O butirato é um ácido graxo de cadeia curta que é produzido quando as bactérias boas do intestino ajudam o organismo a decompor as fibras alimentares no intestino grosso.
Como o organismo não consegue decompor as fibras durante o processo de digestão, cabe às bactérias intestinais executar esse trabalho. Assim, as bactérias saudáveis criam o butirato a partir das fibras solúveis e fermentáveis que apenas elas podem decompor.
Ultimamente, o interesse no butirato e nas bactérias produtoras de butirato aumentou devido às notícias a respeito de pesquisas que sugeriram que os ácidos graxos de cadeia curta podem influenciar a saúde intestinal.
Quais os benefícios do butirato para o intestino?
Pesquisas iniciais apontam que o butirato pode beneficiar a saúde intestinal, no entanto, são necessárias mais investigações para entender como ele age nos seres humanos.
A maioria do que se descobriu até então sobre o butirato vem dos chamados estudos mecanicistas, que embora possam dar uma luz sobre as funções do butirato em um nível celular, contam muito pouco a respeito de como a substância afeta questões reais da saúde humana.
Mas, o que é que esses estudos dizem? Bem, alguns pesquisadores já associaram os níveis baixos de butirato a maior risco de desenvolver uma doença intestinal inflamatória e câncer de cólon (colorretal).
Além disso, uma pesquisa apontou que uma dieta rica em fibras alimentares, que estimulam a produção de butirato, poderia ajudar a diminuir o risco de câncer de cólon.
Alívio de condições gastrointestinais
Acredita-se que o butirato concede um suporte à barreira do intestino, o que impede que bactérias e outros micróbios cheguem ao sangue.
Em um estudo, 66 adultos com síndrome do intestino irritável que tomaram uma dose diária do suplemento de butirato de sódio relataram sentir menos dor abdominal.
Da mesma forma, experimentos clínicos randomizados que examinaram a suplementação de butirato de sódio em combinação com a terapia farmacológica observaram melhorias significativas nos sintomas da síndrome do intestino irritável, redução no risco de ataques de diverticulite e uma diminuição na diarreia do viajante.
Já em outro estudo, nove de 13 pessoas com doença de Crohn reportaram uma melhoria nos sintomas depois de tomar ácido butírico (uma versão quimicamente modificada de butirato) todos os dias ao longo de oito semanas.
Algumas pesquisas também apontaram que os suplementos de butirato podem aumentar os níveis de micróbios geralmente conhecidos como bons ou benéficos: Akkermansia muciniphila, Butyricicoccus e Lachnospiraceae.
Por outro lado
Uma revisão sistemática de oito experimentos controlados randomizados apontou que os enemas (procedimento em que uma substância é introduzida no ânus para lavar o intestino) de butirato não foram efetivos no tratamento da colite ulcerativa.
Apenas um estudo na revisão mostrou uma melhora expressiva na atividade da doença em comparação com o placebo. Assim, os pesquisadores concluíram que “havia evidências insuficientes para garantir a segurança da prática clínica da (suplementação de butirato) por enema anal ou administração oral de cápsula ou comprimido.
Os níveis de butirato
Embora o butirato exerça funções importantes no intestino, são insuficientes as evidências de que uma maior produção da substância tenha ligação com uma saúde intestinal melhor ou que isso possa melhorar uma condição intestinal já existente.
Isso porque níveis mais altos de butirato nem sempre se correlacionam com uma melhor saúde intestinal ou metabólica. Por exemplo, os níveis da substância tendem a ser mais altos em pessoas com obesidade.
Uma revisão sistemática e meta-análise de 2019 apontou que um Índice de Massa Corporal mais alto se correlacionou com níveis mais elevados de butirato nas fezes. Além disso, um estudo observacional indicou que o butirato era 28% maior em participantes obesos.
Já outra revisão sistemática/meta-análise de 15 estudos apontou que pessoas com síndrome do intestino irritável, do tipo com predominância de constipação, tinham níveis significativamente mais baixos de butirato nas fezes.
Porém, a mesma revisão identificou que as pessoas com síndrome do intestino irritável, cujo quadro tinha a diarreia como principal sintoma, apresentaram níveis mais altos de butirato nas fezes.
Já uma revisão sistemática/meta-análise de 12 estudos observacionais de 2019 apontou que pacientes com doença inflamatória intestinal, ou seja, pessoas com colite ulcerativa e doença de Crohn, tinham níveis mais baixos de butirato nas fezes.
Da mesma forma, uma revisão de literatura de 2020 indicou que pacientes com doença inflamatória intestinal tendem a possuir níveis mais baixos de boas bactérias que produzem butirato e outros ácidos graxos de cadeia curta e que crianças com a doença tinham níveis reduzidos de ácidos graxos de cadeia curta nas fezes.
Mas, aqui existe uma certa inconsistência: enquanto alguns dados sugerem que a doença inflamatória intestinal mais severe se correlaciona com o butirato mais elevado, outras pesquisam apontam que pacientes com a doença tinham níveis mais baixos da substância na fezes, porém taxas mais altas no sangue.
Fontes de butirato
A manteiga é considerada uma boa fonte de butirato, mas seria necessário consumir uma quantidade bem maior do que a recomendada para obter a substância. Isso seria um problema, pois a manteiga é rica em gordura saturada e pode aumentar o risco de doença cardiovascular.
Então, no lugar disso, a recomendação é tentar aumentar os níveis de butirato por meio da elevação da ingestão diária de fibras, através de alimentos de origem vegetal. Outras fontes de butirato incluem os prebióticos e os suplementos de fibras.
A lista de alimentos que podem ajudar a promover a produção de butirato inclui:
- Maçã
- Damasco
- Banana
- Kiwi
- Pera
- Framboesa
- Alcachofra
- Aspargo
- Brócolis
- Cenoura
- Grão-de-bico
- Alho
- Batatas
- Nabiças
- Vegetais verdes folhosos
Mas, atenção: para quem não tem o costume de consumir muitas fibras, a orientação é adicionar o nutriente lentamente, ou seja, aos poucos, na dieta e consumir bastante água para manter a hidratação.
Quando alguém consome muitas fibras, porém não bebe bastante água, essa pessoa corre o risco de ter constipação (prisão de ventre).
Suplementos
Alguns suplementos prometem estimular a produção de butirato, no entanto, a recomendação é consultar o médico antes de começar a usar qualquer um desses produtos.
A maioria deles utiliza o ácido butírico ao lado de algum tipo de sal, mas ainda não foi comprovado se eles podem ser benéficos. Há um número limitado de pesquisas sobre os efeitos da suplementação com butirato e os resultados são mistos.
Para a nutricionista e pesquisadora do microbioma intestinal Gail Cresci, que estuda o butirato há mais de uma década, a melhor maneira de obter o butirato é por meio do consumo de frutas e vegetais frescos que contém fibras solúveis fermentáveis.
“Alimento o seu corpo de modo que ele produza butirato para você”, apontou a especialista para a Cleveland Clinic.
O butirato tem efeitos colaterais?
Assim como não está claro exatamente quanto de butirato uma pessoa necessita, também são necessárias mais pesquisas para definir se a substância é segura e em quais níveis ela é segura.
Mas, já existem algumas preocupações em relação ao butirato. Por exemplo, alguns profissionais de saúde sugerem que as gestantes e mulheres que amamentam evitem os suplementos de ácido butírico.
Além disso, o butirato já demonstrou que dispara sintomas em pessoas com inchaço ou um intestino sensível (intolerância alimentar) que precisam consumir níveis mais baixos de fibras.
Adicionalmente, acredita-se que nas pessoas com obesidade que já apresentam níveis elevados de butirato, a suplementação da substância pode não ser uma boa ideia.
Fontes e referências adicionais
- Oral butyrate for mildly to moderately active Crohn’s disease, Aliment Pharmacol Ther. 2005 Nov 1;22(9):789-94.
- Microencapsulated sodium butyrate reduces the frequency of abdominal pain in patients with irritable bowel syndrome, Colorectal Dis. 2013 Feb;15(2):204-9.
- Microencapsulated sodium butyrate administered to patients with diverticulosis decreases incidence of diverticulitis – a prospective randomized study, Int J Colorectal Dis. 2014 Mar;29(3):387-93.
- Sodium butyrate and short chain fatty acids in prevention of travellers’ diarrhoea: a randomized prospective study, Travel Med Infect Dis. 2014 Mar-Apr;12(2):183-8. doi: 10.1016/j.tmaid.2013.08.008. Epub 2013 Sep 6. PMID: 24063909.
- Dietary Factors and Modulation of Bacteria Strains of Akkermansia muciniphila and Faecalibacterium prausnitzii: A Systematic Review. Nutrients. 2019 Jul 11;11(7):1565. doi: 10.3390/nu11071565. PMID: 31336737; PMCID: PMC6683038.
- The effects of sodium butyrate and inulin supplementation on angiotensin signaling pathway via promotion of Akkermansia muciniphila abundance in type 2 diabetes; A randomized, double-blind, placebo-controlled trial, J Cardiovasc Thorac Res. 2017;9(4):183-190.
- Microbiota changes induced by microencapsulated sodium butyrate in patients with inflammatory bowel disease, Neurogastroenterol Motil. 2020 Oct;32(10):e13914.
Fontes e referências adicionais
- Oral butyrate for mildly to moderately active Crohn’s disease, Aliment Pharmacol Ther. 2005 Nov 1;22(9):789-94.
- Microencapsulated sodium butyrate reduces the frequency of abdominal pain in patients with irritable bowel syndrome, Colorectal Dis. 2013 Feb;15(2):204-9.
- Microencapsulated sodium butyrate administered to patients with diverticulosis decreases incidence of diverticulitis – a prospective randomized study, Int J Colorectal Dis. 2014 Mar;29(3):387-93.
- Sodium butyrate and short chain fatty acids in prevention of travellers’ diarrhoea: a randomized prospective study, Travel Med Infect Dis. 2014 Mar-Apr;12(2):183-8. doi: 10.1016/j.tmaid.2013.08.008. Epub 2013 Sep 6. PMID: 24063909.
- Dietary Factors and Modulation of Bacteria Strains of Akkermansia muciniphila and Faecalibacterium prausnitzii: A Systematic Review. Nutrients. 2019 Jul 11;11(7):1565. doi: 10.3390/nu11071565. PMID: 31336737; PMCID: PMC6683038.
- The effects of sodium butyrate and inulin supplementation on angiotensin signaling pathway via promotion of Akkermansia muciniphila abundance in type 2 diabetes; A randomized, double-blind, placebo-controlled trial, J Cardiovasc Thorac Res. 2017;9(4):183-190.
- Microbiota changes induced by microencapsulated sodium butyrate in patients with inflammatory bowel disease, Neurogastroenterol Motil. 2020 Oct;32(10):e13914.