor melhore ou que surjam os efeitos colaterais, normalmente de diarreia. 

Pacientes com artrite gotosa crônica podem manter o tratamento por até 3 meses, tomando 2 comprimidos por dia. 

Para a prevenção de episódios inflamatórios da febre familiar do Mediterrâneo

Inicialmente, o médico ou a médica pode prescrever de 1 a 1,5 mg de colchicina por dia, em dose única. Caso haja baixa tolerância, a dosagem total pode ser administrada em doses divididas. Ou, o tratamento pode ser iniciado com uma dose baixa, de 0,5 mg.

Geralmente, as crises agudas acontecem de 3 em 3 meses, e para isso servem as doses diárias de 1 a 1,5 mg, para preveni-las. Quando a frequência das crises é maior, o médico ou a médica pode estudar um incremento de 0,5 mg de colchicina por dia.

O aconselhado é que a dose diária máxima não ultrapasse 3 mg de colchicina. 

Efeitos colaterais da colchicina

Colchicina
Imagem: via Geolab

Os efeitos colaterais mais comuns da colchicina são sintomas gastrointestinais: 

  • Náuseas
  • Vômitos
  • Cólicas
  • Diarreia  

Esses efeitos são facilmente revertidos com a suspensão do medicamento. Algumas pessoas podem ter fadiga e dor de cabeça.

A superdosagem de colchicina pode levar à intoxicação, que se manifesta das seguintes formas:

  • Rabdomiólise: ruptura do tecido muscular, que pode levar a danos nos rins.
  • Mielossupressão: diminuição da atividade da medula óssea.
  • Coagulação intravascular disseminada: condição patológica que afeta a coagulação sanguínea. 
  • Lesão de células de vários órgãos, como rins, fígado, coração e sistema nervoso central. 
  • Óbito.

A dose na qual esses efeitos tóxicos podem se manifestar varia de pessoa para pessoa. Em média, doses entre 0,5 a 0,8 mg para cada quilograma corporal, podem gerar reações adversas graves.  

Quem não pode tomar colchicina

Pessoas com insuficiência renal, hepática, cardíaca ou gastrointestinal grave não podem usar colchicina, se já fizerem uso de medicamentos que inibem a glicoproteína P ou inibidores do CYP3A4, os mais comuns são:

  • Atazanavir
  • Atorvastatina
  • Azitromicina
  • Cetoconazol
  • Ciclosporina
  • Claritromicina
  • Digoxina
  • Diltiazem
  • Dissulfiram
  • Efavirenz
  • Eritromicina
  • Goldenseal
  • Indinavir
  • Itraconazol
  • Loperamida
  • Lopinavir
  • Pravastatina
  • Ritonavir
  • Rosuvastatina
  • Saquinavir
  • Sinvastatina
  • Tacrolimus
  • Toranja
  • Verapamil
  • Voriconazol

A lista é extensa, sendo esses medicamentos apenas alguns exemplos. Por isso, antes de começar a tomar a colchicina, informe ao seu médico ou médica sobre todos os medicamentos que fizer uso. 

Grávidas e lactantes não devem usar a colchicina, a não ser que tenham febre familiar do Mediterrâneo e não haja outra opção terapêutica. 

Pessoas com hipersensibilidade à colchicina ou a qualquer outro componente da fórmula também não podem usar colchicina. 

Fontes e referências adicionais

Você já usou colchicina para tratar alguma condição clínica? Teve algum efeito colateral? Por quanto tempo você teve que tomar colchicina? Comente abaixo!

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Sobre Dra. Akemi Martins

Dra. Akemi Martins Higa é bióloga, formada pela Universidade Federal de São Carlos em 2011. Doutora na área de Medicina Tropical e Saúde Internacional, com ênfase em doenças neurodegenerativas, pela Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de nanotecnologia e imunologia aplicada ao diagnóstico de neuromielite óptica e esclerose múltipla. Para mais informações, entre em contato.

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