Que uma dieta balanceada é importantíssima para a saúde física, você certamente já está cansado de saber. Mas já parou para pensar a respeito da sua importância em relação à saúde mental, mais especificamente no que se refere ao risco de ter depressão?
Um estudo já apontou que a saúde intestinal pode ajudar a luta contra a depressão, isso sem contar que pode haver uma associação entre a falta de vitamina D e a depressão. Mas, antes de nos aprofundarmos mais na relação entre dieta de baixa qualidade e depressão, vamos conhecer melhor o que é e o que pode causar a doença?
A depressão, também conhecida pelos nomes de transtorno depressivo maior ou depressão clínica, é uma doença caracterizada por uma sensação persistente de tristeza e perda de interesse.
Bem mais do que uma melancolia temporária, a depressão não é uma fraqueza ou algo da qual a pessoa pode sair quando bem entende – trata-se de uma condição de saúde séria, que precisa ser tratada com respeito e que exige um tratamento igualmente sério.
Ainda que não se conheça qual exatamente é a causa do desenvolvimento da depressão, acredita-se que os seguintes fatores possam estar associados ao surgimento da doença:
- Diferenças biológicas: aparentemente, os pacientes com depressão apresentam mudanças físicas em seus cérebros. Embora a relevância dessas mudanças ainda esteja incerta, ela pode vir a ajudar a identificar casos da condição;
- Química cerebral: os neurotransmissores, substâncias químicas naturalmente presentes no cérebro, provavelmente desempenham um papel no desenvolvimento da depressão. Pesquisas recentes já apontaram que mudanças na função e no efeito desses neurotransmissores e o modo pelo qual eles interagem com os neurocircuitos relacionados à estabilidade do humor influenciam significativamente a depressão e o seu tratamento;
- Questões hormonais: mudanças no equilíbrio hormonal do corpo também podem ter uma relação com a depressão. Essas mudanças hormonais podem ocorrer durante a gestação, no pós-parto, na menopausa e quando há problemas na tireoide ou outras doenças;
- Características hereditárias: a depressão é mais comum em pessoas que possuem parente consanguíneos que já tiveram a condição.
Mas onde é que a dieta de baixa qualidade entra nisso tudo? De acordo com a médica de medicina interna e mestra em saúde pública Monique Tello, ao lado (não como substituo) da terapia e dos medicamentos, o tratamento da depressão envolve o que ela chama de autocuidado.
“O autocuidado inclui coisas como sono, atividade física e dieta – e é tão importante quanto os medicamentos e a terapia. Ao aconselhar os meus pacientes sobre o autocuidado, eu sempre sinto que nós não temos tempo o suficiente para abordar a dieta. Eu sou apaixonada por medidas de dieta e estilo de vida para a boa saúde porque existem grandes evidências que dão suporte aos benefícios do estilo de vida e da dieta saúde para quase tudo: prevenir doença cardiovascular, câncer, demência e distúrbios na saúda mental, incluindo a depressão”, explicou a médica.
Segundo Tello, a alimentação é um aspecto muito importante da saúde mental, ao ponto de existir um campo inteiro da medicina sobre essa relação: o campo da psiquiatria nutricional.
A mestra em saúde pública apontou que uma série de análises de pesquisas que avaliaram diversos estudos indicam que existe uma relação entre o que uma pessoa come e o risco de desenvolver depressão.
É a dieta de baixa qualidade que favorece a depressão ou a depressão que favorece a dieta de baixa qualidade?
Quando está com depressão, uma pessoa pode ficar mais propensa a consumir alimentos que passam longe de ser saudáveis – guloseimas, frituras e outras junk foods lotadas de calorias, gorduras ruins e açúcar e pobres em nutrientes.
Afinal, quem nunca recorreu à comida para aliviar as emoções e sentimentos ruins ou não conhece alguém que já fez isso? Entretanto, mesmo assim, para a médica é necessário que se questione o que é que vem antes: a dieta ou a depressão? Ou uma coisa não exclui a outra?
Tello destacou uma análise em particular – do ano de 2017 e de autoria de pesquisadores da China – que concluiu que enquanto uma dieta com alta ingestão de frutas, vegetais, grãos integrais, peixes, azeite de oliva, produtos laticínios com baixo teor de gorduras e antioxidantes e baixa ingestão de produtos de origem animal estava aparentemente ligada a uma diminuição no risco de ter depressão; uma dieta com consumo elevado de carnes vermelhas e/ou processadas, grãos refinados, doces, produtos laticínios ricos em gorduras, manteiga, batatas e molhos ricos em gorduras e consumo pequeno de frutas e vegetais estava associado ao aumento do risco de desenvolver depressão.
“Felizmente, os pesquisadores trataram dessa questão. Outra grande análise examinou somente estudos prospectivos, ou seja, eles examinaram a dieta de base e, então, calcularam o risco de desenvolvimento da depressão dos voluntários do estudo. Os pesquisadores identificaram que uma dieta saudável (a dieta Mediterrânea é um exemplo) estava associada a um risco significativamente mais baixo de desenvolver os sintomas da depressão”, relatou a mestra em saúde pública.
Para a médica, o recado que fica é o de comer muitos alimentos de origem vegetal, como frutas, legumes e verduras, grãos integrais não processados, nozes e sementes e alguma proteína magra, como peixe e iogurte, por exemplo.
Tello também recomenda evitar as comidas feitas com açúcar adicionado ou farinhas, como produtos de panificação, cereais matinas e massas, e a reduzir a manteiga, as gorduras animais e as carnes processadas, como o bacon.
“Provavelmente tudo bem com a ingestão ocasional desses alimentos ruins; mas lembre, tudo em moderação. A qualidade importa mais que a quantidade e quando se trata do que comemos, a qualidade realmente importa”, acrescentou a mestra em saúde pública.
As informações são da Harvard Health Publishing (Publicação de Saúde de Harvard, tradução livre) e da Mayo Clinic, organização da área de serviços médicos e pesquisas médico-hospitalares dos Estados Unidos.